Estar em casa ao lado da esposa amada, não é dificil dirão. Pois é chato opinam outros, pois é certo e sabido que com a nossa mulher estamos todos os dias, é sempre a mesma coisa.
É verdade que sim. Mas repara a diferença está no paladar tu sabes o que queres e como queres e o que te espera e o contrário não acontece.
Estar em casa ao lume que na lareira vai consumindo a lenha. ler um bom livro ou na pior das hipóteses ouvir a televisão a anunciar as desgraças do país e do mundo. Que em Italia as coisas pioraram e agora já são 70 mil os onfectados, que os mortos são mais de 6 mil e em Espanha aqui tão perto as coisas não estão melhores.
Que podemos fazer? Falar para dentro, pensar nas coisas boas e gerir o silêncio, saber ouvir a voz interior que nos leva para lá sda imaginação. Ai se por exemplo ao olhar para o micro-ondas por instantes est~´as a ver a porta a abrir e dentro do aparelho sai uma deliciosa francesinha com molho picante, á espera da mini que está além no frigorifico,. E como tudo isto ocorre em 25 de Março de 2020, quem sabe o que nos espera. Manuel Barreiras Pinto
25 março 2020
08 novembro 2017
Longa se torna a espera
22 de Agosto de 2008. Um novo acidente ocorria na Linha do Tua nesse ano, a pouca distância da estação da Brunheda. Um passageiro perdeu a vida, vários ficaram feridos, e o troço Tua – Cachão, 42 dos 58 km em exploração, eram encerrados temporariamente. O problema é que os encerramentos temporários fora da dita “rede principal” dos caminhos-de-ferro portugueses só querem dizer uma coisa: encerramento sine die, com fortíssimas probabilidades – para não dizer totais – de encerramento definitivo.
Da tutela, então chefiada por Mário Lino e Ana Paula Vitorino, vinha a garantia de que a Linha do Tua não era para fechar. Corriam as primeiras páginas da história da construção da barragem do Tua, e, avançasse a obra ou não, a exploração ferroviária seria para se manter até ao início dos trabalhos o impedirem no terreno. A escolha do troço a encerrar teve apenas a ver com o contrato inicial de exploração do Metro de Mirandela, que em meados da década de 1990 previa a circulação entre o Cachão e Carvalhais; a via, essa, tão garantida estava a montante como a jusante, atestando uma arbitrariedade pungente nesta decisão.
Os anos passaram, os Governos igualmente. Veio a barragem, e com ela o Plano de Mobilidade para o Vale do Tua, compensação devida pela inundação do vale pelo paredão. Nele, a manutenção da exploração comercial em todo o troço circulável restante – da Brunheda a Carvalhais – era deixada totalmente em aberto: ou comboios regulares, ou comboios a pedido (um absurdo de proporções equivalentes ao estudo de procura feito no RECAPE da barragem do Tua), ou autocarros de substituição (com todo o miserável fracasso que proporcionaram nesta mesma linha durante 5 penosos anos na década de 1990, e desde 2008 a esta data), ou pura e simplesmente nada.
Veio o concurso para concessão de exploração do Plano de Mobilidade, e apenas a Douro Azul se candidatou. Esta empresa, até agora ligada de forma indelével ao turismo fluvial no Douro, foi responsável pela recuperação da via-férrea desde a Brunheda ao Cachão, onde se não era o mato a torná-la intransitável, era a própria ausência de carris e travessas furtadas a fazer esse serviço – uma cortesia da gestão danosa da extinta REFER, que para além da balastragem dos últimos quilómetros da Linha do Tua ainda assentes em lama em pleno século XXI, não trouxe mais nada a esta via trasmontana, que não o emparedamento de estações, retirada de linhas, ignorar de estudos de prevenção e segurança, demolição de um apeadeiro, diminuição da velocidade de circulação a mínimos históricos, e atrasos de meses na prossecução de pequenas obras de manutenção.
Desde o início de 2017, que a data de reabertura do troço Brunheda – Cachão tem vindo a ser sucessivamente adiada, estando agora pura e simplesmente em suspenso. Se da indesculpável falta de zelo e diligência dos vários responsáveis ligados às autarquias e à Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, que pouco ou nada fizeram ao longo dos últimos 5 anos para acelerar esta reabertura, pouco há a acrescentar, existe no entanto muito a dizer sobre a actuação recente da Infraestruturas de Portugal e do Ministério do Planeamento e Infraestruturas.
Quando confrontados com um pedido de informação por escrito sobre a demora na reabertura deste troço, que alegadamente se deve apenas a uma recusa da Infraestruturas de Portugal em assumir os custos de manutenção da infra-estrutura da via – os da super estrutura ficarão a 2 cargo da Douro Azul, continuando contudo a Linha do Tua a pertencer ao Estado – apenas se consegue como resposta um silêncio incómodo, empurrado para a frente. Porquê, quanto mais tempo, que condições propõem? “Espere”; “Trata-se de uma decisão política?”, contraponho; “Espere”.
Farto de esperar há 9, sublinho, 9 anos, estou eu e todos os utentes e habitantes próximos da Linha do Tua, com a agravante deste pedido interminável de espera me ter custado, a mim e a outros 3 funcionários do Metro de Mirandela, o próprio emprego. Aparentemente, pedir aos cidadãos que esperem uma década para a reposição de um serviço público interrompido por manifesta incompetência do próprio Estado, é algo aceitável para os parâmetros da Infraestruturas de Portugal e do Ministério do Planeamento e Infraestruturas.
Para os Xutos e Pontapés, a espera tornava-se longa, para a galera que cruzava o rio; no Tua, longa se torna a espera para uma simples resposta. “Espere”!
Daniel Conde Vila Real, 6 de Novembro de 2017
Não escrevo segundo o novo Acordo Ortográfico
Longa se torna a espera
22 de Agosto de 2008. Um novo acidente ocorria na Linha do Tua nesse ano, a pouca distância da estação da Brunheda. Um passageiro perdeu a vida, vários ficaram feridos, e o troço Tua – Cachão, 42 dos 58 km em exploração, eram encerrados temporariamente. O problema é que os encerramentos temporários fora da dita “rede principal” dos caminhos-de-ferro portugueses só querem dizer uma coisa: encerramento sine die, com fortíssimas probabilidades – para não dizer totais – de encerramento definitivo.
Da tutela, então chefiada por Mário Lino e Ana Paula Vitorino, vinha a garantia de que a Linha do Tua não era para fechar. Corriam as primeiras páginas da história da construção da barragem do Tua, e, avançasse a obra ou não, a exploração ferroviária seria para se manter até ao início dos trabalhos o impedirem no terreno. A escolha do troço a encerrar teve apenas a ver com o contrato inicial de exploração do Metro de Mirandela, que em meados da década de 1990 previa a circulação entre o Cachão e Carvalhais; a via, essa, tão garantida estava a montante como a jusante, atestando uma arbitrariedade pungente nesta decisão.
Os anos passaram, os Governos igualmente. Veio a barragem, e com ela o Plano de Mobilidade para o Vale do Tua, compensação devida pela inundação do vale pelo paredão. Nele, a manutenção da exploração comercial em todo o troço circulável restante – da Brunheda a Carvalhais – era deixada totalmente em aberto: ou comboios regulares, ou comboios a pedido (um absurdo de proporções equivalentes ao estudo de procura feito no RECAPE da barragem do Tua), ou autocarros de substituição (com todo o miserável fracasso que proporcionaram nesta mesma linha durante 5 penosos anos na década de 1990, e desde 2008 a esta data), ou pura e simplesmente nada.
Veio o concurso para concessão de exploração do Plano de Mobilidade, e apenas a Douro Azul se candidatou. Esta empresa, até agora ligada de forma indelével ao turismo fluvial no Douro, foi responsável pela recuperação da via-férrea desde a Brunheda ao Cachão, onde se não era o mato a torná-la intransitável, era a própria ausência de carris e travessas furtadas a fazer esse serviço – uma cortesia da gestão danosa da extinta REFER, que para além da balastragem dos últimos quilómetros da Linha do Tua ainda assentes em lama em pleno século XXI, não trouxe mais nada a esta via trasmontana, que não o emparedamento de estações, retirada de linhas, ignorar de estudos de prevenção e segurança, demolição de um apeadeiro, diminuição da velocidade de circulação a mínimos históricos, e atrasos de meses na prossecução de pequenas obras de manutenção.
Desde o início de 2017, que a data de reabertura do troço Brunheda – Cachão tem vindo a ser sucessivamente adiada, estando agora pura e simplesmente em suspenso. Se da indesculpável falta de zelo e diligência dos vários responsáveis ligados às autarquias e à Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, que pouco ou nada fizeram ao longo dos últimos 5 anos para acelerar esta reabertura, pouco há a acrescentar, existe no entanto muito a dizer sobre a actuação recente da Infraestruturas de Portugal e do Ministério do Planeamento e Infraestruturas.
Quando confrontados com um pedido de informação por escrito sobre a demora na reabertura deste troço, que alegadamente se deve apenas a uma recusa da Infraestruturas de Portugal em assumir os custos de manutenção da infra-estrutura da via – os da super estrutura ficarão a 2 cargo da Douro Azul, continuando contudo a Linha do Tua a pertencer ao Estado – apenas se consegue como resposta um silêncio incómodo, empurrado para a frente. Porquê, quanto mais tempo, que condições propõem? “Espere”; “Trata-se de uma decisão política?”, contraponho; “Espere”.
Farto de esperar há 9, sublinho, 9 anos, estou eu e todos os utentes e habitantes próximos da Linha do Tua, com a agravante deste pedido interminável de espera me ter custado, a mim e a outros 3 funcionários do Metro de Mirandela, o próprio emprego. Aparentemente, pedir aos cidadãos que esperem uma década para a reposição de um serviço público interrompido por manifesta incompetência do próprio Estado, é algo aceitável para os parâmetros da Infraestruturas de Portugal e do Ministério do Planeamento e Infraestruturas.
Para os Xutos e Pontapés, a espera tornava-se longa, para a galera que cruzava o rio; no Tua, longa se torna a espera para uma simples resposta. “Espere”!
Daniel Conde Vila Real, 6 de Novembro de 2017
Não escrevo segundo o novo Acordo Ortográfico
24 setembro 2017
Sobre o uso de pepino para consumo (continuação)
É um encanto apreciar com distanciamento as campanhas
eleitorais, na nossa terrinha. Apontado o candidato, os promotores planeiam o “marketing”
para campanha. Postar em placards a fotografia dos candidatos, em lugares
estratégicos é imperdível. Os figurantes exibem-se garbosos no retrato,
devidamente identificados e enquadrados, com um refrão vernacular a dar o
toque. Depois no concreto, o importante passa a ser agir em conformidade, com o
objectivo na vitória. Fantasias não faltam mas as promessas é que contam para
arregimentar a maralha, para o trabalho que há para fazer. Dá a ideia de que
alguns já terão nascido apoiantes da causa. Esses estão garantidos. Outros mais
videirinhos aproximam-se pelo olfacto. A aderência à causa manifesta-se pelo
cheiro que a brisa transporta na altura. Vestem nova camisa e outra virá se por
azar perderem a refrega de momento e ficarem adiados os objectivos que
acalentam. Estes mostram-se a cada tentativa, os mais devotos já que as
comendas e juras se combinam com antecedência. Questionar a ética e coerência
não se faz porque poucos conhecem esses valores. Sobram ainda os envergonhados,
são geralmente os que trabalham por conta do patrão, que por azar anda envolvido.
Estes marcam o passo pela necessidade de garantir por algum tempo, pelo menos a
sopa do dia-a-dia. Fazem chorar com pena. Mas a vida é assim.
O teste de arregimentar a claque
é considerado importante e antecipa a visão que se tenha para demonstrar capacidade
e competência para depois “fatiar o bolo”, já que todos querer comer. É
tradição muitos funcionários não resistirem à pressão e ao direito de meter
férias em campanha. A lei poderia permitir o descalabro administrativo nesta
altura mas, na realidade nem se nota. Afinal exigem-lhes que verguem a mola uns
dias para voltarem novamente ao céu.
Vem então a fase de campanha propriamente dita.
É unânime a ideia de que é decisivo apostar nos velhos que restam, para os
levar ao colo e, ajudar a votar no quadrado certo. Logo ali se organiza o grupo
dos “taxistas” que na hora certa saberão fazer o transporte dos tristes que já
não conseguem ir pelo pé deles. Na paródia da campanha a turba é posta como que
a perseguir a cenoura que é empunhada pelos “líderes da manada”. Juntam-se
então muitos automóveis a vozeirar. Serão depois contabilizados para que
conste. Mais do que o que dizem as sondagens é um bom prognóstico ter a maior
caravana automóvel da campanha. Para os comícios escolhe-se um reportório
corriqueiro, até porque poucos há atentos e com bom ouvido para o que se irá
repetir “ad nauseam”.
O que importa é mostrar os
candidatos ao povo. Com bom tempo é no largo do povoado que este se junta para
receber beijinhos e ouvir quem tem direito à palavra. Nos intervalos, para dar
tempo ao palestrante batem-se palmas, canta-se o estribilho e desfraldam-se as
bandeiras. No termo oferecem-se aventais e camisolas, cantam-se “slogans” que
rimem para espevitar a festa e dar a certeza firme da garantia na vitória. Com
jeito e para matar a malvada mastigam-se umas febras com borneiro, bem regadas
com tinto e louva-se o patrocinador.
A festa só acaba na sexta-feira.
Há quem aproveite especialmente a altura para conhecer aquele que será o eleito
e que nunca mais verá por perto. Com sorte tirará uma “selfie” para recordação.
O resultado vem depois pela
calada da noite e costuma prolongá-la.
Francisco D´Aragão
14 setembro 2017
Sobre o cultivo do pepino transgénico (continuação)
Frequentemente fico extasiado com muitos dos que se
candidatam às eleições autárquicas na nossa terrinha. É gente desinibida. Sim
porque estou em querer que, à partida, a generalidade não faz ideia da responsabilidade
que se lhe devia exigir, para aquilo a que se candidata. Essa cândida
ignorância, leva-os a ir em frente com a confiança de quem quer e crê. Não vale
refletir sobre o que os pode esperar, já que vão a procura dos seus Eldorados. Por
sua vez não é difícil observar a realidade a que o concelho chegou. A ideia de cidadania não
conta até porque é muito relativa. Cada um tem a sua.
Os candidatos privilegiam
então olhar-se ao espelho, para dar conta que é necessário um retoque na
imagem. Todos têm pomposas ideias e teorias sobre tudo e, a certeza das conveniências
ou das exequibilidades. Passados 40 anos, ninguém lhes consegue apontar bons
modelos só porque nunca os houve, nem há quem informe sobre quais são as
responsabilidades da incumbência. Mas também ninguém pergunta, o que é natural.
Apresentam-se como grandes generalistas, com experiência e credenciais, nos
mais diversos misteres e funções. Do Veterinário ao Enólogo, do Doutor ao
Bacharel, do Funcionário Público ao Empregado de Mesa, do Boticário ao Agricultores,
do Teólogo ao Taberneiro, todos têm perfil para se alcandorarem com alegria aos
lugares de Timoneiro.
Importa sim o porte, para as poses e o perfil que melhor
fique nas fotografias. Apruma-se o timbre de voz e está feito. Ser do Partido
ajuda mas, já deixou de ser moda conhecer programas e pagar cotas para a causa,
até porque a causa alterna com o vento que passa. Estar com o poder é meio
caminho o outro é oferecer confiança.
Pela noite reúne a corte, nomeiam-se os candidatos ficando para
a história a ata a relatar que a eleição foi por unanimidade e aclamação. Não constam
eventuais dissidências ou isenções, só borrariam a escrita. Finalmente os
eleitos estão habilitados para serem servidos e se servirem.
Vencer a eleição é o
objectivo seguinte, sem o qual se torna mais bicudo capitanear as massas e
gerir o bolo.
Francisco D´Aragão
Francisco D´Aragão
07 setembro 2017
Pasmos
Alguns me
pedem para a necessidade de retomar a atividade neste espaço e um ou outro me
promete uma participação empenhada. Tenho agradecido a atenção, porém não tenho
sentido necessidade de o fazer por variadas razões que não vos canso a enumerar.
Se “este é um
espaço aberto a toda a participação de boa vontade”, este texto que me chegou
por email, pode ser uma boa razão para a retoma, também porque estes tem sido tempos de
completa esterilidade no debate político local.
Outros se
deverão seguir.
Contamos com
o vosso feedback, pois este é “um sítio de liberdade que acredita na força da
polémica para enfunar velas do barco rumo ao desenvolvimento.”
Estou pasmado
Dizem-me que
faz bem à saúde, meditar. Mais indigesto, dizem-me também, que é reflectir. Por
isso não arrisco propor-lhes esta segunda sugestão. Meditemos só então porque
chegou a hora de louvar todas as consumações alcançadas nesta legislatura,
pelos dedicados autarcas que governaram o concelho.
Haverá
ingratos que nunca reconhecerão a senda de progresso que o concelho alcançou,
comparando-o com os outros similares. Não está certo. Há sempre uns mal-agradecidos.
Pode sempre dizer-se que apesar de tudo, ainda existem, mas só para denegrir e
servir de comparação. Observados os factos, poucos terão adivinhado tantos
sucessos a ultrapassar as expectativas iniciais. Na realidade também não se
sabia quais eram as reais expectativas. Apenas nos explicavam que haveria profundas
fossas abertas, mas nem se sabia quem as tinha aberto e se eram para fechar.
Acreditávamos, contudo, no currículo e na
experiência dos queridos eleitos e isso chegou para cimentar as nossas
aspirações. Em retrospectiva é difícil contabilizar na nossa longa história,
autarcas mais perspicazes e dedicados, mais comunicativos e disponíveis, mais cultos,
civilizados e cosmopolitas. Podemos agora dizer que, jamais se planou e criou
tanto, se produziu tanta deliberação, se fez tanta consulta popular e se
facultou tanta avaliação técnica. Quem se recorda no tempo, de tão rápidos
pareceres e de tão precisas decisões! E sobre o tratamento dado aos malandros
da oposição! Nunca se viu tanta indulgência, condescendência e generosidade. As
reuniões tornaram-se confraternizações, as doutas reuniões de assembleia sempre
tão participativas tiveram até uma descentralização com direito a repasto ao intervalo.
Falar da projecção nacional e internacional do município é recordar a gloriosa
visita do Sr. Presidente da República ao Castelo, as reuniões com diferentes
Secretários de Estado, as recepções festivas, as idas à estranja visitar as
nossas comunidades e a organização dos encontros da diáspora.
Evidentemente
que nem tudo foram sucessos a cumprir como prometido. Registam-se
inconseguimentos menores que servirão para compararmos com a grandeza dos
conseguimentos: descontrolo do uso de papel higiénico nos serviços,
desaparecimento da comarca, incontinência na retenção das populações no
concelho, inépcia na obtenção de investimentos produtivos e consequente criação
de postos de trabalho, aumento controlado das adjudicações directas, aumento da
colecção de projectos inconsequentes para o S. Lourenço, incapacidade para a
reversão do “edema” da Empresa - Águas de Carrazeda, justificação e competência
para o trabalho autárquico em que a merecida excepção irá para os serviços de
limpeza, ausência da promoção de mérito e, rigor e confiança concursal, seleção
pelo critério da cor de pele da distribuição de verbas pelas Juntas, ficando-me
por aqui.
À parte o que se plasmou, dizemos que foram
francamente positivos os resultados obtidos. E assim se expande mais uma vez o
sonho de ver crescer e multiplicar-se em alegria, o orgulho de Ser Carrazeda.
É, por
conseguinte, com regozijo que daqui transmito os meus parabéns aos nossos
autarcas em geral, mas também louvo e manifesto a minha admiração pela sageza
com que os nossos munícipes têm sabido eleger os seus representantes.
Francisco
D´Aragão
15 janeiro 2017
24 dezembro 2016
10 dezembro 2016
Ensino e Professores
A minha comunicação aquando do 34.ª aniversário do SPN:
Não se deve pensar que a evolução do ensino e, particularmente o papel
dos professores e dos seus direitos em Portugal é um processo contínuo e
ascendente ao sabor do acaso dos avanços civilizacionais. Particularmente, os
mais novos, desconhecem que as conquistas conseguidas fazem parte de um
processo de lutas duras, continuadas e exigentes, isto porque não tenham a
possibilidade de o aprender, mas não viveram a experiência sentida na força da
unidade e do querer coletivo, que representa também a história do SPN.Por isso,
não resisti a dar-vos uma panorâmica geral da história do ensino e do movimento
dos professores no nosso país.
Em Portugal podemos considerar até ao Estado Novo cinco modelos
educativos: a escola da idade Média; a escola da Contra-Reforma, grosso modo com
forte influência dos jesuítas; a escola pombalina, fortemente autoritária; a
escola liberal e republicana, profundamente nacionalista e dirigida para a
definição da condição social; a Escola do Estado Novo ao serviço de uma
conceção totalitária de Estado.
Todo o ensino escolar naIdade Média provinha da Igreja e todos os
letrados recebiam o nome de clérigos. A preocupação do ensino era formar e
consolidar o sentimento religioso, glorificar a Deus e exaltar a religião
cristã, sendo a teologia a principal disciplina das universidades medievais.
O panorama da escola portuguesa até ao século XV é desolador se comparado
com outros estados europeus. Duas curiosidades: em 1450, o vigário geral de
Braga confirma a nomeação de certo cónego para prior de um mosteiro
dispensando-o de não saber ler, contar e entender latim; nas Cortes de Évora de
1481 acusam-se os bispos de conferirem ordens sacerdotais a quem não sabe ler
para escaparem a castigos de crimes.
A partir do século XV, o renascimento recusa o saber imutável, defende
o espírito crítico,enaltece o saber enciclopédico e valoriza o método experimental.
Em Portugal, o período reformista dura apenas uma quinzena de anos e a
pálida reforma é bloqueada pelos dominicanos do Santo Ofício e pela ação dos
jesuítas. Os ventos da Reforma Europeia não têm expressão e são imediatamente
combatidos com a instituição da inquisição e da censura.
A permanência dos jesuítas, chamados por D. João III a 17 de abril de 1540,
prolonga-sepor cerca de 200 anos e introduz uma profunda influência no ensino
em Portugal que se estenderá até ao Marquês de Pombal. Oliveira Martins resume
esse paradigma à chamada “doutrina da submissão”. A expressão “magíster dixit“toma o seu sentido pleno.
O método baseava-se no esforço da memória dos alunos, na severidade do
professor e na rigidez das regras. Ao aluno restava uma obediência inflexível e
cega.
Luís António Verney foi um dos primeiros frontais opositores ao
ideário pedagógico dos jesuítas e no seu Verdadeiro
Método de Ensinar preconizou: as crianças só deveriam começar a aprender a
ler a partir dos sete anos de idade; o ensino do Português deveria ter a
primazia sobre o Latim; o uso de ilustrações nos livros deveria ser incentivado
para “instruir como quem diverte”; defende ainda o estudo para as mulheres,
pois “se aplicassem os estudos tantos quantos entre os homens, então veríamos
quem reinava”
Com a expulsão dos jesuítas em 12 de janeiro de 1759 surge a reforma
pombalina. O ensino ficaassociado a duas autoridades: a divina e a real porque
são os “dois poderes pelos quais se rege o mundo”. O plano de estudos de Pombal
era elitista e autoritário: o sistema de ensino estava vedado ao sexo feminino
e cerca de 90% da população continuou analfabeto.
Após a revolução liberal, em 1822 é elaborada uma Constituição
Política, que estabelece o princípio do mérito na ascenção a cargos públicos.
Contudo, o tema da instrução ocupa o últimocapítulo da carta constitucional
sendo-lhe reservado três artigos pouco precisos e generalistas, que referem a
necessidade de haver mais escolas, nova regulamentação e a liberdade de todo o
cidadão “abrir aulas para o ensino público”.
Importante virá a ser a reforma proposta por Mouzinho de Albuquerque
(1823). De inspiração francesa, é denominada Ideias para o Estabelecimento da Instrução Pública dedicadas à Nação
Portuguesa e oferecidas aos seus representantes. O seu ideário é
fantástico. Determina que o ensino deve ser gratuito, deve ser dirigido pelos
mais dotados, os professores devem receber um salário justo. Seguem-se as
reformas de Passos Manuel, Costa Cabral(1844) e Fontes Pereira de Melo, que cria
o Ministério da Instrução Pública (1870). A partir de 1860 iniciaram-se
reformas umas atrás das outras, num total de nove. Destaco apenas a do partido
Progressista (1888) que tenta a peculiar determinação de aliviar o trabalho dos
alunos, não podendo estester mais de duas disciplinas por ano: a Língua
Portuguesa estudava-se num único ano, assim como a Língua inglesa ou a
Filosofia, alargaram-se os períodos de férias e não havia aulas às quintas e
sábados.
Em resumo, o liberalismo ajuda a formar os princípios da instrução:
obrigatória e gratuita, que serve o individuo e sobretudo a nação.
São deste período os primeiros “anuários Estatísticos do Reino de
Portugal que nos dão em 1878 - 82,4% de analfabetos, 79,2% em 1890 e 78,6% em
1900. No princípio do século XX,o número de inscritos nas escolas primárias não
ultrapassa um quarto da população masculina em idade escolar.
A instrução primária merece a Eça nas Farpas, em Março de 1872,
críticas ácidas, apelidando-a de “canalhice pública” e compara as escolas a
“currais de ensino.
Osprofessores primários encontraram na realização dos Congressosa
principal forma de denúncia dos mais variadosproblemas profissionais e
educativos. Só na década de 90,realizaram-se três congressos dos professores do
ensinoprimário: um em 1892 e dois em 1897.
As bases do movimento organizado dos professoresprimários de todo o
país foram lançadas em 1897,em Coimbra, com a criação da Associação de
SocorrosMútuos do Professorado Primário Português, a que seseguiu, em 1904, a
primeira associação do ensino secundário, denominada Associação do Magistério
Secundário Oficial.Esta associação encarrega um grupo de professores deentregar
ao ministro do Reino, uma exposição contendoas várias reclamações da classe. No
seguimento deste movimento será criada a Liga Nacional dos professores
pretendendo agregar todos os docentes.
A implantação da República, em 1910, marca um ponto de viragem revolucionário
no contexto ideológico e programático da educação nacional. Pensava-se que o
fervor patriótico associado à instrução e educação eram os condimentos que
iriam fazer ressurgir a Pátria do atraso e do marasmo que a colocaram os
desmandos da monarquia e assim se construiria um “homem novo” e uma “nova
sociedade”.
Ideologicamente, a escola republicana tem caráter laico, anticlerical,
patriótico e torna-se determinante para a ascensão social. O mote é dado poucos
dias passados sobre a revolução (22 de outubro) proíbe-se o ensino da doutrina
nas escolas primárias e institucionaliza-se a educação cívica inspirada nos
sentimentos da Pátria, do amor ao lar, do trabalho e da liberdade. No dia
seguinte suprimem-se os juramentos sobre os evangelhos e anulam-se as
matrículas no curso de teologia nas faculdades. O homem novo republicano
conquistará o pão e a virtude com “energia e pureza”, valerá não pela sua
condição, mas, sobretudo, pela educação que possui.
O ensino infantil torna-se facultativo e gratuito e só pode ser
lecionado por docentes do sexo feminino. As juntas das paróquias eram obrigadas
a recensear todas as crianças nas respetivas freguesias. Os vencimentos dos
professores primários melhoram e para a sua contratação valorizam-se de forma
crescente a lealdade política e a ideologia em detrimento dos critérios
técnico-profissionais. Cresce o número de escolas primárias no Continente e
ilhas. De 5552 em 1910, passaram a 7126 em 1926.
Se a reforma republicana do ensino publicada em março de 1911 nos coloca
ao nível legislativo dos países mais avançados do mundo, os resultados
mostram-se desoladores e a grande maioria da população permanece analfabeta. Há
deficiência de meios, a pobreza do país, a impreparação de quadros e a
convulsão política - durante os treze anos de vigência do Ministério da
Instrução por ele passaram 40 ministros.
Em 1910 é fundada aSociedadede Estudos Pedagógicos,agrupou no seu seioprofessores primários, liceais e
universitários, coisa rarana época. Em 1911 foi criado no Porto o Sindicato
dosProfessores Primários de Portugal, que com um ano deexistência congregava
mais de 1000 associados (num total de 6000). A que se segue a Associação Geral
dos ProfessoresPrimários de Portugal. É num quadro de crise política e
económica, marcado igualmente pela instabilidade social, que a União do
ProfessoradoPrimário Oficial Português (UPPOP), fundadaem 1918, passa a
constituir a mais poderosa organização da história sindical dos professores
portugueses, chegou aos 7000 associados(taxa de sindicalização acima dos 75%).A
União editará um jornal semanal, O ProfessorPrimário, que sairá até 1932.A
entrega da gestão das escolas às câmaras origina em 1920 um grande combate que
culminará na 1-ª greve dos professores primários.Depois da experiênciada
Sociedade de Estudos Pedagógicos encontramos,no ano de 1924, uma nova
associação de professores– Associação dos Professores de Portugal – destinadaa
abranger todas as categorias docentes e a constituiruma vanguarda na luta
ideológica. Esta associação edita a revistaEscola Nova e filia-se na
Internacional dos Trabalhadoresdo Ensino.
A ditadura de 1926 proibiu, primeiro, a federação de professores e
mais tarde já no Estado Novo o movimento público associativo dos professores e,
paradoxo,torna obrigatório para os professores do ensino particular — a
filiação num sindicato nacional,com direções eleitas submetidas a homologação
do ministério.
A propaganda do Estado Novo acusou os republicanos de escamotearem
quanto de bom e nobre aconteceu na história.Esta deveria inflamar no coração
dos alunos o amor pela Pátria, apresentar modelos de comportamentos e valores
“sublimes”, hiperbolizar os períodos de glória e denegrir os períodos obscuros
que eram três: a dominação espanhola, o liberalismo e a república. O Estado
Novo significava o início de um novo período de luz.
Desde os primeiros anos da ditadura a instrução do povo deixa de ser
uma prioridade. São vários os intelectuais e os ideólogos do regime que
propagandeiam a ideia: em 1927 Virgínia de Castro e Almeida escreve: “a parte
mais linda, mais forte e saudável da alma portuguesa reside nesses 75% de
analfabetos”; João Amaral defende que Portugal não necessita de escolas; O
Conde de Amora apregoa: “felizes aqueles que não sabem ler”; Salazar em
entrevista a António Ferro advoga “mais urgente a constituição de vastas elites
do que ensinar o povo a ler”. Ficam célebres as frases do caudilho de que
“analfabetos eram os marinheiros do Gama e chegaram à Índia” ou de que “o
analfabetismo em Portugal vem de longe e isso não impediu que a nossa
literatura fosse em determinadas épocas extremamente rica” (A. Oliveira
Salazar)
Eis alguns exemplos dessa política educativa castradora e elitista que
se inicia com o 28 de maio e prossegue com o Estado Novo: decorridos onze dias
é proibida a coeducação de sexos na escola elementar; em Maio de 1927 limita-se
o ensino primário a quatro anos que será reduzido a três em abril de 1929,
sendo o 4.º de complementaridade e apenas para um grupo restrito, são também
extintas as Escolas normais primárias (abril de 1928), mais tarde substituídas
pelas escolas do magistério primário (julho de 1930); é extinta a Faculdade de
Letras do Porto e são proibidos autores como Eça de Queirós; aumenta o número
de alunos por turma de 20 a 25 para 60; criam-se os “postos escolares”, onde é
dada preferência aos regentes sem habilitação académicae auferem metade do
salário; em 1936 decreta-se a obrigatoriedade de colocação de um crucifixo “por
detrás e por cima da cadeira do professor” em todas as escolas primárias; em
1937 reduz-se a escolaridade obrigatória para três anos e extingue-se o Ensino
Infantil Oficial.
O regime tudo fez para transformar a escola portuguesa num instrumento
de inculcação ideológica. Pretendia-se formar uma juventude passiva e
subserviente. “Tudo pela nação, nada contra a nação” é o slogan. O modelo foi encontrado no passado: os acontecimentos
heroicos e os chefes exemplares, passaram a “alimentar as grandes certezas da alma
coletiva”. A obediência constituir-se-ia como a virtude fundamental. Os valores
veiculados eram os da resignação, da caridade, da disciplina, da piedade, do
trabalho, do patriotismo e da vida familiar rural. Os programas de ensino
apelavam para a memória e para a reprodução passiva do aprendido. O
aparecimento do livro único tornou a doutrinação mais evidente e organizada.
Para assinalar os dez anos de governo de Salazar, é editada, em
1938, uma série de sete cartazes intitulada “A Lição de Salazar”, distribuída
por todas as escolas primárias do país. Estes cartazes
faziam parte de uma estratégia de disseminação de valores, destinando-se a
glorificar a obra feita até então pelo ditador, desde o campo
económico-financeiro às obras públicas. Durante muitos anos, estes cartazes didáticos
foram utilizados como forma de transmitir uma ideia central: a
superioridade de um Estado forte e autoritário sobre os regimes democráticos e liberais.
Os cartazes fazem uma comparação sistemática entre a obra do regime salazarista
e a 1ª República: à desorganização económica e financeira e ao alheamento do
Estado democrático e liberal republicano perante os problemas do país, sucede a
organização financeira, a melhoria das vias de comunicação, a construção de
portos, o ordenamento e progresso social promovidos pelo Estado Novo. Os
cartazes acentuam esta ideia: primeiro a imagem cinzenta e triste da época da
1ª República, enquanto o “depois” da obra salazarista nos aparece colorido,
organizado, moderno.
O controlo é absoluto decidindo o Estado e a Igreja tudo em matéria de
currículos, compêndios e métodos didáticos – preparava os professores,
construía escolas, escolhia a decoração, elaborava as provas de exames. As
nomeações dos reitores/diretores dos liceus são feitas pelo governo são um
sinal claro deste controlo.
O controlo do ensino primário estava concentrado no diretor-geral e
ramificava-se em três linhas de comando. A primeira, constituída pelos
diretores escolares, inspetores de distrito e delegados escolares. A segunda,
os dez inspetores orientadores que se ocupavam da orientação pedagógica e dos
assuntos doutrinários. A terceira, os seis inspetores principais que velavam
pela conduta do pessoal. Por último, a sociedade civil, pais, autarquias e
membros da União Nacional que denunciavam com sentimento patriótico: vestuário
escandaloso, infidelidades conjugais, desvio de fundos públicos, aproveitamento
de trabalho infantil, castigos corporais.
Salazar obrigado a afastar-se do governo por incapacidade dá lugar a
Marcelo Caetano. Em consequência a repressão e a censura abrandam um pouco e os
denominadosos Grupos de Estudos do Pessoal Docente do EnsinoSecundário
[GEPDES], primeiro em Lisboa em 1969/70 e a partir daí foram-se formando outros
pelo paísmais tarde alargados aos professoresdo ensino primário, denominados
apenas de Grupo de Estudos e começa a publicar-se a revista «O Professor». Foi
sol de pouca dura porque em
1971, o ministério emitiu uma circular interna para todos os diretores dizendo
que a partir daquele dia ficavam proibidas as reuniões nas escolas
Para a classe, na
década de 70 o panorama é alarmante, 81 por cento dos professores não eram
efetivos etinham um estatuto provisório, isto é, ganhavam apenas durante o
período em que davam aulas.
Vivíamos numa época em
que havia tanta falta de professores que se recrutavam muitos deles com pouca
qualidade, porque não tinham completado a sua formação. Mas a verdade é que o
sistema se servia deles. Além disso, havia grandes disparidades nos
vencimentos: os professores do liceu ganhavam mais do que os do Preparatório, e
os do 1º Ciclo muitíssimo menos. Além disso, não havia propriamente uma
carreira.
Com o vinte e cinco de abril, o sistema educativo em Portugal
alterou-se profundamente.
Fruto da atividade dos Grupos de Estudo, logo apósa revolução dos
cravos, aparecem os primeiros sindicatosde professores. O primeiro desses
sindicatos foi criado 5dias após a instauração do regime democrático, o
quepermitiu que as comemorações populares do 1º de Maio,no Porto, assistissem
já ao desfile do Sindicato dos Professoresdo Norte. Acabariapor não ser essa a
designação a prevalecer, e o nomeapenas viria a ser recuperado em 1982, com a
criação doatual SPN.
Uns achavamque os sindicatos deveriam ter uma organização nacionale
estruturar-se em torno dos ramos e setores de educaçãoe ensino; outros
defendiam a constituição de sindicatosregionais que contivessem todos os graus
de educação eensino. Acabou por prevalecera segunda opção, ainda bem, pelo que
os sindicatos do continentetomaram a designação de “Zona”, com exceção do
SPGL,que apareceu desde a fundação (2 de maio) como Sindicatodos Professores da
Grande Lisboa.
O SPN foi criado em Novembro de 1982, por decisão de milhares de
professores numa demonstração de que era necessário um sindicato
verdadeiramente representativo, democrático e independente.
As duas principais conquistas para os docentes foram a aprovação da
Lei de Bases do Sistema Educativo [1986] e do Estatuto da Carreira Docente [1989/1990].
O Estatuto reconheceu o direito dos professores a uma carreira, equiparou-os a
técnicos superiores da função pública e regulou matérias que, até então, não
tinham qualquer enquadramento legal. A Lei de Bases, ao consagrar, por exemplo,
uma formação inicial de nível superior para todos os educadores e professores,
a formação contínua como um direito e um sistema de profissionalização em
exercício para os que, à data, não a possuíam (e eram muitos), contribuiu de
forma decisiva para a valorização da profissão. A obrigatoriedade da
licenciatura como grau académico de ingresso para todos os professores e
educadores, que viria a ter consagração legal em 1997, é uma reivindicação que
ainda hoje não foi conseguida em muitos países europeus...
Depois com a luta, que, no Norte, foi indiscutivelmente liderada pelo
SPN, tivemos o fim da candidatura, a atribuição do subsídio de desemprego, a
vinculação de muitos professores contratados, a extinção do ‘professor
titular’... E tantos outros exemplos que provam que vale a pena lutar e que
reforçam a nossa responsabilidade coletiva em conservar direitos conquistados
após anos de luta persistente.
É necessária uma efetiva renovação geracional, de organização e funcionamento,
das políticas reivindicativas e formas de luta – refletindo para agir,
reforçando regras democráticas na tomada de decisões, conseguindo uma maior
participação dos jovens. É com eles que os sindicatos podem renovar-se e
preparar o futuro. (que se permita uma renovação geracional dos docentes,
fundamental para uma escola pública de qualidade).
Para isso, é necessário dizer-lhes que acreditem no sindicalismo, porque
não existe outro caminho para defendê-los e para que possam defender-se a eles mesmos;
um espaço onde encontram lugar para discutir os seus problemas e ajudar a
construir soluções.
A questão da conquista destes direitos é algo que as gerações mais
jovens já não viveram; tiveram um certo grau de proteção, quer da família, quer
da Escola e que muitos pensarão que são imutáveis. Não o são. A história
mostra-nos que só com combatividade e juntando forças, não desistindo de “ver
dignificada uma profissão que promove uma sociedade mais solidária, mais livre,
mais exigente e mais capaz de combater por um mundo melhor” (SPN informação 71),
para que não venha um qualquer Trump tomar conta disto tudo.
09 dezembro 2016
Uma "viagem" extraordinária
A melhor
metáfora que se pode atribuir à história do homem é a de uma viagem. Toda a
vida do homem primitivo está marcada pela viagem. A sua sobrevivência dependia
de uma contínua caminhada. Era sempre preciso abrir um novo trilho, avançar
pelas praias, pelos vales e pelas montanhas porque ficar parado num só lugar
seria contranatura e perigoso. Escolher um único espaço para lar significava
morrer de fome.
Nós, os
humanos fomos caçadores-recolectores muito mais tempo do que temos sido
agricultores, estima-se dez a quinze vezes mais. Só agora nos estamos a tornar
numa espécie que vive sobretudo nas cidades. Se dissermos que isso só acontece
há apenas um ou dois séculos, o nosso rasto de caçadores-recolectores torna-se muito
mais longo.
A história humana
começa quando deixamos de ser presa e caçador, de comer e ser comido, isto é, do
deixar acontecer para fazer acontecer. Há cerca de duzentos mil anos evoluiu em
África o Homo Sapiens com os cérebros do tamanho do nosso. Mas só há cerca de
setenta mil anos, por circunstâncias ainda pouco esclarecidas, quiçá uma única
tribo, ou apenas um muito pequeno grupo, partiram desse continente e iniciaram a
grande viagem, num movimento de duração milenária que culminou na disseminação
por todo o planeta.
Parecendo
lenta, esta dispersão do Homo Sapiens foi muito rápida, se a compararmos com um
milhão e meio de anos da do Homo Erectos. E assim feita a comparação é como se
até ali o processo fosse mais ou menos linear e de repente acontecesse uma
explosão.
Não se menospreze
os nossos “egrégios avós”. Estes caçadores-recolectores tinham de ser capazes
de fazer uma diversidade de coisas que o atual homem urbano, que é especializado
numa única arte e ou ofício. Por isso estima-se que os atuais homens perderam
cerca de um décimo do volume total do cérebro em comparação com o povo da
última era glacial. É certo que, à altura, eliminaram alguns iguais e erradicaram
outros seres vivos, mas de forma nenhuma comparável aos contemporâneos e
horrorosos genocídios e destruições ambientais. Por isso, devemos estar conscientes
de que os homens que saíram de África foram criaturas extraordinárias e não
aterradoras.
Voltamos
mais uma vez à alegoria da viagem. Estes homens sobreviveram em condições
adversas que hoje face à comodidade dos novos tempos, mal podemos compreender. Tiveram
de alterar repetidas vezes os seus comportamentos e hábitos para sobreviverem. O
Paleolítico foi o tempo das camadas de gelo avançarem e recuarem pondo à prova
os mais extremos limites. A sobrevivência do Homo sapiens face ao homem do
Neandertal deveu-se à quantidade e qualidade de ferramentas que soube construir
para fazer face à adversidade. A agulha e o equipamento de caça, particularmente
a técnica do arremesso, foram as suas duas armas mais importantes e
extraordinárias de sobrevivência. E por isso esta viagem, que aqui nos trouxe,
resultou porque somos bons a adaptar-nos.
A partir do Neolítico, o
homem torna-se sedentário para cultivar a terra e criar o gado. Graças à
agricultura, a população mundial cresceu extraordinariamente. Ao deixar de
andar de um lado para o outro, o bando de caçadores-recoletores instalou-se
para cuidar de colheitas e animais, desenvolveu povoados, depois cidades e, por
fim, civilizações.
Com mais humanos sobrou menos
território para caça, e a agricultura tornou-se a quase única solução de
sobrevivência determinando o êxito de toda a história da humanidade: os
excedentes fizeram divisões de classes, soberanos e sacerdotes, exércitos,
conquistas, revoluções… O reverso da moeda, que a civilização agrícola e
pastoril acrescentou foram a complexidade das relações sociais, a multiplicação
dos conflitos, o aparecimento de novas doenças, (as vértebras deformadas, dores
de costas, os dentes podres, epidemias), até menos altura (estima-se menos 15
cm) e, consequentemente, menos tempo de vida (2 a 3 anos em média).
Ao contrário do que muito
estudo de arqueologia afirma, cujo interesse focado na Europa, leva erradamente
a pensar ser esta o umbigo do mundo, é o Oriente que vê nascer as primeiras
grandes civilizações. O velho continente permanece habitado por pequenas
comunidades, primordialmente povoados e abrigos. Estas coletividades usavam instrumentos
de pedra e fabricavam pontas de setas, machados, mós, percutores, furadores,
pesos de tear…, tornados indispensáveis na obtenção dos alimentos e no fabrico
de vestuário. Mais tarde, com um desfasamento de alguns milhares de anos em
relação ao Oriente, começam também a ser utilizados os primeiros metais.
Estas comunidades agrícolas
do oeste da Europa, em que a caça continua a ser uma fonte importante da
obtenção dos alimentos, cultivam os primeiros cereais, inscrevem nas pedras as
suas vivências e memórias, veneram os seus mortos, a quem erguem imponentes
monumentos construídos de pedras levantadas, que, por vezes, tinham um corredor
de acesso e uma câmara coberta.
São alguns destes sinais que
vos apontamos nesta viagem, sinais inscritos nas pedras e edificados com
pedras, querendo com isso porventura alcançar a eternidade. São de uma beleza
singela, clara e luminosa, sempre enquadrados de paisagens que nos tiram o
fôlego, que nos permitem regressar às nossas origens e descobrir a essência da
vida e da existência humana.
É este o mundo que o Dinis
Cortes nos traz nesta surpreendente viagem do Primogénito. Elaborada de um
fôlego, mas com grande mestria no uso das palavras e na descrição histórica:
dos homens, das paisagens, dos instrumentos e das peripécias. Esta breve
odisseia reflete uma imensa paixão pela região e pelos seus inúmeros vestígios
pré-históricos.
O “excesso de natureza” com que Torga legendou esta
paisagem duriense está preenchida de pedras e grutas singulares, buriladas de
gravuras, de que o Côa é a obra maior porque
manifestamente muito grandiosa e sublime, mas também de pinturas e sinais
misteriosos, salpicada de vestígios e artefactos que o olhar atento pode
observar...
Este livro é também o
resultado de muitas caminhadas. Considero-me um afortunado por ser companhia do
Dinis Cortes nestas jornadas inolvidáveis para o desfrute da natureza e dos
sinais que ela nos oferece. Tive o especial privilégio de contar com um guia douto,
entusiástico e entusiasmante. Estas caminhadas, sempre cheias de marcas do
passado, estão ali ao alcance de todos os sentidos e da imaginação instruída
para um total desfrute.
Este livro é uma viagem pela
desejável natureza humana. Nasce de uma inquietação interior. Uma coluna de
fumo visionada no horizonte predispõe para a aventura e para uma singular
jornada feita de extraordinárias descobertas, pautadas pelo desejo do saber e a
salutar convivência social. O Primogénito é um jovem bravo, hábil e artista que
inicia uma viagem em que a curiosidade e a aventura o norteiam.
Este livro é uma viagem como
deveria ser a nossa vida: o mérito e a procura da sabedoria são o ponto de
partida; o bem-fazer e a competência formam o itinerário; e o ponto de chegada
conflui na sua realização pessoal, que é também a dos outros. E se alguma lição
se pode extrair é a de que o homem se realiza na hierarquia da idade e da
competência, e evolui no contacto com o outro, na troca de saberes e técnicas e
no confronto de opiniões.
Podemos concluir que esta só aparente
humilde viagem é, no entanto, uma coisa bem séria, e posso até parafrasear
Garrett, n´As viagens na minha terra,
“eis aqui a crónica do passado, a história do presente, o programa do futuro”.
Convido-vos a ler este livro
para uma viajar no tempo, para, como Saramago, ver o que não foi visto, ou
então para ver outra vez o que já foi visto, porque o que se vê no verão é
sempre diferente do inverno; porque a poesia que brota de nós na primavera
nunca é igual à sentida no outono, porque o que se vê de dia não é igual ao
observado de noite, porque o que traduz a leitura do texto não é o que a nossa
imaginação alcança, mas aquilo que somos.
Convido-vos a subir à Serra
de Passos, marca essencial e natural ponto de partida para esta aventura da
descoberta porque aqui se encontra um dos maiores e impressionantes santuários
de vestígios do homem do Neolítico. Convido-vos a aí perscrutar os horizontes e
a ver nascer a vontade da descoberta e do encontro com o outro. Convido-vos a
visitar a Pala Pinta em Alijó, o Cachão da Rapa em Ribalonga, Carrazeda de
Ansiães, a extraordinária Fraga da Aia em São João da Pesqueira e o Abrigo
Pré-histórico de Penas Roias em Mogadouro para compreender toda a magia que,
desde tempos imemoriais, está inscrita nos nossos genes. Convido-vos a viajar
aos dólmenes da Areita e do Vilarinho da Castanheira para uma reflexão sobre a
intemporalidade e como tornar esta breve viagem que todos empreendemos no
nascimento, a tornar-se uma “experiência sem par”.
Como escreve Torga, “viajar
num sentido profundo é morrer. É deixar de ser manjerico à janela do seu quarto
e desfazer-se em espanto, em desilusão, em cansaço, em movimento pelo mundo
além”. E eu, que já tenho alguns “espantos” de bastante Europa visitada, ainda
não encontrei viagens mais reconfortantes que as viagens na minha terra.
Esta
viagem pode começar hoje e aqui, venham daí!...
13 outubro 2016
A propósito desta notícia
"População diz que não fazia a "Queima do Gato" mas de um pau",
daqui retirada
lembro aqui um texto publicado há ano e meio:
"A queima do gato
Todos os transmontanos s aprendem a viver e a conviver com todo o tipo de bichos desde os primeiros momentos da vida: ainda no berço temos a companhia dos cães e dos gatos; as nossas primeiras descobertas, fazemo-las a gatinhar atrás das galinhas e outros rabos da capoeira à procura de companheiros de brincadeira; aos primeiros passos, espreitamos os grilos nos lameiros e a curiosidade faz-nos subir à copa das árvores para descobrir os ninhos; na adolescência saltamos para cima do burro ou os mais sortudos para a garupa do cavalo e aí vamos passear pelo campo e a sonhar aventuras de cobóis; nos passeios pelo campo aprendemos a defender-nos dos animais que nos podem fazer dano e a respeitar as distâncias dos que prezam a insubmissão. Todos, ou quase todos, aprendemos a respeitar os bichos pelo prazer da companhia e a dependência reciproca numa luta pela vida e a liberdade.
Então, é hora de escrever, que gostamos dos animais e sempre seremos contra qualquer forma de abandono e maus-tratos, e por isso sentimos indignação pelo gato chamuscado na aldeia do Mourão. Porém nesta história da "Queima do Gato" confesso algumas irritações.
A primeira é a de colar esta chamada barbárie ao "pacóvio" do aldeão do interior, em comparação à suprema civilidade do citadino. Esse mesmo que mantém silêncio quando esconde a miséria humana em guetos residenciais; que mostra um indisfarçável enfado pela insistência diária do pedido de uma moeda no estacionamento da praça; que chuta caixas de cartão, lar dos sem-abrigo, da entrada do prédio onde habita; que aprisiona pássaros, passarinhos e passarocos em minúsculas gaiolas; que enclausura cães e gatos numa varanda de um metro quadrado e os abandona todos os verões no ermo ou na estrada bem distante…
Uma outra exasperação é a quantidade de desaforos para as gentes da aldeia vertida na forma de insultos nas redes sociais, nos depoimentos entusiastas e militantes de virtude e moral dos programas de rádio e televisão. São esses paladinos da ética que exigem uma fogueira para uma aldeia inteira em troca da remissão de um pecado e de uma tradição idiota, mas que nunca teve por objetivo queimar o pobre gato. Apetece-me lembrar-lhes as palavras do evangelho: “aquele que nunca pecou atire a primeira pedra”...
É sempre bom lembrar a desproporção da natureza do ato, lamentável sem dúvida, perante situações mais preocupantes da condição humana e que toma índices alarmantes da convivência misericordiosa: o abandono dos idosos nos hospitais e lares de terceira idade, a violência doméstica, o genocídio perpetrado no terrorismo e na bem atual falta de acolhimento dos refugiados.
Pois salvem os gatos, mas não se esqueçam também de salvar os homens."
"População diz que não fazia a "Queima do Gato" mas de um pau",
daqui retirada
lembro aqui um texto publicado há ano e meio:
"A queima do gato
Todos os transmontanos s aprendem a viver e a conviver com todo o tipo de bichos desde os primeiros momentos da vida: ainda no berço temos a companhia dos cães e dos gatos; as nossas primeiras descobertas, fazemo-las a gatinhar atrás das galinhas e outros rabos da capoeira à procura de companheiros de brincadeira; aos primeiros passos, espreitamos os grilos nos lameiros e a curiosidade faz-nos subir à copa das árvores para descobrir os ninhos; na adolescência saltamos para cima do burro ou os mais sortudos para a garupa do cavalo e aí vamos passear pelo campo e a sonhar aventuras de cobóis; nos passeios pelo campo aprendemos a defender-nos dos animais que nos podem fazer dano e a respeitar as distâncias dos que prezam a insubmissão. Todos, ou quase todos, aprendemos a respeitar os bichos pelo prazer da companhia e a dependência reciproca numa luta pela vida e a liberdade.
Então, é hora de escrever, que gostamos dos animais e sempre seremos contra qualquer forma de abandono e maus-tratos, e por isso sentimos indignação pelo gato chamuscado na aldeia do Mourão. Porém nesta história da "Queima do Gato" confesso algumas irritações.
A primeira é a de colar esta chamada barbárie ao "pacóvio" do aldeão do interior, em comparação à suprema civilidade do citadino. Esse mesmo que mantém silêncio quando esconde a miséria humana em guetos residenciais; que mostra um indisfarçável enfado pela insistência diária do pedido de uma moeda no estacionamento da praça; que chuta caixas de cartão, lar dos sem-abrigo, da entrada do prédio onde habita; que aprisiona pássaros, passarinhos e passarocos em minúsculas gaiolas; que enclausura cães e gatos numa varanda de um metro quadrado e os abandona todos os verões no ermo ou na estrada bem distante…
Uma outra exasperação é a quantidade de desaforos para as gentes da aldeia vertida na forma de insultos nas redes sociais, nos depoimentos entusiastas e militantes de virtude e moral dos programas de rádio e televisão. São esses paladinos da ética que exigem uma fogueira para uma aldeia inteira em troca da remissão de um pecado e de uma tradição idiota, mas que nunca teve por objetivo queimar o pobre gato. Apetece-me lembrar-lhes as palavras do evangelho: “aquele que nunca pecou atire a primeira pedra”...
É sempre bom lembrar a desproporção da natureza do ato, lamentável sem dúvida, perante situações mais preocupantes da condição humana e que toma índices alarmantes da convivência misericordiosa: o abandono dos idosos nos hospitais e lares de terceira idade, a violência doméstica, o genocídio perpetrado no terrorismo e na bem atual falta de acolhimento dos refugiados.
Pois salvem os gatos, mas não se esqueçam também de salvar os homens."
30 setembro 2016
As quintas no Douro
A maior parte das quintas do Douro estabelece-se na segunda metade do
século XVIII. No século seguinte, já os vinhos das quintas se vendiam em
Inglaterra. As marcas com os nomes das quintas vão-se impondo principalmente na
segunda metade de novecentos.
Com a filoxera obriga à venda a preços de saldo dos terrenos do Douro e é
por essa razão que os comerciantes de Vila Nova de Gaia entraram em força no
Douro.[1] “O
modelo das quintas mantém-se grosso modo intacto desde o século XVIII. Os
edifícios principais são feitos contra um socalco. Integram uma casa principal
– a casa do patrão. Atrás desta fica a adega, tradicionalmente servida de lagares
de granito. Por baixo da casa situam-se os armazéns, que aproveitam as leis da
gravidade para o transporte do vinho”. (Cf. Bessa, Luísa e Carvalho, Manuel, “O
Douro das Quintas” in Público Magazine”, n.º 188 de 10 de Outubro de
1993, p. 29) Normalmente, a quinta inclui também a casa para os caseiros e para
os trabalhadores sazonais que são autênticos depósitos para “animais” como
Torga retrata no romance “As Vindimas”. Há modestas casas até à versão de
solar, onde a influência inglesa é marcante. D. Antónia Ferreira, “a
Ferreirinha” deixa à data da sua morte, em 1896, 24 quintas aos seus herdeiros.
No mapa do barão de Forrester em 1852 são referidas no Douro 79 quintas. De
acordo com A. L. Pinto da Costa, Carrazeda de Ansiães possuía 27 quintas em
1943 para um total no Douro de 827.
Como conto em “Selores… e uma casa, «Depois da escola primária
obrigatória começa a idade para trabalhar e ganhar o sustento para si e a
família. Os poucos que escapavam iam para o ciclo preparatório da vila ou do
seminário; os outros iam para o “ciclo” das quintas. Começava-se como “moço” e
o trabalho consistia em servir á frente dos bois e fazer os recados. Ir buscar
a água, o vinho, a comida, o que lembrasse ao caseiro ou ao feitor.
A procura do trabalho nas quintas do Douro era muito inferior à oferta.
Com o coração cheio de esperança, lá se ia a caminho das quintas dos
"Canais", da "Espanhola", da "Senhora da
Ribeira", do "Ministro", do "Eng.º Faria", do
"Chaves", do "Comparado", dos "Carris", do
"Gouveia", do "Carvalho", do "Zimbro"... Traçada
no ombro, transportava-se a enxada que deveria ter um tamanho razoável, pois,
de contrário faria torcer a “beiça” do feitor (sempre “implacável e cruel”); a
tiracolo o saco de linho ou de serapilheira com o pão de centeio duro e amargo;
nos lábios e no olhar a súplica do “Arranje-me lá trabalho pela alminha de quem
já lá tem”. Caído no goto do “carrancudo” feitor lá vendia o suor e a alma por
25 tostões.
Eram “felizes” os admitidos. A jorna era de sol a sol quer chovesse, quer
nevasse ou o sol desancasse. O trabalho de empreitada não admitia demoras, nem
atrasos. O que se ficava para trás na função da poda, da cava ou descava, da
redra… pagava com a vergonha do desconto no salário, a possibilidade de ser
posto “em marcha” ou, principalmente, o constrangimento perante os seus pares.
Irmanados na “miséria”, eram cruéis neste tipo de desgraça do próximo.
Para acompanhar o pão rijo levado de casa era servido o “caldo" de
feijão ou feijoca, aguado, desenxabido e temperado, não poucas vezes, com as
larvas do dito e o unto rançoso. À noite, doridos do trabalho e depois da
mistela sorvida com grandes tragos, deitavam-se como o “gado” e a monte no
“cardanho”, onde percevejos e piolhos se refastelavam com o “sangue quente da
manada”. Anestesiados com o cheiro nauseabundo e extenuados pela dureza da
"jorna", depressa dormiam. Recebido o “pré”, o seu fado era igual aos
que foram “rejeitados”. Continuavam igual - os mesmos desgraçados.»
[1] Cf. Bessa, Luísa e
Carvalho, Manuel, “O Douro das Quintas” in Público Magazine”, n.º 188 de
10 de Outubro de 1993, p. 29.
A Casa de milhares de viticultores do Douro
O Estado Novo aplica o corporativismo ao Douro e ao vinho do
Porto com a criação da Casa do Douro em 1932, do Instituto do Vinho do Porto e
do Grémio dos Exportadores. Depois do Marquês de Pombal, O Estado volta a
assumir um papel preponderante na gestão do sector. Nos anos seguintes, foram-lhe
atribuídos poderes para elaborar a atualização do cadastro, distribuir o
benefício, fornecer aguardente aos produtores, fiscalizar o vinho na região
demarcada e conceder as guias para os vinhos serem transportados para o
Entreposto de Gaia conforme decreto de 30 de Abril de 1940. O Instituto do
Vinho do Porto passou a controlar a qualidade e a promoção externa. A paz
forçada do sector suplantou o longo período de penúria dos anos 40 e 50. Depois
de 1965, a procura externa começa a aumentar, o que permitiu algum desafogo e a
opção pelo cultivo da vinha foi generalizada a dezenas de milhares de
produtores.
Com o 25 de abril de 1974, o modelo corporativo foi extinto.
A Casa Do Douro de inscrição obrigatória chegou a representar 40 mil
viticultores. Muita da população a viver no Douro era proprietária de pequenas
explorações e a instituição foi o guarda-chuva dos seus rendimentos enquanto
associados nesta forte estrutura.
Os problemas importantes iniciaram-se em 1990 com a compra
das ações da Real Companhia Velha (RCV). O objetivo era para além do papel de
regulação e de representação dos pequenos e médios vitivinicultores, intervir
no mercado do comércio e exportação. "O negócio" foi “encorajado” e
“abençoado” pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva. A Casa do Douro nunca
conseguiu fazer valer os seus direitos enquanto acionista, comprou uma
"guerra" com os comerciantes que a acusaram de ingerência no outro
lado do negócio e marcou o início do descalabro financeiro da instituição que
chegou a ter orçamentos superiores a 150 milhões de euros e foi mais poderosa
do que muitos ministérios.
Em 1995, a região do Douro viu alterado o seu quadro
institucional. Passou a estar dotada de um organismo interprofissional, - a
Comissão Interprofissional da Região Demarcada do Douro (CIRDD), no qual tinham
assento, em situação de absoluta paridade, os representantes da lavoura e do
comércio, com o objetivo comum de disciplinar e controlar a produção e
comercialização dos vinhos da região com direito a denominação de origem.
Este modelo sofreu nova alteração com a substituição, em
2003, da CIRDD por um Conselho Interprofissional integrado no Instituto dos
Vinhos do Douro e Porto (IVDP). Em termos formais, o IVDP faz a supervisão da
viticultura duriense cabendo-lhe a certificação dos vinhos da Região Demarcada
e a disciplina do sector na função fiscalizadora e sancionatória bem como, as
responsabilidades de gestão e coordenação da vitivinicultura duriense.
Para suspender uma penhora sobre a Casa do Douro e os seus
armazéns, colocou-se à venda, em 2004, um milhão de garrafas de vinho do Porto
das colheitas de 1963 e 1964, permitindo um encaixe financeiro de 35 milhões de
euros. Cada garrafa custava 40 euros (1963) e 35 euros (1964) e apenas os
cidadãos naturais da Região Demarcada do Douro e seus residentes podiam comprar
esse vinho. Ao todo, o produto em venda representou 3% dos stocks de vinho do
Porto da Casa.
Em 2008, o IVDP denunciou o protocolo que existia para a
gestão e fornecimento de dados do cadastro e o Ministério da Agricultura mandou
executar judicialmente os créditos que alguns organismos estatais tinham sobre
a organização, dando um sinal claro que pretendia deixar de contar com a instituição.
Neste mesmo ano foi vendida mais de metade da participação que detinha na RCV à
Global Wines. Depois de perder o controlo sobre a aguardente, a certificação e
fiscalização dos vinhos do Douro e Porto, só restava o cadastro, cujo valor era
incalculável, uma vez que acumulava informações relativas a mais de setenta
anos de atividade.
O ministro das finanças, Vítor Gaspar, face às dívidas
aconselhava a instituição a fechar portas. A Casa do Douro pública foi extinta
em dezembro de 2014. Posteriormente, foi aberto um procedimento concursal para
a sucessão da Casa do Douro ainda não completamente resolvido.
28 setembro 2016
Uma Companhia ao sabor dos humores da política
Recordemos algumas
datas marcantes para a região do Douro e para a Companhia Geral de Agricultura
e das Vinhas do Alto Douro.
Entre 1757 a 1761
decorrem as demarcações pombalinas, a primeira demarcação da região vinhateira
do Douro, que decorrerá com incidentes diversos.
Com a morte de D.
José e a deposição do marquês de Pombal, muitos dos privilégios da Companhia são-lhe
retirados, entre os quais, o monopólio da comercialização do vinho para o
Brasil.
Em 1780, inicia-se a
demolição do famoso rochedo do Cachão da Valeira nos concelhos de S. João da
Pesqueira e Carrazeda de Ansiães que impedia a navegabilidade do rio a
montante, porém somente seis anos volvidos, um primeiro barco ultrapassa o acidente
natural do rio, na Valeira.
Entre os anos de
1788 e 1793 decorrem as demarcações de D. Maria I que alargam a área delimitada.
Em 1792 são
concluídos os trabalhos da demolição do rochedo ficando o rio Douro navegável
até Espanha. Apesar das obras, o local oferece vários perigos que culminam na
morte do barão Joseph James Forester num naufrágio. Segundo a lenda, D. Antónia
Adelaide Ferreira salvou-se do desastre na Valeira porque as suas saias lhe
serviram de boia. Conhecida popularmente por “Ferreirinha” era a maior
proprietária vinhateira do Douro, com quintas a produzir mais de 1500 pipas de
vinho tratado.
Em 1797, as
demarcações ultrapassam o rio Tua entrando no concelho de Carrazeda de Ansiães.
Em 1807, a Companhia
obtém o exclusivo da venda do Vinho do Porto engarrafado. Em 1821/1822, as
cortes liberais introduzem alterações significativas na legislação sobre o
vinho: mantêm os direitos exclusivos da Companhia mas retiram-lhe parte dos
seus privilégios e funções.
Em 1822 dão-se
levantamentos armados contra a carta constitucional, na chamada “Vila
Francada”, extinguem-se as Cortes e a Constituição e são restituídos os
direitos à Companhia. Porém, no ano de 1834, os seus poderes são extintos e é
fundada em sua substituição a Associação Comercial do Porto. Com Fontes Pereira
de Melo, em 1836, perderá definitivamente todas as suas atribuições oficiais. O
governante reduz os direitos de exportação e abole a taxa de guias de trânsito
do Vinho do Porto e cria a Comissão Reguladora da Agricultura e Comércio das
Vinhas do Alto Douro. Em 1838 é restaurada a Companhia por mais 20 anos.
Convém agora
referenciar algumas datas negras para o Douro: 1851, o aparecimento do oídio;
1863, aparecimento da filoxera: a doença mata milhares de vinhas e inicia a
maior crise que o Douro assiste, levando Governo, em 1872, a nomear uma
Comissão encarregada de visitar a região e estudar a filoxera; as vinhas
infetadas passam a chamar-se “mortórios”; três anos mais tarde começa a
utilizar-se o sulfureto de carbono para combater a doença, mas só a introdução
do “americano” eliminou a doença. Com esta crise são tentadas outras plantações
como é o caso do tabaco.
Por último, uma nova
tragédia abate-se sobre o Douro, em 1893, com um surto de míldio.
Em 1908, é corrigida
a demarcação da zona do Douro, com base nas freguesias, ficando a região com os
limites praticamente atuais.
Dois outros
acontecimentos violentos aconteceram no Douro. Em 1915, nos motins em Lamego
morrem 15 pessoas. Os manifestantes opunham-se a que o vinho oriundo de
Portugal com a designação de Porto e importado pela Inglaterra deveria de ser
acompanhado por um certificado das autoridades competentes portuguesas. Em 1921
há outras manifestações graves e violentas na região demarcada.
Se 1932 é a data da
Criação da Casa do Douro, no ano seguinte foi criado o Instituto do Vinho do
Porto por pressão dos ingleses (10 de Abril de 1933). Começava uma outra
história que contaremos proximamente.
23 setembro 2016
A humilhação coletiva de uma cidade
Como vimos cerca de duas centenas e meia de
pessoas foram castigadas pelos tumultos do Porto em reação à criação Real
Companhia de Vinhos do Alto Douro, entre as quais, cerca de três dezenas
condenadas à morte.
O Cabido da Sé do Porto apelou à clemência
por intercessão das mais altas individualidades do reino, mas de nada valeu. Em
cartas dirigidas ao rei, aos seus irmãos, ao Cardeal patriarca, ao Núncio
Apostólico, ao Bispo eleito do Porto, ao Duque de Lafões e ao próprio Sebastião
José de Carvalho e Melo afirmava-se que os factos foram extrapolados e que era
apenas uma ínfima parte do Povo que interferiu nos acontecimentos e nunca houvera
a intenção de ofender sua majestade.
A sentença foi aplicada de forma implacável
com a única nuance do marquês ordenar à Misericórdia do Porto que tomasse conta
dos órfãos que eram deixados, consequência da condenação à pena capital dos
seus progenitores, num total de vinte e três. Resolução pouco importante face à
natureza dos castigos, apenas serviria para mostrar à opinião pública a
benevolência do Rei.
A seguinte grande humilhação coletiva foi o
de sujeitar a cidade invicta a um controlo militar. No dia da chegada do
Procurador Real com ele veio o Regimento de Dragões de Aveiro. segundo os autos
exarados tivera um breve confronto com a população ciosa ainda da sua
liberdade. A este primeiro contingente juntaram-se os Regimentos de Infantaria
de Bragança e de Viana do Castelo e o de Cavalaria de Chaves, num total de 3000
homens. Acresce a este castigo um mais pesado que consistiu na obrigação de
aboletamento de todos aqueles militares, isto é a obrigação de pagamento do seu
alojamento e alimentação. O pagamento era suportado por imposto a que se
denominou “contribuição militar” que aos poucos os habituais privilegiados
foram saindo, restando o povo. Foi, pois, sobre a arraia-miúda que recaiu a
obrigatoriedade do pagamento do aboletamento chegando a Câmara a queixar-se de
famílias terem de vender roupa e móveis. Estranho fado este, trezentos anos
volvidos, porque quem paga são os mesmos de sempre
No dia 10 de abril de 1757 foi decretado por
carta real a extinção da Casa dos Vinte e Quatro que era o organismo
representativo dos mesteres e que indicava à Câmara o juiz do Povo, verdadeiro
governador da cidade. Este privilégio só seria restituído à cidade em 4 de
abril de 1795 por decreto do príncipe regente.
A vereação foi substituída logo após o motim
e este facto tem também de ser encarada como medida punitiva muito gravosa.
Por último, a execução dos condenados à pena
capital teve foros de crueldade que visaram também o castigo coletivo e a
humilhação. Assim os cadáveres esquartejados foram expostos durante largos dias
e só após vários pedidos, o presidente da Alçada se dignou retirar as cabeças
dos condenados e entretanto colocados nas saídas da cidade. Somente a 13 de agosto
de 1760, quatro meses decorridos, foram retiradas as forcas espalhadas pelas
ruas e subúrbios desta cidade” desde o tempo dos motins.
22 setembro 2016
Desobedecer ao rei é estar condenado à morte
Contada a história dos incidentes na forma de
protestos contra a Companhia que começou com a revolta das tabernas e degenerou
num levantamento populares das gentes do Porto a 23 de fevereiro de 1757, a
seguir se narra a resposta do ministro de D. José.
A reação prova que ele não foi colhido de
surpresa e estaria com certeza a par da insatisfação da população portuense. A
abolição regional de um instituto que lhe era caro e se enquadrava na filosofia
da política económica, protecionista e de monopólio que adotara para levar por
diante o desenvolvimento do país e que era pedra angular do exercício do seu
magistério. Para o marquês que era adepto de um poder central forte não “podia
transigir com a contestação às ordens reais por parte de uma plebe ignara”.
Cinco dias passados, a 28 de fevereiro,
assinava o decreto em que nomeava João Pacheco Pereira de Vasconcelos,
“Dezembargador do Paço e do meo Conselho” e concede-lhe todos os poderes, nos
seguintes termos “sou servido conferir-vos toda a juridisção para os devidos
efeytos sem restricção alguma, ordenando a todos os ministros a quem expedires
as referidas ordens, cumprão vossos mandados pronta e exatamente”. Os poderes
são totais para restabelecer a ordem e punir todos os implicados de um alto
vexame à cidade, na opinião de muitos, a disponibilidade de todas as tropas que
o Desembargador necessitasse, o burgo teria de as sustentar e aquartelar, como
se pode ler no decreto exarado a 3 de março de 1757. Era nomeada pelo rei uma
Alçada liderada pelo desembargador e equipada de meios humanos e materiais para
se fazer “justiça” isto é mostrar a todos que desobedecer às ordens do soberano
era estar condenado à morte.
O decreto de 28 de fevereiro revela um
primeiro juízo sobre a situação que não mais se viria a alterar e constitui
documento base para os executores da justiça. Os acontecimentos do motim da
quarta-feira de cinzas são “delictos tão atrozes” que só o “prompto e severo
castigo que sirva de exemplo aos maos” pode servir à Coroa.
Para punir bem e depressa foram dar plenos
poderes ao ministro do rei e seus acólitos e a devassa prolongou-se de 15 de março
a 24 de setembro. O marquês de Pombal mostra sinais de impaciência e manifestou
em missivas várias a morosidade da aplicação da justiça. Em 18 de Agosto, o desembargador
assegurava ao marquês que a justiça seria tão pesada que não mais haveria
rebeliões em Portugal. Enganar-se-ia, pois, cerca de um ano depois, a 3 de setembro
de 1758, aconteceria o regicídio. No entanto, a punição exemplar e desproporcionada.
Apesar da oposição de alguns juízes do
tribunal da Relação o crime de lesa-majestade e a sua punição como tal havia de
prevalecer com a argumentação de que a majestade não consiste só na pessoa do rei,
mas também nas suas leis.
A sentença é um instrumento de humilhação de
uma cidade briosa no seu poder e ciosa da sua liberdade e privilégios
ancestrais. Dos quatrocentos e
sessenta e dois suspeitos, os autos remetem para duzentos e sessenta e cinco
réus e prova-se “plenamente” o crime cometido pela plebe de “Alta Traição” pois
“esquecidos alguns dos seus habitantes da Religião, e da devida Fidelidade, em
que sempre se distinguiram os vassallos Portuguezes, se atreverão a comover com
a sua astúcia uma grande parte do ínfimo povo, que animado pelas vozes, dos que
o concitarão, formou um Tumulto”.
Continua a descrição pormenorizada dos incidentes referindo-se
nomeadamente que foram proferidos insultos a sua majestade caindo no horroroso
crime de “LESA MAGESTADE da primeira cabeça”.
Vinte e seis pessoas foram condenadas à morte
por enforcamento; cento e quarenta e dois castigados com diversas penas que iam
desde açoites, condenação a galés e confiscação de bens até à obrigatoriedade
de assistir ao suplício dos sentenciados; sessenta e três foram condenados a
seis meses de prisão: cento e noventa e cinco foram mandados soltar após
diversas audiências e apenas trinta e seis foram absolvidos.
Seguidamente daremos conta dos motivos da
redução das tabernas da cidade a um número certo e a confirmação absoluta da
Companhia do Alto Douro, se apontam os principais cabecilhas e se refere o
restante enredo deste tumulto.
Subscrever:
Mensagens (Atom)