No Carnaval há aqueles que se disfarçavam de “entrudos”, porque mascarados se vestiam de roupas velhas para meter medo aos mais incautos. Alguns
também colocavam rendas na cara para não os conhecerem… Os desfiles percorriam em procissão as ruas da aldeia: as crianças
traziam zichos de canas de sabugueiro; os rapazes estoiravam bombas, compradas na
vila e outras no soto da aldeia e atiravam farinha aos transeuntes para desespero
dos mais sisudos.
Na serragem da velha, por esta altura, os miúdos e os moços
arranjavam umas latas velhas, todas amassadas, iam de casa em casa das pessoas
que, já eram avós e, raspavam com as latas nas paredes e gritavam:
“ Serra a velha minha avozinha, serra a velha minha
avozinha!”
Assim se ia pela rua fora arrastando as latas. Havia
senhoras que não gostavam da brincadeira e corriam atrás deles, ao contrário de
outras, que atiravam rebuçados e diziam:
“ Voltai para o ano,
meus filhos!”
Havia partidas como as cacadas. Juntava-se um grupo de
jovens com sacos de bugalhos anteriormente apanhados em segredo. Pela calada da
noite eram atirados na casa das pessoas escolhidas a propósito. O objectivo era
fugir para o bréu da noite logo que lançados. O barulho provocado assustava e
indispunha os presentes. Assim se cumpria a partida de Carnaval. Os bugalhos
podiam ser substituídos por cacos de panelas velhas de barro. A esta
"brincadeira" chamava-se "cacadas".
Os casamentos de Carnaval eram feitos da seguinte forma:
juntavam-se os rapazes e combinavam entre si e, logo depois, dividiam-se em
duas partes. Partiam para o ponto mais alto da aldeia, uns de cada lado, com um
grande funil que os faziam ser ouvidos em toda a aldeia, e, pronunciavam o
seguinte:
- Ó camarada! – diz um
- Olá camarada! – diz o outro.
- Vamos fazer um casamento ?
- Olha que vai de carreira. Casa o senhor Isaías com a
senhora Teresa Carreira.
E assim continuavam todos em verso até ao fim.
Na véspera do Entrudo usava-se partir o burro pelas moças da
aldeia e consistia no seguinte:
Cada peça do arreio e do corpo do burro era repartido pelo
mesmo processo, dizendo o que cabia a cada rapariga e para que servia.
Por exemplo:
À menina Maria que é a forneira
Leva as ferraduras
Para raspar a masseira
Os mais velhos colocavam-se, por vezes, nos sítios mais alto da aldeia e em altas vozes ou com um funil (aqueles de deitar o vinho nos tonéis) diziam mal das pessoas, criticavam namoros escondidos... contavam segredos e histórias que nem ao diabo lembravam. Chamava-se também deitar “as pulhas”. O falatório do sucedido e do ouvido durava dias e dias.
E depois apareceram os Zíngaros e as suas máscaras...
os bombos, a gaita de foles, as caixas, as tarolas, os clarinetes, o acordeão, os gigantones e os cabeçudos...
...para julgar o Pai da Fartura...
...para julgar o Pai da Fartura...
2 comentários:
Aqui deixo o meu comentário, porque penso que é aqui o sitio certo.
Concordo com o amigo ´Mário Carvalho, quando lamenta a ausência de comentadores, é triste na verdade. Gostei das fotos e da descrição das tradições, cousas que o tempo levou e a tradição já não é o que era e é mau.
Gostei muito da descrição e principalmente das fotos, ao qual o meu avó está presente e que fez parte dos zingaros tal como eu faço parte agora. :)
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