05 março 2007

Mentiras Piedosas de Março

- Diz-se que, com a chegada da Primavera, é mais agradável a miséria.

- Na sequência e para que constem no catálogo, estão já a ser inventariados todos os que, conseguiram para já, resistir ao rigor do Inverno.

- Por sua vez e a antecipar as andorinhas, chegaram já as primeiras moscas do ano. Para a cerimónia da recepção foram abertas as portas do Salão Nobre. Aproveitou-se então para fazer o arejamento e a limpeza do mofo deste bonito recinto.

- Chegou finalmente ao conhecimento público a justificação para as reformas compulsivas de funcionários, acontecidas há tempos. Segundo se fez constar, “eram irrecuperáveis” os personagens que foram reformados antecipadamente. Os sensatos inventariam agora os outros irrecuperáveis que ainda se não reformaram.

- Foi decidido aumentar este ano o orçamento da nossa Assembleia Municipal. A ideia sensata, é a de se começar a proceder ao pagamento do dia, a todos quantos aceitem a oferta de assistirem ás reuniões.

- Aqui se deu já conta, da moda de construir museus. A ideia sensata que se segue vem na sequência e parte do princípio de que se deve conservar também o “património vivo”. Cada pessoa idosa, com a sua experiência de vida, pode ser um museu vivo ambulante, que urge preservar. Assim quem comprove que ainda sabe por exemplo, ver se uma galinha tem ovo, esfolar um cabrito, usar poupa no cabelo, fazer uma barrela, cozer uns milhos, cavar batatas, fazer sabão rosa ou jogar o pião, pode muito bem vir a ser preservado e sustentado como repositório de saberes, que merecem ser pagos para se manterem.

- Isto tudo para recordar que muitos hábitos sensatos se têm perdido irremediavelmente devido a “esta coisa da globalização”. Quem se recorda já de ver alguém a espevitar os dentes com palitos de piaçá! Quem se recorda de ver alguém catar piolhos! Quem se recorda de “ir a campo”e limpar o traseiro com uma folha de figueira! Que criança sabe hoje usar uma fisga ou ir aos ninhos! Desde quando se não usa já ir ao rebusco, fazer caldo de beldroegas, ensebar as botas, usar ceroulas, caçar pintassilgos, usar um chapéu de palha ou um chapéu de orelhas.
Promova-se a preservação das tradições, sobretudo aquelas que nos caracterizavam e com as quais nos identificávamos.

- Contrariamente ao que se supunha o livro de poesia que o Nosso Primeiro tem na mesinha de cabeceira é “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro. Falta agora oferecer-lhe “O Livro do Desassossego”.

- Há toda a probabilidade de ainda se não ter extinguido por aqui a sementeira de trigo “ serôdio”.

- E agora uma pergunta: - São quarenta ou quarenta e uma, as Colectividades do nosso Concelho!?

Hélder Carvalho

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