27 maio 2015

Uma região com história


 A Região Demarcada do Douro estende-se por 250 000 hectares, e a plantação de vinha ocupa cerca de um quinto dessa área. Divide-se em três zonas distintas: a oeste, o Baixo Corgo, no centro o Cima Corgo, a leste o Douro Superior e dela fazem parte 22 municípios. Aí se produzem os vinhos correspondentes às denominações de origem “Porto” e “Douro.

O Alto Douro estende-se pelo vale do rio Douro a partir de Barqueiros, cerca de 100 km a montante do Porto até Barca de Alva e pelos vales dos seus afluentes, entre eles, Tua, Corgo, Torto, Pinhão... Abrigada dos ventos por altas serranias é essencialmente constituída por xistos. É um território agreste, ardente no Verão e frio no Inverno.

 No entanto, apenas 24 mil hectares foi classificado pela UNESCO como Património Mundial, ou seja, um décimo dessa área, que engloba treze concelhos, sendo Carrazeda de Ansiães é um deles.
O território do Alto Douro Vinhateiro integra o vale do Douro citado, que já é considerado Património Mundial nos seus extremos, nomeadamente a zona ribeirinha do Porto, e no lado oposto o Parque Arqueológico do Côa.

A acrescentar à principal cultura da vinha que produz os afamados associa-se o azeite e a amêndoa. À importância da região acresce a fauna deste espaço natural, onde se incluí o Parque Natural Arribes del Duero, em zona espanhola, sobretudo no que diz respeito às grandes aves de rapina, e à cegonha negra. As vertentes escarpadas desta área oferecem a tranquilidade necessária para albergar as inúmeras aves que aqui se reproduzem, como o Grifo, o Abutre do Egipto, símbolo do Parque Natural do Douro Internacional, a Águia-real, a Águia de Bonelli, a Águia Cobreira e a Cegonha-preta. Importantes populações de mamíferos podem também ser encontradas neste parque: o lobo, o corço, o javali, a lontra, a raposa, o coelho selvagem, entre outros.

Sendo os bosques de Carrascos (Quercus rotundifolia) os mais representativos encontramos também os sobreirais (quercus suber), os zimbrais (juniperus oxycedrus) e os carvalhais de carvalho negral (quercus pyrenaica). Proliferam ainda um conjunto de arbustos característicos: as estevas, as giestas, as cornalheiras, as lavandas e as urzes, conjuntamente com salgueiros e amieiros que aparecem junto das linhas de água.

Do alto das serranias, vem o coelho, a perdiz e o javali, tornando esta região um ponto de encontro para quem se dedica à caça. Dos rios e riachos chegam às mesas os barbos, as bogas, os escalos, as enguias, o sável, a tenca e a carpa. Terra do bom comer e bom beber, a região pode oferecer a quem chega um magnífico cardápio: cabrito assado, pratos de caça, presunto, alheiras, trutas com presunto, carne assada de porco (a famosa marrã), carnes de porco fumado; e doçaria variada: pão-de-ló, celestes, chila no forno, rosquilhas, bolinhos de amor.

As fortes tradições de recreação têm visibilidade nas inúmeras e dispersas romarias, nas festas religiosas anuais (Natal, Janeiras, Reis, Páscoa...) e nos trabalhos agrícolas principalmente as vindimas.

A paisagem do Douro é toda ela de enorme atrativo. Das cercanias serranas às margens do rio, da beleza da giesta selvagem aos socalcos da videira domesticada, passando pelas amendoeiras e cerejeiras em flor desdobra-se esta paisagem singular em cambiantes múltiplas.


O Alto Douro é um exemplo significativo da construção de uma paisagem a que concorreram várias civilizações e povos e em que o vinho foi sempre traço de união. A história da cultura do vinho no Alto Douro é muito antiga e reporta à pré-história como o atesta a descoberta de vestígios de grainhas de “vitis vinifera” na estação arqueológica do Buraco da Pala, no regato das Bouças, perto de Mirandela e datadas do século XX a.C. Este “intercâmbio de influências culturais diversas, continuamente sobrepostas, configurou um espaço de sincretismo cultural quer no imaginário coletivo tradicional, quer nos vestígios arqueológicos”, como se dizia no texto da apresentação da candidatura a património mundial e que merece um próximo olhar com revelações porventura surpreendentes.


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