06 janeiro 2014

O que é ser português

O vínculo estabelecido pelo cartão de identidade ou outro comporá alguma espécie de identidade própria que nos diferencie de qualquer outro cidadão estrangeiro? 
Haverá um conjunto de traços fundamentais comuns aos portugueses? 
Se sim, como os adquirimos e quais as suas particularidades? 
Quais os factos da história nacional que contribuíram à definição desta nossa identidade?
Que valores se consideram herança coletiva para se poder definir objetivamente a identidade? 

Estas são questões colocadas por muitos historiadores, etnólogos, sociólogos e outros investigadores.
As respostas carecem de objetividade e, não raras vezes, de pouco ou nenhum rigor científico. Um das definições da alma portuguesa mais citadas é a de Jorge Dias que aponta as principais caraterísticas que pintaram a nossa alma: a capacidade de adaptação, a propensão para o poliglotismo e a capacidade de miscigenação. 

É sem dúvida a época da expansão marítima, a idade do ouro de Miguel Real, o “momento supremo da autoconsciência nacional”, que mais contribuirá para a formação do nosso caráter, assim chamado. Eduardo Lourenço escreve que nos conferiu uma “existência epopeica”. Este momento que presumivelmente confere um papel messiânico e profético atribuído a Portugal faz parte do pensamento que atravessou séculos e chegou aos nossos dias. Foi alimentado por grandes homens da cultura em várias épocas, como Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, Agostinho da Silva, Lima de Freitas… 

Na aceção de José Gil, será necessário proceder a essa inscrição,  “para dar consistência ao que tende incessantemente a desvanecer-se”. O importante parece-nos ser o de selecionar valores que podem ter impacto na atualidade, independentes de raça, credos ou ideologia que nos caracterize como povo que fomos ou queiramos ser. Esta concetualização parece-nos determinante para ser partilhada, não porque se revelaram decisivos numa certa época da história, mas porque podem ajudar “à conquista de autonomia e sentido” para uma existência comum, e ser determinantes ao futuro do país, particularmente em tempo de incerteza e de crise em que vivemos.

(a seguir "símbolos e valores identitários")

1 comentário:

Anónimo disse...

Em que bases se apoiará Jorge Dias para a sua definição da nossa alma. A capacidade de adaptação a quê? A facilidade de miscigenação com quem e em que circunstâncias; as mulheres ou os homens ou ambos? O poliglotismo fácil de quem, dos cultos ou também dos iletrados?
Deve ter chegado a estas conclusões por intuição( e por uma intuição muito especial).
JLM