02 janeiro 2016

De luto

O membro deste blogue, Helder Rodrigues, nascido em Mirandela e residente em Carrazeda de Ansiães faleceu na entrada do novo ano.

Professor durante muitos anos no concelho, interventor social e político da região, foi autor de variadas obras literárias, tais como: "A palavra na boca", Os Contos de Pedra", "A Salto” e duas outras de carácter social e cultural que retratam idiossincrasias carrazedenses, que são: "A festa de Santa Eufémia" e "Ciganos". A sua última obra "Terra Parda" é um conjunto de contos cujos protagonistas, no dizer de A. Pires Cabral, "são homens e mulheres rudes e inteiriços, talhados no granito e no xisto que lhes serviu de berço, aconchegados nos ditames da sua identidade cultural, que vivem histórias ora extraordinárias, ora banais muitas vezes salpicadas de tragédias, outras vezes de humor".

A sua presença assídua neste grupo espelhou sempre uma genuína aptidão para a reflexão, pautada por uma enorme capacidade de humor e doseada da sua invulgar apetência para o uso das palavras na poesia na prosa. Por vezes presenteava-nos com trechos ficcionais deliciosos que demonstram a sua rara competência na técnica da escrita criativa.

Para além de partir um valioso membro de “Pensar Ansiães”, e este blogue ficar mais pobre, é um amigo que nos deixa e também um pouco de nós se vai. A melhor homenagem que lhe possamos prestar é ler ou reler a sua obra.

A toda a família sentidos pêsames.

(foto retirada da sua página do facebook)

3 comentários:

Abcdesporto disse...

Neste momento de grande pesar venho junto da família e amigos expressar os meus sentidos pêsames pela partida eterna DESTE NOSSO Irmão - Dr. Hélder Rodrigues.

Que a sua Alma descanse em paz!

Fernando Gouveia disse...

Em memória de Hélder Rodrigues

Ontem, dia 2 de janeiro, foi a enterrar na sua terra natal, em Mirandela, o professor e escritor Hélder Rodrigues, que, durante largos anos, exerceu a sua profissão em Carrazeda de Ansiães, onde morava.

Não posso dizer que tenha privado com ele, pois as nossas vidas diferentes só raramente proporcionaram ligeiros encontros, ou em apresentações de livros ou em manifestações culturais no concelho. A notícia funesta da sua morte apanhou-me de surpresa e, na solidão da aldeia onde por acaso me encontro, lancei a mão ao seu “A Salto” para recordar um pouco das histórias transmontanas que ele tão bem sabia contar. Sem dar por isso, agarrado pela sua escrita genuína, li de um só fôlego as 120 páginas em que nos cria roteiros de vida de duas personagens, ambas bem enquadradas no caráter-tipo que melhor corresponde aos nossos conterrâneos. Pela voz de Malaquias, que conta na primeira pessoa a epopeia humana da emigração dos anos sessenta, e pela descrição do Aragão, onde se espelham todas as cambiantes de vidas que são locais mas espelham a universal natureza humana, em toda a sua grandeza e generosidade, mas também em momentos de crueza e calculismo, Hélder Rodrigues não se limitou a escrever ficções, pois deu-nos inteira, quase em transcrição fonética de rara fidelidade, a rudeza do falar das fragas, a justificar um glossário final de quase duzentos termos ou expressões recolhidas do manancial da fala das nossas aldeias.

Já tinha lido a sua última publicação de contos “Terra Parda”, em exemplar que teve a gentileza de me autografar no ato de apresentação em Carrazeda. Sobre a sua escrita, daquilo que dela me foi dado ler, já tinha escrito em tempos neste blogue que em cada transmontano que escreve há um pouco de Torga, como se a terra comum nos entrasse a todos pela escrita dentro. E reparei agora que no peritexto de “A Salto” lá está a invocação do Mestre de São Martinho da Anta, numa belíssima citação do seu “Diário”. O Hélder escrevia com as tripas, com a dor escondida deste ser transmontano que nos marca a alma, com o olhar de humanidade que reclama a dignificação do trabalho duro e do espírito de sacrifício que nos marca.

Com a morte precoce deste professor dedicado e escritor sensível, Carrazeda perde um grande intelectual, e mais do que isso, um cidadão carrazedense que deixou nas suas páginas as referências ao concelho e à sua gente.

Aqui deixo a minha simples homenagem, na certeza de que ele merece uma homenagem pública à altura da sua obra.

antonio disse...

Morre mais um Artista morre mais um Homem.
A.Pizarro