11 janeiro 2014

A perenidade de Portugal

A consciencialização do conceito de identidade nacional está associada, como já referimos, à difusão da imprensa e ao desenvolvimento das vias de comunicação ferroviárias que aproximam as regiões; à multiplicação das escolas; às grandes comemorações coletivas dos feitos nacionais, o tricentenário da morte de Camões (1880), o sétimo centenário da morte de D. Afonso Henriques (1887), a exposição do mundo português que comemorou a formação e a restauração do país; e à fórmula salazarista de Deus, Pátria e Autoridade. No entanto para Sérgio Campos Matos esta teoria é deveras reducionista, pois apenas valoriza a escrita, a administração, as comunicações e o ensino, sonegando a memória oral, a consciência de pertença a uma cultura, a uma língua e a um património antropológico comum.
Em Portugal usufruímos de particularidades como sejam, a escassez de minorias étnicas, religiosas e linguísticas e a falta de rebeliões, que nos distinguem dos outros povos e têm contribuído para uma relativa estabilidade e longevidade como nação independente. A nossa pequenez e relativo desconforto no contexto da Península Ibérica perante o apetite hegemónico, primeiro de Castela, depois de Espanha e por último de França não augurava um sucesso tão duradouro como nação soberana. Porém fatores endógenos e exógenos, que a História assinala, permitiram mais de oito séculos e meio de independência nacional, descontados os sessenta anos de domínio espanhol. Se a bravura, inteligência guerreira e especificidades várias permitiram a fundação da nacionalidade; se, na crise de 1383/1385, o sentimento nacionalista e patriótico adicionado à genialidade guerreira de Nuno Álvares Pereira assegurou a manutenção da independência, foi, como refere Herculano, “a rivalidade das grandes nações europeias que nos tem salvado” e a colaboração interesseira de Inglaterra, que, em diversas ocasiões, nos fez o peão dos seus interesses, face às rivalidades com espanhóis e franceses.
 Esta longevidade, esta pequenez, a falta de objetividade, o deslumbramento tem pejado de mitos diversos a História do país. Podem sintetizar-se nas seguintes conceções: origem exemplar, povo predestinado e tocado pelo sagrado católico, espírito de cruzada, epopeia marítima, vocação universalista, messianismo, saudade e fatalidade. A mitologia é celebrada na literatura, em festas populares e institucionais, nas escolas, nas ruas, nas conversas… em manifestações de celebração literária, particularmente poética que percorre a alma e cultura portuguesas.

(A teoria providencialista)


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