Comam-se alheiras
Conta-se que a alheira foi inventada pelos judeus
perseguidos e refugiados em Trás-os-Montes, que ao não consumirem carne de
porco, acabavam por ser facilmente identificados e perseguidos. Os judeus são
proibidos pela Torá de comer carne de porco, porque tem os cascos fendidos e
não rumina, sendo, portanto, impuro. Ora, para ultrapassar o imbróglio começaram
a fazer enchidos que diziam incluir carne de porco, quando o que tinham era
carne de aves e de outros animais. Os enganados cristãos copiaram o método,
introduziram no enchido a verdadeira carne de suíno e o processo revelou-se um
excelente petisco.
Nos últimos tempos as alheiras têm tido uma procura muito
grande e têm surgido com os mais diversos sabores, de javali, de perdiz, de
bacalhau, vegetarianas, de presunto, entre muitas outras. Porém, o tradicional
enchido com proveniência de Trás-os-Montes está em quebras de vendas. Encomendas
de várias toneladas, particularmente da conhecida alheira de Mirandela, têm
vindo a ser canceladas. Tudo por causa da associação de uma marca a que as
autoridades atribuem a contaminação de três casos de botulismo.
A quebra de confiança dos consumidores para com o produto e
baixa de vendas podem provocar um verdadeiro desastre na economia regional
porque as pessoas leem manchetes de jornais e associam o nome da marca “Origem
Transmontana” a todos os produtos de Trás-os-Montes. É necessário que se ajude a
fazer a distinção entre as duas situações e a acabar com a confusão que está a
ser criada entre a marca e os produtos da região transmontana.
Nos últimos tempos as alheiras têm tido uma procura muito
grande, a título de exemplo representa para economia da princesa do Tua cerca
de trinta milhões de euros anuais. Aproximam-se as denominadas “feiras de
fumeiro” verdadeiramente essenciais à economia do interior, de que dependem
muitas centenas de famílias. Os enchidos transmontanos são sem dúvida uma das
maiores atrações gastronómicas deste território, aonde muitos visitantes
retornam pelos seus pratos tentadores e cheios de tradição.
A região está longe dos grandes negócios e decisores
nacionais e poderá parecer um pequenino problema. Não o é. À escala regional é
um grande problema. E por isso será necessária uma forte reação das autoridades
de saúde, do governo através, por exemplo, do ministério da economia e das
instituições locais, mais não seja, para acentuar que, como todos os produtos,
também as alheiras, embora produto milenar, são certificadas e sujeitas a
processos de controlo da qualidade.
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