O vínculo estabelecido pelo cartão de identidade ou outro
comporá alguma espécie de identidade própria que nos diferencie de qualquer
outro cidadão estrangeiro?
Haverá um conjunto de traços fundamentais comuns aos
portugueses?
Se sim, como os adquirimos e quais as suas particularidades?
Quais
os factos da história nacional que contribuíram à definição desta nossa
identidade?
Que valores se consideram herança coletiva para se poder definir
objetivamente a identidade?
Estas são questões colocadas por muitos
historiadores, etnólogos, sociólogos e outros investigadores.
As respostas carecem de objetividade e, não raras vezes, de
pouco ou nenhum rigor científico. Um das definições da alma portuguesa mais
citadas é a de Jorge Dias que aponta as principais caraterísticas que pintaram
a nossa alma: a capacidade de adaptação, a propensão para o poliglotismo e a capacidade de miscigenação.
É sem dúvida a época da expansão marítima, a idade do ouro de
Miguel Real, o “momento supremo da autoconsciência nacional”, que mais contribuirá para a formação do nosso caráter, assim chamado. Eduardo Lourenço escreve
que nos conferiu uma “existência epopeica”. Este momento que
presumivelmente confere um papel messiânico e profético atribuído a Portugal
faz parte do pensamento que atravessou séculos e chegou aos nossos
dias. Foi alimentado por grandes homens da cultura em várias épocas, como Luís
de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, Agostinho
da Silva, Lima de Freitas…
Na aceção de José Gil, será necessário proceder a essa inscrição, “para dar consistência ao que tende incessantemente a
desvanecer-se”. O importante parece-nos ser o de selecionar valores
que podem ter impacto na atualidade, independentes de raça, credos ou ideologia
que nos caracterize como povo que fomos ou queiramos ser. Esta concetualização
parece-nos determinante para ser partilhada, não porque se revelaram decisivos
numa certa época da história, mas porque podem ajudar “à conquista de autonomia
e sentido” para uma existência comum, e ser determinantes ao futuro
do país, particularmente em tempo de incerteza e de crise em que vivemos.
(a seguir "símbolos e valores identitários")
1 comentário:
Em que bases se apoiará Jorge Dias para a sua definição da nossa alma. A capacidade de adaptação a quê? A facilidade de miscigenação com quem e em que circunstâncias; as mulheres ou os homens ou ambos? O poliglotismo fácil de quem, dos cultos ou também dos iletrados?
Deve ter chegado a estas conclusões por intuição( e por uma intuição muito especial).
JLM
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