06 julho 2011

Ipsis verbis: Miguel Torga - política

“ A política é para eles uma promoção e para mim uma aflição. E não há entendimento possível entre nós … Separa-nos um fosso da largura da verdade … Ouvir um político é ouvir um papagaio insincero.”

Miguel Torga

4 comentários:

Anónimo disse...

Ah! O Torga, essa alma sempre inquieta e em busca da verdade do Homem! É esse "fosso da largura da verdade" que também separa cada vez mais a maioria dos cidadãos da política e dos políticos!
Esclarecedor este texto, como o é, de resto, o de Santana Castilho! Com os exemplos que temos, esboroa-se qualquer réstia de confiança e de credibilidade!E a dúvida e o cepticismo instalam-se:como continuar, depois de tudo, depois de tanta decepção, a acreditar neste regime que se diz "democrático"?

Anónimo disse...

...nem mais com a agravante de ouvir um "politiqueiro" cá do conselho é ainda mais penoso, simplesmente porque não sabe falar...enfim, cada um dá o que pode!

mario carvalho disse...

realmente....

Parece que só temos 4 hipóteses:

-ou emigrar

-ou morrer

-ou fazer parte do sistema.. mesmo comendo sapos

-ou ser do sistema


ou...


REBENTAR COM O SISTEMA...


mas aí ... voltamos ao princípio



quanto eu gostaria de ouvir a opinião do Carlos Fiúza sobre este "desabafo"

cump

mario carvalho

Anónimo disse...

O autor do nosso mais antigo Dicionário, Morais e Silva, não ignorava que, etimologicamente, política era a técnica de governar a cidade (pólis) e, por extensão, o governo do Estado.
Este velhote da lexicografia acertou na transcendente significação de política, chamando-lhe “arte”, pois “arte” chamam os filósofos à verdadeira política prática.
Bastaria abrir as páginas de Lahr, para se ler:
“… a política prática pode considerar-se, não tanto como ciência propriamente dita, ainda que as suponha quase todas, mas
como arte e a mais difícil de todas”.
Afirmou um alto engenho certa vez que o homem é “um animal político”.
Alguém desprevenido, quanto ao sentido filosófico da asserção, há de exclamar - “político, vírgula”; e, como homem, não agradecerá a gentileza definitória; antes, a repudiará.
No entanto o homem é, de facto, um animal “político”, se a noção de “político” for esclarecida e prestigiada pelas luzes etimológico-filológicas e históricas.
Escrevi um dia: “o homem é um ser sociável. Ora, se o homem é um animal sociável, também por isso mesmo é um animal político, na essência desta noção. Ah! Mas os bípedes implumes, estes seres irrequietos que povoam a Terra, são crianças grandes; e estragam os brinquedos, e brincam com as coisas sérias. E assim foi possível que a palavra “política” em todas as línguas se abandalhasse, de tal modo que hoje muita vez apenas significa agitação, intriga à roda do poder”.
Mantenho o que então escrevi.
É pena a obliteração que se verifica no termo “política” e sua família vocabular; mas talvez pena ainda maior seja a fastidiosa presença de palavras, nascidas da “política”.
Na verdade, esta senhora “política” é muito prolífera. Tem uma filharada numerosa, pelo que não poderei traçar, agora, a biografia de toda a prole. Recordemos, porém, “politicagem”, “policote”, “politiqueiro”, “politiquice”, como dos demais derivados depreciativos.
Chega a gente a pensar que mais avisados andam aqueles que emendam o primitivo sentido de “política” e passam a considerar esta infeliz e desprestigiada palavra como símbolo de desentendimento.
Mude-se o homem… não a palavra!

Carlos Fiúza