«O paralelo destas notícias é simbólico. A boa vem de uma empresa privada. A má vem do Estado. Esta verificação parece uma profissão de fé na iniciativa civil e uma condenação da intervenção do Estado. Mas não é. Acontece apenas que alguns privados estão a cumprir os seus deveres e as suas funções. E o Estado não cumpre os seus. Na verdade, importa recordar que, sem o Estado, não haveria demarcação regional. Entreposto de Gaia, fiscalização ou regras de atribuição do benefício (complexo método de disciplina de produção). O que quer dizer simplesmente que, sem o Estado, não haveria vinho do Porto. A ironia, hoje, é que o vinho do Porto e, recentemente, os vinhos do douro persistem em existir apesar do Estado.
A REGIÃO DO DOURO, APESAR DE “ligada” ao mundo por intermédio do vinho há quatro séculos, é uma das mais isoladas e menos desenvolvidas do país.
Vicissitudes do comércio, do capitalismo e das políticas! E sobretudo drama da monocultura. O Estado sempre se interessou pelo Douro na exacta medida em que no rio construía barragens e do vinho obtinha receitas externas. Quando aquelas ficaram completadas e estas se diversificaram e passaram a depender muito mais de outros produtos e da indústria, a atenção do Estado diminuiu até desaparecer.
Vicissitudes do comércio, do capitalismo e das políticas! E sobretudo drama da monocultura. O Estado sempre se interessou pelo Douro na exacta medida em que no rio construía barragens e do vinho obtinha receitas externas. Quando aquelas ficaram completadas e estas se diversificaram e passaram a depender muito mais de outros produtos e da indústria, a atenção do Estado diminuiu até desaparecer.
Nos últimos 30 anos, as intervenções do Estado foram geralmente desastradas, a começar pelo contributo que deu para a destruição da Casa do Douro.
Positiva foi a sua acção em dois domínio. Primeiro, alguma legislação que pôs um termo ao privilégio comercial de Gaia. Segundo, o investimento na navegabilidade do Douro.»
António Barreto, in Público
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