A Região
Demarcada do Douro estende-se por 250 000 hectares, e a plantação de vinha
ocupa cerca de um quinto dessa área. Divide-se em três zonas distintas: a
oeste, o Baixo Corgo, no centro o Cima Corgo, a leste o Douro Superior e dela
fazem parte 22 municípios. Aí se produzem os vinhos correspondentes às
denominações de origem “Porto” e “Douro.
O Alto Douro estende-se pelo vale do rio Douro a partir de
Barqueiros, cerca de 100 km a montante do Porto até Barca de Alva e pelos vales
dos seus afluentes, entre eles, Tua, Corgo, Torto, Pinhão... Abrigada dos
ventos por altas serranias é essencialmente constituída por xistos. É um
território agreste, ardente no Verão e frio no Inverno.
No entanto, apenas 24
mil hectares foi classificado pela UNESCO como Património Mundial, ou seja, um
décimo dessa área, que engloba treze concelhos, sendo Carrazeda de Ansiães é um
deles.
O território do Alto Douro Vinhateiro integra o vale do
Douro citado, que já é considerado Património Mundial nos seus extremos,
nomeadamente a zona ribeirinha do Porto, e no lado oposto o Parque Arqueológico
do Côa.
A acrescentar à principal cultura da vinha que produz os
afamados associa-se o azeite e a amêndoa. À importância da região acresce a
fauna deste espaço natural, onde se incluí o Parque Natural Arribes del Duero,
em zona espanhola, sobretudo no que diz respeito às grandes aves de rapina, e à
cegonha negra. As vertentes escarpadas desta área oferecem a tranquilidade
necessária para albergar as inúmeras aves que aqui se reproduzem, como o Grifo,
o Abutre do Egipto, símbolo do Parque Natural do Douro Internacional, a
Águia-real, a Águia de Bonelli, a Águia Cobreira e a Cegonha-preta. Importantes
populações de mamíferos podem também ser encontradas neste parque: o lobo, o
corço, o javali, a lontra, a raposa, o coelho selvagem, entre outros.
Sendo os bosques de Carrascos (Quercus rotundifolia) os mais
representativos encontramos também os sobreirais (quercus suber), os zimbrais
(juniperus oxycedrus) e os carvalhais de carvalho negral (quercus pyrenaica).
Proliferam ainda um conjunto de arbustos característicos: as estevas, as
giestas, as cornalheiras, as lavandas e as urzes, conjuntamente com salgueiros
e amieiros que aparecem junto das linhas de água.
Do alto das serranias, vem o coelho, a perdiz e o javali,
tornando esta região um ponto de encontro para quem se dedica à caça. Dos rios
e riachos chegam às mesas os barbos, as bogas, os escalos, as enguias, o sável,
a tenca e a carpa. Terra do bom comer e bom beber, a região pode oferecer a
quem chega um magnífico cardápio: cabrito assado, pratos de caça, presunto,
alheiras, trutas com presunto, carne assada de porco (a famosa marrã), carnes
de porco fumado; e doçaria variada: pão-de-ló, celestes, chila no forno,
rosquilhas, bolinhos de amor.
As fortes tradições de recreação têm visibilidade nas
inúmeras e dispersas romarias, nas festas religiosas anuais (Natal, Janeiras,
Reis, Páscoa...) e nos trabalhos agrícolas principalmente as vindimas.
A paisagem do Douro é toda ela de enorme atrativo. Das
cercanias serranas às margens do rio, da beleza da giesta selvagem aos socalcos
da videira domesticada, passando pelas amendoeiras e cerejeiras em flor
desdobra-se esta paisagem singular em cambiantes múltiplas.
O Alto Douro é um exemplo significativo da construção de uma
paisagem a que concorreram várias civilizações e povos e em que o vinho foi
sempre traço de união. A história da cultura do vinho no Alto Douro é muito
antiga e reporta à pré-história como o atesta a descoberta de vestígios de
grainhas de “vitis vinifera” na estação arqueológica do Buraco da Pala, no
regato das Bouças, perto de Mirandela e datadas do século XX a.C. Este
“intercâmbio de influências culturais diversas, continuamente sobrepostas,
configurou um espaço de sincretismo cultural quer no imaginário coletivo
tradicional, quer nos vestígios arqueológicos”, como se dizia no texto da
apresentação da candidatura a património mundial e que merece um próximo olhar
com revelações porventura surpreendentes.
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