24 setembro 2017

Sobre o uso de pepino para consumo (continuação)



 É um encanto apreciar com distanciamento as campanhas eleitorais, na nossa terrinha. Apontado o candidato, os promotores planeiam o “marketing” para campanha. Postar em placards a fotografia dos candidatos, em lugares estratégicos é imperdível. Os figurantes exibem-se garbosos no retrato, devidamente identificados e enquadrados, com um refrão vernacular a dar o toque. Depois no concreto, o importante passa a ser agir em conformidade, com o objectivo na vitória. Fantasias não faltam mas as promessas é que contam para arregimentar a maralha, para o trabalho que há para fazer. Dá a ideia de que alguns já terão nascido apoiantes da causa. Esses estão garantidos. Outros mais videirinhos aproximam-se pelo olfacto. A aderência à causa manifesta-se pelo cheiro que a brisa transporta na altura. Vestem nova camisa e outra virá se por azar perderem a refrega de momento e ficarem adiados os objectivos que acalentam. Estes mostram-se a cada tentativa, os mais devotos já que as comendas e juras se combinam com antecedência. Questionar a ética e coerência não se faz porque poucos conhecem esses valores. Sobram ainda os envergonhados, são geralmente os que trabalham por conta do patrão, que por azar anda envolvido. Estes marcam o passo pela necessidade de garantir por algum tempo, pelo menos a sopa do dia-a-dia. Fazem chorar com pena. Mas a vida é assim.
O teste de arregimentar a claque é considerado importante e antecipa a visão que se tenha para demonstrar capacidade e competência para depois “fatiar o bolo”, já que todos querer comer. É tradição muitos funcionários não resistirem à pressão e ao direito de meter férias em campanha. A lei poderia permitir o descalabro administrativo nesta altura mas, na realidade nem se nota. Afinal exigem-lhes que verguem a mola uns dias para voltarem novamente ao céu.
 Vem então a fase de campanha propriamente dita. É unânime a ideia de que é decisivo apostar nos velhos que restam, para os levar ao colo e, ajudar a votar no quadrado certo. Logo ali se organiza o grupo dos “taxistas” que na hora certa saberão fazer o transporte dos tristes que já não conseguem ir pelo pé deles. Na paródia da campanha a turba é posta como que a perseguir a cenoura que é empunhada pelos “líderes da manada”. Juntam-se então muitos automóveis a vozeirar. Serão depois contabilizados para que conste. Mais do que o que dizem as sondagens é um bom prognóstico ter a maior caravana automóvel da campanha. Para os comícios escolhe-se um reportório corriqueiro, até porque poucos há atentos e com bom ouvido para o que se irá repetir ad nauseam”.
O que importa é mostrar os candidatos ao povo. Com bom tempo é no largo do povoado que este se junta para receber beijinhos e ouvir quem tem direito à palavra. Nos intervalos, para dar tempo ao palestrante batem-se palmas, canta-se o estribilho e desfraldam-se as bandeiras. No termo oferecem-se aventais e camisolas, cantam-se “slogans” que rimem para espevitar a festa e dar a certeza firme da garantia na vitória. Com jeito e para matar a malvada mastigam-se umas febras com borneiro, bem regadas com tinto e louva-se o patrocinador.
A festa só acaba na sexta-feira. Há quem aproveite especialmente a altura para conhecer aquele que será o eleito e que nunca mais verá por perto. Com sorte tirará uma “selfie” para recordação.
O resultado vem depois pela calada da noite e costuma prolongá-la.

Francisco D´Aragão

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