12 agosto 2007

O caso de Madeleine

Ou como a família McCann passou de bestial a besta.

Primeiro era excelente e porque fadados pela desgraça, todos queriam ajudar, depois é culpada e todos querem a sua condenação.

As circunstâncias que envolveram o desaparecimento da menina inglesa, em férias com os pais no Algarve, originaram uma enorme onda de consternação e solidariedade. A seguir a comunicação social mostrou-nos a realidade do rapto e abuso sexual de crianças, bem presente na sociedade moderna, exibiu caras e casos protagonizados por autênticos monstros que raptam, violam, sodomizam e maltratam crianças inocentes, apresentou complexas redes que traficam menores para satisfação de instintos meta/animalescos. Também a ficção mediática alimentada pela voracidade da imprensa alarmista viu “Maddies” por todo o lado e construiu percursos rocambolescos da criança arrastada pelos raptores um pouco por todo o mundo. O circo mediático, a visita ao Papa, o empenhamento dos famosos, a multiplicação de sites na Internet, também ajudaram nesta cruzada, era um dever de todos os mortais, particularmente as polícias universais encontrarem Madeleine viva.

Quando a história pela força do compressor mediático parecia ser conduzida para enredos dignos das melhores novelas e se esperava um epílogo feliz digno de um grande romance, a investigação policial vem criando perspectivas mais realistas e infelizmente sem esperança de encontrar a criança viva, A última linha de investigação tornada pública pressupõe que toda a história tenha terminado de forma trágica.

Os senhores McCann, um típico casal inglês, na sobriedade, na discrição de comportamentos, pois não se lava em lágrimas, não berra, não acusa, não faz gestos melodramáticos, não veste de luto, requisitos julgados necessários à dimensão da tragédia e, assim agindo, nada ajudam ao arquétipo da personagem sofrida do fado português. Depois, sacrilégio imperdoável, os media ingleses feriram o orgulho nacional e culpabilizaram a nossa melhor polícia e denegriram os bons costumes pátrios. Assim porque os McCann não vestem o fato da tragédia, não correspondem à imagem de vítimas e mártires, há que estender o dedo acusador e porque não, continuando a trama melodramática, colocá-los no centro da maquinação diabólica, isto é, torná-los algozes da própria filha. E qual metáfora do lobo e do cordeiro, se não foram eles foram os seus amigos. Seria o último grande acto da tragédia bem ao gosto da imprensa sensacionalista. E como ainda não há provas factuais, há que alimentar a dúvida, colocar o ferrete da maledicência e alimentar os mais obscuros desejos da populaça. Não há paciência.

Sem comentários: