15 outubro 2011

Árvore de Natal: Carlos Fiúza


A usança não muito antiga de prendar as crianças com brinquedos por intercessão do menino Deus foi o pretexto para se introduzir em montras e em lares a paisagem nórdica, onde uma árvore cintilante e ornamentada expõe brinquedos que o velhote das barbas trouxe às crianças.
A árvore de Natal traz, porém, consigo a evocação do culto tradicionalista da floresta, em que a personificação das coisas da natureza toma aspetos de religião, cujo deus supremo era Odin ou Wolan, de espírito essencialmente guerreiro.
Claro que os cultos nórdicos têm a sua poesia, mas não é em Portugal o ambiente que lhes deve quadrar.
Na arte pictoral da nossa terra os temas do nascimento do menino Deus, a adoração dos Pastores e dos Magos, enfim, a simbologia do presépio ocupou sempre um lugar de honra.
E na inventiva popular, desde os presépios de barro, sempre o caráter tradicionalmente cristão de Portugal se vincou sem a presença de qualquer traço evocador das florestas nórdicas com natural ambiente de frialdade nívea e niveal.
A candura da inocente esperança das crianças nas dádivas de um menino Deus que lhes dê brinquedos, de noite, pela chaminé, não tem comparação possível com a desgraciosa ideia de um barbichas insignificativo, que traz os “bonitos” não sabem elas donde nem porquê.
Uma petizita que eu bem conheço ouviu falar no menino Jesus e nos brinquedos que ele dava pelo Natal, quando ela punha o “sapatinho na chaminé”.
Ora, um dia essa tal criança viu no jornal o velho Pai-Natal.
Indagou: “O que é isto?”
Disseram-lhe: “O Pai-Natal”.
A miúda não percebeu. Alguém ajuntou que o velho distribuía brinquedos e os deitava pela chaminé. Mas, como tal função cabia em seu espírito ao menino Deus, a petiza exclamou:
“… Ele parece mais um “gigante parlapatão”. Se calhar, ele quer é tirar os brinquedos ao menino Jesus”.
Suponho que entre a imagem infantil de Cristo recém-nascido nas palhas do presépio e o mostrengo de barbas brancas não há que hesitar na escolha…
A nudez, na graça pueril, representa para os adultos a lição da inocência da “criança divina”…
Os trajos vermelhos do velho apenas poderão lembrar o culto do fogo!

Portugal, qual criança, aí tem o seu “novo Natal”…
…com novos “brinquedos” tirados, quiçá, ao próprio Menino Jesus!



Carlos Fiúza

1 comentário:

Anónimo disse...

NÃO HÁ ESTRELAS NO CÉU ... AS QUE HÁ, JÁ NÃO BRILHAM COMO "CINTILABAM OUTRORA" (...). COISAS DOS TEMPOS!...