A usança não muito antiga de prendar as crianças com
brinquedos por intercessão do menino Deus foi o pretexto para se introduzir em
montras e em lares a paisagem nórdica, onde uma árvore cintilante e ornamentada
expõe brinquedos que o velhote das barbas trouxe às crianças.
A árvore de Natal traz, porém, consigo a evocação do culto
tradicionalista da floresta, em que a personificação das coisas da natureza
toma aspetos de religião, cujo deus supremo era Odin ou Wolan, de espírito
essencialmente guerreiro.
Claro que os cultos nórdicos têm a sua poesia, mas não é em
Portugal o ambiente que lhes deve quadrar.
Na arte pictoral da nossa terra os temas do nascimento do
menino Deus, a adoração dos Pastores e dos Magos, enfim, a simbologia do presépio
ocupou sempre um lugar de honra.
E na inventiva popular, desde os presépios de barro, sempre o
caráter tradicionalmente cristão de Portugal se vincou sem a presença de
qualquer traço evocador das florestas nórdicas com natural ambiente de
frialdade nívea e niveal.
A candura da inocente esperança das crianças nas dádivas de
um menino Deus que lhes dê brinquedos, de noite, pela chaminé, não tem
comparação possível com a desgraciosa ideia de um barbichas insignificativo,
que traz os “bonitos” não sabem elas donde nem porquê.
Uma petizita que eu bem conheço ouviu falar no menino Jesus e
nos brinquedos que ele dava pelo Natal, quando ela punha o “sapatinho na
chaminé”.
Ora, um dia essa tal criança viu no jornal o velho Pai-Natal.
Indagou: “O que é isto?”
Disseram-lhe: “O Pai-Natal”.
A miúda não percebeu. Alguém ajuntou que o velho distribuía
brinquedos e os deitava pela chaminé. Mas, como tal função cabia em seu
espírito ao menino Deus, a petiza exclamou:
“… Ele parece mais um “gigante parlapatão”. Se calhar, ele
quer é tirar os brinquedos ao menino Jesus”.
Suponho que entre a imagem infantil de Cristo recém-nascido
nas palhas do presépio e o mostrengo de barbas brancas não há que hesitar na
escolha…
A nudez, na graça pueril, representa para os adultos a lição
da inocência da “criança divina”…
Os trajos vermelhos do velho apenas poderão lembrar o culto
do fogo!
Portugal, qual criança, aí tem o seu “novo Natal”…
…com novos “brinquedos” tirados, quiçá, ao próprio Menino
Jesus!
Carlos Fiúza
1 comentário:
NÃO HÁ ESTRELAS NO CÉU ... AS QUE HÁ, JÁ NÃO BRILHAM COMO "CINTILABAM OUTRORA" (...). COISAS DOS TEMPOS!...
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