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22 julho 2008

Ruralidades

Fui hoje pela primeira vez, na presente temporada, à piscina municipal descoberta.
Para uma entrada de 1.13 € é difícil arranjar trocos, quando não há outra forma de pagamento que o "cash". Tenham calma. Como já aqui opinei, não sou pelos arredondamentos que sempre prejudicam os consumidores. Por exemplo, um aumento da bica situa-se sempre nos cinco ou dez cêntimos que corresponde a uma percentagem de 10% ou 20%,quando de acordo com a inflação, o acréscimo seria de um ou dois cêntimos. Mas, imaginem pagar o "cafezito" por 51 ou 52 cêntimos... as moedas pretas ficam feias junto das outras...Este aumento até aos olhos do consumidor pareceria ridículo e não se esqueça que pertencemos à UE.
Voltemos à entrada... e ao bilhete de acesso e para mais quem se habituou à simplicidade do cartão da "coberta" é mesmo um grande incómodo. Modernices de outros patrões... Fim de tarde. Quase todos regressam. Muitos jovens a "pedantes", pelo meio da estrada, sem um passeio de jeito. Um amigo e a surpresa do encontro, "por aqui?" "eu venho, você já de saída", "trouxe os miúdos e está na hora". A conversa alonga-se e sabe a cerejas. Fico a saber que habitualmente ali vem da aldeia recôndita a uma boa dezena de km. Com os filhos traz sempre uma outra criança. Um desses desajeitados da vida, com poucas posses, órfão de pai, vive com a avó. Passa parte do tempo livre com os seus dois filhos, compartilhando aventuras e mimos, e até lhe arranjou uma preciosidade, uma bicicleta. Sôfrego de tudo, neste Verão também não lhe tem faltado umas "banhocas" essenciais ao seu crescimento. Na aldeia. Uma história exemplar.
Fresco e vitaminado do mergulho, medito no nosso egoísmo de civilizados egocêntricos. Pela “janela do mundo” lá da casa assisto “impávido e sereno” à crueza das imagens da “indiferença” dos banhistas que almoçavam e apanhavam sol ontem ao início da tarde na praia de Torregaveta, Itália, a escassos metros dos corpos de duas crianças ciganas que morreram afogadas. Não saberiam nadar e ter-se-ão afogado quando foram apanhadas numa onda. Poucos saíram da praia ou deixaram de apanhar Sol.
Na tal aldeia recôndita a "indiferença" ainda não tomou conta de todos.

24 janeiro 2008

Mau perder

Os Pioneiros entraram bem no jogo e fizeram logo o 1º golo nos primeiros minutos. O Carrazeda não tarda a responder e, pouco depois, faz o 1-1. O jogo estava animado, via-se grandes lances de Futsal de parte a parte e a equipa de arbitragem estava atenta.

Pouco depois, o Carrazeda faz o 2-1. Minutos mais tarde, num lance infeliz, o árbitro assinala um golo que apenas embateu no poste esquerdo da baliza dos Pioneiros.
A partir deste momento, os dirigentes dos Pioneiros, que perdiam por 3-1, exaltaram-se e a equipa de arbitragem teve que expulsar alguns elementos do banco.
Sem grandes argumentos para responder à equipa do Carrazeda, os Pioneiros protagonizam lances de alguma violência, o que levou à expulsão de um jogador violeta por carregar um atleta do Carrazeda que corria, isolado, para a baliza.
É, então, que os locais, após o livre da falta, fazem o 4-1. Os visitantes ainda conseguem reduzir para 4-2, mas o Carrazeda responde com 5-2 e finaliza a 1º parte.
Começa o 2º tempo e o Carrazeda volta à carga, aumentando para 6-2. Inesperadamente, alguns jogadores violetas abandonam o campo, ficando apenas 4 e o guarda-redes.
A equipa de arbitragem acabou por ter de finalizar o jogo, faltavam ainda 13 minutos para o final da 2ª parte com o Carrazeda a ganhar por 9-2.
Resultado: o futsal está um pouco mais pobre com o que aconteceu na vila duriense.
O treinador da equipa violeta, Zé Gomes, queixa-se de “muita arrogância” para com a sua equipa e do golo do Carrazeda que não entrou na baliza. O presidente dos Pioneiros afirma, até, que, nos últimos jogos, “os árbitros têm perseguido” a sua equipa.
Já para a direcção do Carrazeda, “tudo não passou de um acto anti -desportivo dos Pioneiros ao abandonarem o campo”.
No Nordeste

02 novembro 2007

Facilitismos

A afirmação da senhora ministra da educação à RTP1, de que ir ou não às aulas não deve ser relevante para a avaliação dos alunos é uma afirmação perigosa. A mais alta responsável da organização da educação em Portugal dá um sinal claro aos alunos e encarregados de educação de que a assiduidade não será um item importante de avaliação. Este é um precedente inacreditável pelo ideia de facilitismo inerente. Para quê dar-se ao trabalho de "aturar" os professores, frequentar as aulas não é relevante, pois uma qualquer prova pode ser suficiente para recuperar. E depois... até há novas oportunidades.

12 agosto 2007

O caso de Madeleine

Ou como a família McCann passou de bestial a besta.

Primeiro era excelente e porque fadados pela desgraça, todos queriam ajudar, depois é culpada e todos querem a sua condenação.

As circunstâncias que envolveram o desaparecimento da menina inglesa, em férias com os pais no Algarve, originaram uma enorme onda de consternação e solidariedade. A seguir a comunicação social mostrou-nos a realidade do rapto e abuso sexual de crianças, bem presente na sociedade moderna, exibiu caras e casos protagonizados por autênticos monstros que raptam, violam, sodomizam e maltratam crianças inocentes, apresentou complexas redes que traficam menores para satisfação de instintos meta/animalescos. Também a ficção mediática alimentada pela voracidade da imprensa alarmista viu “Maddies” por todo o lado e construiu percursos rocambolescos da criança arrastada pelos raptores um pouco por todo o mundo. O circo mediático, a visita ao Papa, o empenhamento dos famosos, a multiplicação de sites na Internet, também ajudaram nesta cruzada, era um dever de todos os mortais, particularmente as polícias universais encontrarem Madeleine viva.

Quando a história pela força do compressor mediático parecia ser conduzida para enredos dignos das melhores novelas e se esperava um epílogo feliz digno de um grande romance, a investigação policial vem criando perspectivas mais realistas e infelizmente sem esperança de encontrar a criança viva, A última linha de investigação tornada pública pressupõe que toda a história tenha terminado de forma trágica.

Os senhores McCann, um típico casal inglês, na sobriedade, na discrição de comportamentos, pois não se lava em lágrimas, não berra, não acusa, não faz gestos melodramáticos, não veste de luto, requisitos julgados necessários à dimensão da tragédia e, assim agindo, nada ajudam ao arquétipo da personagem sofrida do fado português. Depois, sacrilégio imperdoável, os media ingleses feriram o orgulho nacional e culpabilizaram a nossa melhor polícia e denegriram os bons costumes pátrios. Assim porque os McCann não vestem o fato da tragédia, não correspondem à imagem de vítimas e mártires, há que estender o dedo acusador e porque não, continuando a trama melodramática, colocá-los no centro da maquinação diabólica, isto é, torná-los algozes da própria filha. E qual metáfora do lobo e do cordeiro, se não foram eles foram os seus amigos. Seria o último grande acto da tragédia bem ao gosto da imprensa sensacionalista. E como ainda não há provas factuais, há que alimentar a dúvida, colocar o ferrete da maledicência e alimentar os mais obscuros desejos da populaça. Não há paciência.

18 junho 2007

Conta-me como foi...

A primeira vez que vi televisão foi em 20 de Junho de 1969 (com pouco mais de 9 anos de idade). O padre abriu-nos as portas de sua casa para vermos no seu televisor, o primeiro da minha aldeia, o que muitos julgavam impensável: Neil Armstrong a caminhar na Lua.
Sentados no chão e de boca aberta, porque como as imagens, aquela janela era uma maravilha…
Alguns dias depois recordo a conversa sobre a viagem à Lua com um habitante da aldeia que perante a minha insistência e explicações, me olhou incrédulo, reprovador e de forma decisiva pôs fim às minhas explicações: “Cala-te lá rapaz! É lá possível?! Não querem ver o fedelho, parece que é doido!”

Conta-me como foi


Ao ver a série televisiva da RTP1, “Conta-me como foi” (aos domingos), espanta-me como conseguimos sobreviver nas décadas de sessenta e setenta…

Bebíamos água dos poços, das nascentes e não da rede pública ou da garrafa e sabia bem.
Comíamos carne gorda, manteiga de porco, pão com manteiga, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora.
Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso. Não tínhamos frascos de medicamento com tampas "à prova de crianças", nem íamos ao médico ao mínimo sinal de febre, as mezinhas da mãe, a “reza” da entendida, tudo curavam.

Saímos de casa de manhã, brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa logo depois do “bater das trindades”. Ficávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso. Jogávamos ao pião, ao pino e a bola, quando a havia, até doía!
Criávamos jogos e fabricávamos os nossos brinquedos: do pau do sabugueiro, fazíamos as nossas armas. Da cortiça as rodas dos carros, de um pau apropriado a bilharda…
Brincávamos na terra suja, não lavávamos as mãos antes de comer e só tomávamos banho, às vezes numa bacia de plástico.

De Verão andávamos descalços, de Inverno, calcávamos socos e não tínhamos os pés rasos.
Quando andávamos de bicicleta, objecto demasiado raro, não usávamos capacetes.
Caíamos das árvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem processos em tribunal.
Havia lutas com punhos mas sem sermos processados.

Não tínhamos PlayStation, X Box. Nem televisão a cores. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet.
Tínhamos amigos - se os quiséssemos encontrar íamos á rua.

Acreditem ou não, íamos a pé para a escola; não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem, eles estavam do lado da lei. Se a professora nos repreendia ou castigava, eles davam-nos a dobrar.

Tínhamos liberdade e normas para cumprir; fracassos e sucessos; responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo. Hoje os nossos jovens não conseguem imaginar a vida sem computadores. Não acreditam que houve televisão a preto e branco. Porém, fomos felizes e… sobrevivemos.

16 junho 2007

História exemplar

A partir de segunda-feira, o bloco operatório do Hospital de Mirandela vai encerrar da meia-noite às 8h00, por falta de entendimento entre os seis cirurgiões que ali trabalham e a administração do Centro Hospitalar do Nordeste (CHN).
Actualmente o serviço funciona naquele período com um médico em presença física e outro em prevenção. Devido ao reduzido número de episódios de urgência cirúrgica entre a meia-noite e as 8h00, uma média de 0,6 casos diários, o CHN entende que não há necessidade de manter um cirurgião em presença física, propondo que fiquem dois médicos em prevenção. Em termos financeiros, isso significa que o valor das horas extras seria reduzido em 50 por cento.

Cinco dos seis cirurgiões já assinaram um documento, que enviaram para o conselho de administração do hospital, a dizer que não aceitam a proposta. "Deparamo-nos com uma recusa dos médicos ao regime de prevenção, nós não podemos obrigá-los a aceitar, o que significa que naquele período o bloco fica parado por falta de médicos", disse António Marçoa, vogal do conselho de administração. Alguns dos médicos em causa chegavam a receber 13 mil euros mensais em horas extras, um valor que pode ser bastante reduzido se essas horas extras forem prestadas em regime de prevenção. Marçoa afiança que o CHN "não vai voltar atrás".
"As urgências cirúrgicas funcionam normalmente das 8h00 às 24h00; no restante período os doentes serão encaminhados para Bragança", diz. Em Mirandela mantêm-se especialistas que podem acompanhar os casos urgentes até à capital de distrito.
O bloco operatório do Hospital de Mirandela vai encerrar entre as 24h00 e as 8h00 por falta de entendimento

No PÚBLICO

11 junho 2007

História exemplar

“Apartados”

A minha mãe fala-me muitas vezes dos meninos que tinham de ser apartados Durante três a quatro semanas, as crianças eram separadas da mãe e iam viver com uma mulher amiga que se disponibilizava para tal. Durante esses dias os filhos nunca viam as mães. As mães sim, à noite iam espreitá-los com imensa ternura, às escondidas. Não podiam deixar-se ver, se não o ritual quebrar-se-ia. "Quando tu foste apartado", a mim calharam-me dezoito dias, a tua apartadeira trazia-te sempre um brinquinho”, pelos vistos muito bem tratado, “nunca lhe pagarei” e sempre me ficou um grande carinho pela “apartadeira”. Mas qual era a necessidade de deixar os filhos longe das mães tantos dias? “Era para tirar o sentido à teta”… “depois, as crianças comiam muito melhor”. Isto acontecia por volta de um ano de idade, por alturas de se darem os primeiros passos e em que a mudança dos hábitos alimentares auspiciava um golpe rude, do delicioso leite materno passava-se abruptamente para o caldo e as batatas, assim a condescendente mãe demorava a”tirar o sentido à teta”, em prejuízo da sua saúde e até da criança e por isso precisava de ajuda. Mas só as pessoas que tinham vida para isso é que apartavam. No fim nada se pagava e esse grande gesto ficava em dívida para toda a vida.

27 maio 2007

Sinais

Fui à Reginorde de borla. Há alguns anos que não visitava a denominada feira das actividades económicas de Trás-os-Montes. Tarde de Sábado com poucos visitantes a contrastar com mais uma grande enchente no Feira Nova. Sinais dos tempos.

O certame tem vindo aos poucos a esvaziar-se da sua importância: menos expositores, menos público, menos impacto na região. As causas são várias: a cidade do Tua tem vindo a perder protagonismo no distrito face à acção centralizadora da capital do distrito, à dinâmica de Macedo de Cavaleiros, à desertificação humana e a outros condicionalismos também externos. Mirandela desfruta de uma centralidade regional e de uma riqueza económica e natural que teima em não aproveitar e desenvolver. José Gama, com os seus projectos um tanto ou quanto megalómanos (fruto da sua boa capacidade de captar as boas graças do poder político central no sentido de conseguir muitos milhões em tempo dos muitos fundos comunitários que chegavam), deu-lhe uma imagem urbana, moderna e pôs a cidade no mapa nacional. A urbe foi pioneira em eventos e infra-estruturas ditos modernos: cuidou da sua zona ribeirinha antes do programa POLIS, organizou a primeira feira das actividades económicas e teve o primeiro hipermercado do distrito, foi a primeira a realizar uma aposta no turismo com os jardins e o espelho de água no rio Tua… Presa à herança de José Gama, insuflada de muitos euros comunitários, por isso postiça e pouco sustentada, ainda não diversificou ofertas, optou por outros trilhos de desenvolvimento. O que não é fácil face à conjuntura da centralização e ao despovoamento do interior

Voltamos à Reginorde. O que o visitante pode intuir da mostra das actividades económicas do distrito? Os negócios regionais confinam-se ao comércio de automóveis (numa zona tão deprimida e pouco desenvolvida, como a nossa, onde se vai arranjar dinheiro para tanta e boa “máquina”?), aos materiais de construção civil e ao mobiliário, aos equipamentos para restauração, à informática e aos electrodomésticos, à venda dos muitos modelos de colchões ortopédicos (nova modalidade do negócio da banha da cobre?) e... ao comércio ambulante das roulotes em visível desenvolvimento. Pouco mais!… E o azeite, as alheiras, o turismo de habitação, os produtos agrícolas, a indústria, o artesanato...?

Na noite de Sábado, uma grande enchente com o filho do Tony Carreira. O circo mediático ditou as suas regras, pois "vou muitas vezes à televisão, logo existo".

25 maio 2007

História exemplar

Acidente de fim-de-semana

Este fim-de semana um casal de nossos conterrâneos, a viver fora do concelho, visitou a sua aldeia natal. Num breve passeio que fizeram ao campo, a senhora, de um modo infeliz, teve um acidente que lhe provocou uma fractura num membro superior. Eram cerca das 16 horas. Como é normal, procuraram assistência médica. Foram remetidos para o hospital de Mirandela e daí dada a impossibilidade de uma assistência capaz tiveram de rumar a Bragança, onde chegaram por volta das 22 horas. Isto é, seis horas depois. Lamentava-se a acidentada e o seu marido pela assistência tardia, pois se tivessem empreendido a viagem para o seu local de residência, no litoral, mais rapidamente teriam sido atendidos. "Porque é que não pensaram nisso?" Era a queixa que mais se ouviu! Pois é, eles tinham alternativa e nós?

16 fevereiro 2007

insólito

Alegadamente devido a falta de acompanhamento por parte dos serviços do hospital de Bragança, o funcionário de uma agência funerária daquela cidade acabou por levantar da morgue e entregar a uma família o cadáver errado. Uma mulher com 79 anos de idade faleceu anteontem a caminho do hospital de Bragança. O óbito foi confirmado nas urgências da unidade e o corpo encaminhado para a casa mortuária. A família contratou os serviços de uma funerária para transportar a idosa para a aldeia natal, Morais, em Macedo de Cavaleiros, e já na localidade, ao abrir a urna verificou que o cadáver pertencia a uma desconhecida.

29 janeiro 2006

Uma história de crianças

Hora de intervalo numa escola do primeiro ciclo. O sol de Inverno não disfarça o frio da estação, bem presente na aragem gélida e cortante. Meia dúzia de crianças entrega-se a uma brincadeira ruidosa que consiste em “enrodilhar-se” no chão húmido e fresco numa alegria colectiva e contagiante. O professor de vigilância ao recreio acerca-se rapidamente e interpela-as para se levantarem e pararem com a brincadeira que considera pouco apropriada para a saúde e higiene dos petizes. Os olhos inocentes levantam-se para o educador desmancha-prazeres pouco dispostos a consentir e obedecer à recomendação. Quase em simultâneo uma vozinha que se torna coro desafiador: “É bom sujar-se! É bom sujar-se! …” O slogan televisivo do reclamo à marca do detergente adquire uma força extraordinária que nenhuma ferramenta pedagógica por mais sofisticada consegue desarmar.

26 novembro 2005

História exemplar

Um homem, natural de Mesão Frio, região do Douro, foi ordenado padre aos 80 anos. Manuel Guedes Polidoro sentiu o chamamento, depois de um casamento feliz de 53 anos, do qual teve quatro filhos e, até ao momento, cinco netos.
Foi ordenado padre em Setembro, em Évora e é pároco naquele concelho, na freguesia de Monforte.

Esta quinta-feira, o sacerdote rezou missa pela primeira vez na terra Natal, em Vila Marim. Manuel Guedes Polidoro diz que quando era novo fez o curso de Filosofia no Seminário de Vila Real e já ai sentia a vocação, mas quis o destino que em vez de ir para padre, encontrasse a mulher da sua vida.

Tornou-se empresário e quando em 2003 lhe faleceu a esposa, sentiu-se mais atraído do que nunca pela vontade de abraçar o sacerdócio. Despojou-se de todos os bens e avisou os filhos que ia ser padre. Para Manuel Guedes Polidoro, voltar à terra natal rezar missa para os seus familiares e amigos foi um sonho e uma alegria q só tem paralelo nos momentos em que celebra missa e tem os filhos a assistir.



Na RBA

04 maio 2005

Quintas do Douro (2)

Conta-me o meu pai:
A procura do trabalho nas quintas do Douro era muito inferior à oferta.
A gente simples e pobre (eram quase todos) das aldeias da Terra Fria tinha uma de três soluções: deambulava a ribeira a mendigar trabalho, emigrava clandestino ou passava fome.
Com o coração cheio de esperança, lá se ia a caminho das quintas dos "Canais", da "Espanhola", da "Sr.ª da Ribeira", do "Ministro", do "Eng.º Faria", do "Chaves", do "Comparado", dos "Carris", do "Gouveia", do "Carvalho", do "Zimbro"...
Traçada no ombro, transportava-se a enxada que deveria ter um tamanho razoável, pois, de contrário faria torcer a “beiça” do feitor (sempre implacável e atroz); a tiracolo o saco de linho ou de serapilheira com o pão de centeio duro e amargo; nos lábios e no olhar a súplica do “Arranje-me lá trabalho pela alminha de quem já lá tem”. Caído no goto do “carrancudo” feitor lá vendia o suor e a alma por 25 tostões.
Eram “felizes” os admitidos. A jorna era de sol a sol quer chovesse, quer nevasse ou o sol desancasse. O trabalho de empreitada não admitia demoras, nem atrasos. O que se ficava para trás na função da poda, da cava ou descava, da redra… pagava com a vergonha do desconto no salário, a possibilidade de ser posto “em marcha” ou, principalmente, o constrangimento perante os seus pares. Irmanados na “miséria”, eram cruéis neste tipo de desgraça do próximo.
Para acompanhar o pão rijo levado de casa era servido o “caldo" de feijão ou feijaca, aguado, desenxabido e temperado com as larvas do dito e o unto rançoso.
À noite, doridos do trabalho e depois da mistela sorvida com grandes tragos, deitavam-se como o “gado” e a monte no “cardanho”, onde percevejos e piolhos se refastelavam com o sangue quente da “manada”. Anestesiados com o cheiro nauseabundo e extenuados pela dureza da "jorna", depressa dormiam. Porém não tinham sequer tempo para recuperar forças. De madrugada começava novo martírio.
Recebido o “pré” , o seu fado era igual aos que foram “rejeitados”. Continuavam na mesma - todos os mesmos desgraçados.