São largos os vestígios da
ocupação romana da região e da correspondente exploração vinícola. “O vale do
Douro constitui um corredor de povos e culturas, que, pelo menos desde a
período da romanização desenvolveram a cultura da vinha”. As descobertas
arqueológicas têm revelado fragmentos de cerâmicos associados ao armazenamento
de vinho, inúmeras lagaretas cavadas na rocha (ver gravura 3), vestígios de
lagares e mesmo de adegas que reportam aos séc. III e IV que atestam a
viticultura e a vinificação da época romana.
Para
uma compreensão de toda a dimensão duriense é necessário ter em conta esta
acumulação de culturas e influências diversas.
As sucessivas conquistas aos
mouros e a consolidação do território a que viria a chamar-se Condado
Portucalense, propiciou uma atenção dos reis de Leão na concessão de
privilégios às populações da região do Douro que se concretizou na necessidade
da concessão de um foral a um conjunto de povoados da bacia norte e sul do
Douro: S. João da Pesqueira, Ansiães, Linhares, Paredes e Penela; pois o vale
pressupunha fragilidade às investidas mouriscas e a distribuição de privilégios
garantiria a fidelidade das populações e evitaria que se unissem ao inimigo.
As primeiras cartas forenses do
rei Fernando Magno (séc. XI) doadas a Ansiães, S. João da Pesqueira, Penela,
Paredes e Linhares são os documentos mais antigos referentes a territórios que
hoje constituem o nosso país, estabelecem como imposto de “parata regis” uma
paga em géneros para as despesas do palácio “duos panes uno de tritico et alio
de centeno et uno almude de vino et alium de cevada” (dois pães de trigo e
outro de centeio e um almude de vinho e outro de cevada) por cada vizinho
(família na mesma habitação).
Em finais da idade Média
intensificam-se as trocas comerciais, acelera-se o povoamento e desenvolve-se a
agricultura. Nascem e crescem vilas e cidades principalmente as muralhadas
(Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa, Vila Flor,
Ansiães, Freixo de Numão, Lamego, etc.) A instalação de diversas ordens
religiosas predominantemente os monges de Cister dão grande contributo à
produção, melhoria de qualidade do vinho e comércio que se faz exclusivamente
pelo rio Douro até á foz em Gaia e no Porto. São exemplos desta atividade
vitivinícola os mosteiros de Salzedas, S. João de Tarouca e S. Pedro das
Águias. A este período de expansão do vinhedo não é alheio o movimento de
senhorialização a que se assiste no séc. XII e XIII, que consiste, grosso modo,
no poder dos nobres sobre extensos territórios,.
Em
1254 o conflito entre o rei D. Afonso III e o bispo do Porto D. Julião por via
do desembarque das mercadorias dos barcos que desciam o Douro termina na
sentença régia que determina que dois terços dos barcos descarreguem no Porto e
um terço em Gaia.
Em 1502, D. Manuel manda demolir
os canais de pesca no rio Douro para facilitar a navegação desde a Pesqueira
até ao Porto. A navegação a montante do rio é completamente impossível devido
ao Cachão da Valeira. A produção de vinha a montante deste rio revela-se muito
problemática e é incipiente devido a este facto e à dificuldade do transporte.
Em 1552, o cronista Rui Fernandes
escrevia que os vinhos de Lamego eram “os mais excelentes vinhos e de mais dura
que no reino se podem achar, e mais cheirantes, porque há vinhos de 4, 5, 6
anos e de quantos mais anos é, tanto mais excelente, e mais cheiroso.”
Ainda no séc. XVI, João de Barros
refere na sua geografia de entre Douro e Minho e Trás-os-Montes os vinhos de
qualidade produzidos nas terras próximas do Douro e em Pinhão.
A partir do séc. XVII, o cultivo
da vinha e a produção do vinho tem um grande incremento com o estabelecimento
no Porto de diversos negociantes ingleses, flamengos e hamburgueses para daí
exportarem vinhos do Douro. Em meados deste século negociantes e produtores de
vinhos do Douro manifestam-se contra a Câmara do Porto por esta pretender
aumentar os impostos sobre os vinhos que entravam na cidade.
No último quartel do século XVII surgem dois pormenores que
hão de marcar etimologicamente e em termos de qualidade o néctar das uvas do
Douro. Em 1675 surge, pela primeira vez, a expressão “vinho do porto” no
discurso sobre a introdução das artes no reino, da autoria de Duarte Ribeiro de
Macedo. Em 1678 um inglês refere a junção de aguardente aos vinhos de embarque.
Esta serviria para garantir a não deterioração nas grandes viagens marítimas e
terrestres a que era submetido.
A celebração do tratado de Methwen em 1703 e a diminuição
dos impostos sobre os vinhos portugueses contribui para um grande incremento
das exportações.
No século XVIII, a partir da
década de 30 e até à década de 50 assiste-se a fraudes generalizadas que põem
em causa a qualidade do produto e a sua comercialização o que leva alguns
exportadores e produtores entre os quais o Dr. Beleza de Andrade, D. Bartolomeu
Pancorbo e Frei João de Mansilha a iniciarem um processo que culmina na criação
da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro que é instituída por
Alvará Régio de 10 de Setembro de 1756. Como diz António Barreto é este o “ato
fundador” da atual região.
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