13 janeiro 2014

A teoria providencialista

A teoria providencialista acredita, pois, na fundação mítica de Portugal: Túbal, neto de Noé, fundou Setúbal e os seus descendentes fundaram o futuro reino. Porém, o maior mito presente na teoria é o viratiano que pressupõe a origem exemplar face a inimigos poderosos. Surge pela primeira vez no apelo espartano de Sá de Miranda para a preservação dos costumes, “Ouves Viriato, o estrago/ que cá vai dos teus costumes” (Carta a António Pereira, senhor do Basto, Quando se partiu para a Corte co`a Casa Toda); e continua em Camões “… com Viriato na inimiga / Guerra Romana, tanto se afamaram” (I, 26), que o considera o “patriarca militar dos portugueses” (Real 2011: 108) e como refere Machado “graças à educação escolar, passou a pertencer ao imaginário de todos os Portugueses.” (2010).
«O mito de Viriato insere-se na tradição de se acreditar que há uma relação de continuidade entre os Portugueses e os Lusitanos. Estes são considerados por etnólogos e historiadores um conjunto de povos mais ou menos homogéneos na língua e nos costumes que habitavam uma grande parte do território catual português quando os Romanos iniciaram a conquista da Península.»
«Viriato já não é, como era há pouco mais de cem anos, apanágio do conhecimento de alguns. Graças à educação escolar, passou a pertencer ao imaginário de todos os Portugueses.” (Machado.2010)
A teoria providencialista completar-se-á com o milagre de Ourique, que unge de sagrado o primeiro rei na forma da aparição divina e predestina o país à glória futura.
O mito de Viriato viria a ser contestado, pela primeira vez por Herculano que esclareceu que não havia qualquer prova documental do relatado e tudo não passava de pura efabulação. (Matos 2002: 125) e atribuía a independência às qualidades raras de estratega e coragem de D. Afonso Henriques. O golpe final sobre esta efabulação é de Mattoso (2008: 44): o país foi uma construção política e não teve qualquer génese natural, “Portugal não se distingue do resto da Península Ibérica por nenhum elemento diferenciador de caráter natural. O País foi uma construção de homens, e não da natureza.” A divisão administrativa foi muito mais uma convenção política e física do que pautada por traços de personalidade ou outros dos povoadores.
 As primeiras conceções de país estão associadas à ideia de rei e do caráter mítico e sagrado da “sucessão régia” Até D. Sancho I a chancelaria régia designava o monarca como rex portugalensium; só a partir de D. Afonso II aparece definida a designação atribuída ao país, denominando-se rex Portugaliae ou Portugalensis. O processo de atribuição de um significado à identidade nacional foi influenciado pelo uso de sinais, emblemas em documentos, moedas e bandeiras. Seria a batalha de Ourique a criar um primeiro símbolo visível a todos, a cruz azul em campo branco (Matoso, 2008).
A enumeração dos feitos de Portugal circunscreve-se às crónicas dos reis, à fundação de um mosteiro, ao milagre ou à vida de um santo. Será na segunda metade do século XVI que surge a primeira obra em que o sujeito são os portugueses, as Décadas de João de Barros. Contudo serão Os Lusíadas a protagonizar os portugueses como povo designado e ungido pelo seu passado glorioso e predestinado para grandes proezas.
O impacto da obra adquire uma tal grandeza que tem alimentado muitos sonhos utópicos acerca do destino nacional até aos nossos dias. A época das descobertas e da expansão portuguesa é sem dúvida a marca indelével que define o conceito de identidade nacional. “Camões conferiu-nos, coletivamente uma existência epopeica e desta insolação sublime nunca mais nos curámos” (Lourenço 2010: 152) e é visível o impacto da obra na atualidade - “a consciência nacional apareceu com um fulgor e uma presença que são ainda para nós uma nostalgia” (Idem: 156).

Este sentimento glorioso e ímpar do período da expansão portuguesa acordou na realidade crítica e de desilusão que se abriu aos nossos olhos no período posterior e deu lugar a múltiplas expressões culturais: o saudosismo, o sebastianismo, e o messianismo do v império, ou em movimentos como o Integralismo Lusitano, a Renascença Portuguesa ou a Seara Nova.

(Portugal num mundo globalizado)

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