31 março 2008



Carta aberta (também) aos Autarcas do Vale do Tua

Silencial, 29 de Março de 2008


Caro amigo,

se desde há muito acredito que a construção de uma barragem na foz do rio Tua pode contribuir para aliviar as dores que nos doem - a nós, àqueles que por cá se vão arrastando - na passada terça-feira consolidei a minha opinião. Passo a explicar:
Depois de haver calcorreado, a sandes e água, o caminho-de-ferro do Tua, tenho vindo a subir e descer as duas margens do vale, aldeias incluídas, e na terça-feira feira passada – após horas, escorrega aqui, escorrega além, pela meia encosta do vale do rio Tua – apeteceu-me acabar o dia com uma cerveja na aldeia mais próxima: Brunheda, no concelho de Carrazeda de Ansiães. Pergunto à primeira pessoa que vejo – uma mulher de rosto apaziguado com a vida – se há um café na aldeia.
- Já houve três, oiça bem, três, e agora não há nenhum – respondeu-me, aquela mulher, como quem pede desculpa por não haver um café na aldeia.

Foi a falta de trabalho, meu amigo, que apagou os cafés daquela aldeia. De tantas aldeias das duas margens do rio Tua! Terra onde não há trabalho é abocanhada pelo silêncio. Pelo silêncio que abocanha e apaga. E tal não acontece por culpa do Presidente da Câmara Municipal de Alijó ou do Presidente da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães. Falo destes porque os conheço e, apesar de militarem em partidos diferentes, sei que querem as “suas” aldeias acesas e não apagadas. As Câmaras Municipais, e respectivos executivos, são o que, por cá, nos vai amornando o corpo e alma. São o governo que temos para nosso governo. Gostemos ou não dos respectivos camaristas, são nossos vizinhos. Não vivem lá longe, na grande cidade.

A culpa do apagamento dos cafés das nossas aldeias é de todos. Também nossa. Sem dúvida. Mas – é só a minha opinião – a culpa maior é daqueles que tudo fazem para que tudo continue como está. São eles que, lá da grande cidade onde vivem, esperneiam,
- A barragem de Foz Tua afoga os passarinhos, coitadinhos!...
e esperneiam porque, no entender deles, construir uma barragem, ou uma estrada, no interior do país significa uma ponte, ou um aeroporto, a menos à porta de suas casas. Suas deles, ecologistas escatológicos, que nos tratam como se nós não fossemos adultos, capazes de cuidar da nossa vida.

Os autarcas dos concelhos de Alijó, Murça, Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães vão reunir no próximo dia oito de Abril. Torço para que sejam capazes de, como vizinhos, defender os interesses da vizinhança. Eles, os autarcas, são a voz. A nossa voz. A voz dos vizinhos. E somos já tão poucos! Que exijam da EDP contrapartidas à construção da barragem. Sim, senhor. Contrapartidas e não esmolas. Que a EDP, e o país, paguem o preço justo pela exploração dos nossos recursos.

Deixo-lhes, – atrevimento de um vizinho que escreve cartas abertas – senhores presidentes de câmara, um pedido: entusiasmem a EDP a construir a barragem à cota máxima, e entusiasmem-na, mais ainda, a construir outra barragem a montante daquela de modo a que, o Vale do Rio Tua venha a ser o Vale da Água, e, como água é vida, o VALE DA VIDA.

Abraço (também para os autarcas que vão cuidar do nosso futuro a oito de Abril) do
Jorge Laiginhas



no DT

11 comentários:

Daniel Conde disse...

E semelhante mediocridade ficaria bem respondida apenas com a seguinte sigla: LOL.
Carrazeda já tem a Barragem da Valeira, mas volto a perguntar, ela veio trazer mais cafés (já que o desenvolvimento em Trás-os-Montes se parece medir por número de cafés por habitante)? A capacidade governativa, que digo, acalentadora!, de alguns autarcas é realmente de se lhe tirar o chapéu: quantos projectos que trariam mais postos de trabalho, que digo, cafés, a CM de Carrazeda já recusou? Que dizer da conivência de Vila Flor que ainda não lhe ouvi nem ai nem ui?

Torço para que Mirandela ponha tino nesta cambada de Judas que nem pra si próprios sabem delapidar e estorquir uma terra e um povo que estupida e repetidamente os elegem.

"A barragem do Tua afoga os passarinhos"??? Mas que grande... "bacoquice", que digo, mota-andradismo! Os passarinhos voam Laiginhas, não te preocupes. Mais rasteira é no entanto a tua visão das coisas: sabes o que significa PATRIMÓNIO da HUMANIDADE? Não pois não? Não te estranharia pois ver um Parque Eólico ao lado do Palácio da Pena, ou painéis foto-voltaicos nos telhados do Mosteiro da Batalha, de certeza - e o vento e o sol também são vida afinal!
E que dizer afinal de uma obra de ferro tão antiga quanto a Torre Eiffel, que desde então não serviu o povo como ornamento, mas como meio de transporte? Dezenas de milhares de turistas e o direito à mobilidade não são voos de passarinhos meu caro.

Pergunte-se às gentes do Castelo de Bode quanto ganharam com a barragem: eu digo, menos cafés. Quanto ganhou Foz Côa com a não construção da barragem: um Património da Humanidade, que só não o é ainda em pleno porque a cultura neste país se pauta por inteligências de passarinho; que digo, estou a insultar os bichinhos!

A minha terra no seu auge teve 2 cafés e uma mercearia. Tudo se foi, e curiosamente depois do final do comboio em Chaves e em Bragança. Cafés com a barragem? Sim, sim, durante a construção. Depois disso, falência. Mas é que depois a barragem, sem eclusa, vai deixar os turistas no Douro, e os poucos cafés que ainda resistem, bem... Será o canto do cisne, mais um passarinho ameaçado.

Abaixo os corvos, viva os passarinhos desafogados!

http://www.alinhadotua.com
http://www.linhadotua.net
http://www.petitiononline.com/tuaviva/petition.html

Anónimo disse...

Quem é este Laiginhas que agora descobriu a pólvora, molhada pela barragem?

Anónimo disse...

Pasmo indignada com o comentário do Senhor Laiginhas...
Encalhou em Brunheda e logo definhou por não haver cafés ou tabernas.
Se tinha ficado por Pombal, tomando banho em S. Lourenço numa água termal fantástica, (que a albufeira há-de matar) heveria de, se calhar, ficar "descontente" por ali haver dois cafés, um hotel rural, a maior Associação Cultural do concelho, quiçá do Distrito de Bragança,
Onde ainda há um sapateiro para remendar, se for caso disso, os seus sapatos cansados de tanto calcorrear as margens do Rio Tua, esse curso de vida selvagem condenado à morte por "afogamento".
Com a barragem vai haver mais cafés, designadamente em Brunheda, para seu contentamento!
Os amigos do Senhor Laiginhas que vão reunir em oito de Abril não precisarão dos seus conselhos, porque para fazer asneiras nem precisam deles, NATURALMENTE!

Anónimo disse...

Bem recentemente tive oportunidade de realizar uma viagem pela linha do Tua com cerca de 50 crianças, às quais queria mostrar a obra de arte que a natureza ali deixou, sem qualquer dúvida Património de toda a Humanidade. Mas o entusiasmo inicial cedo desapareceu! A carruagem com lugares insuficientes para todos os que iriam disfrutar da viagem, apesar de com bastante antecedencia ter comunicado na estação o número total de pessoas que iriam fazer a percurso, não permitiu que disfrutassemos da viagem. Nem nós, nem a dezena de turistas que também levavam o mesmo propósito que nós.
Depois a viagem própriamente dita...
É facil chamar a atenção para a beleza que se vê quando se olha para o lado direito. É dificil explicar às crianças o estado deplorável das estações e apeadeiros que não têm neste momento utilidade maior que servir de lixeira e parede de graffiti...

Se já antes tinha esta opinião, agora mais a consolido. Defenda-se o Património Natural que é único, mas não insistam em defender uma linha que não presta serviços uteis à população, que não é condicente com a beleza que a rodeia e para a qual não se vislumbram melhorias...

LA

Anónimo disse...

Energia: Governo adjudicou Foz Tua à EDP recebendo como contrapartida 53,1 ME
01 de Abril de 2008, 13:32

Lisboa, 01 Abr (Lusa) - A EDP anunciou hoje que o Governo lhe adjudicou provisoriamente a exploração da barragem de Foz Tua por um prazo de 75 anos, a partir da entrada em funcionamento, pela qual pagará uma contrapartida de 53,1 milhões de euros.

A EDP deverá agora proceder ao pagamento ao Instituto da Água, no prazo de 5 dias úteis, da contrapartida prevista pela atribuição da aludida concessão, a qual ascende a um montante de 53,1 milhões de euros, refere a EDP em comunicado enviado à CMVM.

Este montante assenta no pressuposto, referido no programa de concurso, de que a cota de exploração da respectiva albufeira se situará nos 160 metros.

O valor definitivo da contrapartida a pagar será definido depois de estabelecida a cota final, o que só acontecerá depois de concluído o processo de avaliação de impacto ambiental.

A EDP apresentou uma proposta para uma cota de exploração de 195 metros, o que implicará uma capacidade instalada de 324 megawatts (MW), e um investimento estimado de cerca de 340 milhões de euros.

A construção da barragem deve iniciar-se em Setembro de 2009, tendo uma duração prevista de quatro anos.

O presidente-executivo da EDP, António Mexia, afirmou hoje, a propósito da submersão da linha ferroviária de Foz Tua, que a empresa apresentou alternativas claras para todas as partes da linha que não podem ser preservadas.

"No projecto, tentar-se-á dentro desta maximização daquilo que é a diferença entre o efeito positivo e o efeito negativo preservar o máximo da linha", afirmou hoje aos jornalistas após o lançamento do primeiro concurso público para a construção de quatro novas barragens.

"O que está aqui em causa é que vamos maximizar a diferença entre o efeito positivo e o efeito negativo com alternativas claras em todas as partes da linha que não poderem ser preservadas", acrescentou.

Antonio Mexia afirmou que a EDP está determinada "em ter a melhor combinação entre desenvolvimento regional e aproveitamento hidroeléctrico e isso é algo que vai ser trabalhado entre a EDP, o Ministério do Ambiente, as Câmaras e as populações locais".

ACF.

Lusa/Fim

Anónimo disse...

Exmo Sr. Jorge Laiginhas,

Só lhe queria dizer o seguinte: o senhor percebe tanto de desenvolvimento como eu de um lagar de azeite.

Com os melhores cumprimentos.
Paulo Fonseca

Anónimo disse...

E caso não saibam, ficam a saber: há cerca de duas semanas ficaram apeadas na estaçao do Tua 24 pessoas porque não cabiam todas na automotora para Mirandela, onde íam simplesmente passear...
E ficaram apeadas porque????

Porque a CP, negando-se à sua missão, proibiu expressamente que os comboios no TUA circulassem com duas automotoras!!!!! INCRÍVEL, já nem disfarçam a vontade de querer acabar com a linha, apesar da procura....

Ainda este sábado: outra excursão em comboio de aluguer: 40 pessoas vieram de Mirandela para o Tua, vieram do Minho para o Douro de propósito... gastar dinheiro na região....!

O sr Laiginhas, cuja escrita conheço há algum tempo, não parece ser uma pessoa muito viajada mas espero que tenha possibilidade e predisposição (também mental) para ir mais além e mais acima de Brunheda (bonito lugar, aliás).
Recomendo-lhe que vá conhecer as barragens do Douro e me diga, por obséquio, onde estão os 150 postos de trabalhos que geraram e se não estão quase todos na Régua e, maioritariamente, no Porto...

Amen

Anónimo disse...

A propósito do Senhor Laiginhas: - Há pessoas que só vêm ao mundo para chatear os outros, ponto parágrafo.

Anónimo disse...

este foi dos primeiros a receber em Alijó da edp

Anónimo disse...

de facto a "linha" estáão bem aproveitada como o projecto de são lourenço..... é realmente uma visita para os turistas de apenas UMA VEZ.... pois devem de ficar muito entusiasmados para voltar...... enfim.... que venha a barragem. (ponto FINAL) e não adianta bater o pé....

cumprimentos

Gilberto Ferraz

mario carvalho disse...

vale a pena ir a



http://pensar-carrazeda.blogspot.com/2008/04/lixeiras-de-volta-ao-alto-douro.html

e compreender porque é que o sr laginhas e a autarquia de Alijó querem a barragem.... a Brunheda não tem tascos mas Alijó tem porcos e lixo e a barragem é uma forma de disfarçarem