Cerca de 70 pessoas manifestaram-se pela preservação do Vale
do rio Tua no pretérito Sábado. Do concelho, os simples dedos de uma mão
sobravam para os contar. Esta é uma luta que aos naturais nada diz. Para os líderes locais, tudo não
passa de folclore de uma "cambada" de ecologistas e
"idiotas" verdes e cruza os braços. Lamenta-se:
a preservação ambiental é a nossa maior riqueza e a base da construção do nosso
futuro. O último relatório da UNESCO não garante, por causa da intervenção na
barragem, a continuidade do património mundial. O futuro
perfila-se em tons de negro.
O vale do Tua é um ecossistema ribeirinho único na Europa,
que neste momento está ameaçado pela construção de uma barragem, acrescido da
irreversibilidade da “perda física” de parte da paisagem colocando em algum
risco o estatuto de Património Mundial da Humanidade. Acresce a implicação que
este “negócio” provoca na fatura elétrica dos consumidores que engorda a
elétrica que opera maioritariamente em Portugal. Concluo que nenhuma
compensação financeira pagaria as perdas. Porém, as contrapartidas são pouco
mais que nada: uma diminuta produção de energia que não é relevante para o
total nacional e uma mão cheia de nada para a região que vê degradar os seus
principais recursos: o ambiente e a paisagem e que nenhum projeto de Souto Moura há de mascarar.
A missão da Unesco que avaliou, in loco, a compatibilidade
da construção com o estatuto de património da humanidade, concluiu que “a
conservação da área classificada não está efetivamente garantida” e puxa as
orelhas à estrutura de missão do Douro que parece não assumir “as suas
competências de direção do plano de gestão” e adverte o governo para a falta de
aprovação e de consulta pública do projeto de linhas de alta tensão e de um
plano de gestão de área classificada.
Daqui resulta a avaliação de incompetência das duas unidades
de gestão que operam na região: a referida estrutura
de missão do Douro e a agência de
desenvolvimento regional do Vale do Tua que têm pessoas, técnicos e
presumivelmente meios (em nenhum lugar vimos, ouvimos e lemos o contrário). Um
relatório que retira estas conclusões, só poderia ter como consequência a demissão
dos responsáveis destas duas instituições.
Na segunda metade do mês de Junho, o assunto voltará à baila
na sessão do Camboja da Unesco, com a aprovação do relatório. Sobre a má gestão da causa
pública, posta em causa, a senhora ministra Assunção Cristas não
tira ilações, concluindo que tudo é positivo porque há cooperação e
transparência (?) e basta manter “o nível abrandado das obras”.
Devagar,
devagarinho se vai enchendo o ninho…
5 comentários:
Caro José Mesquita
óptimo artigo que eu tenho sugerido a quem , não conhecendo a realidade, se admira com a inépcia local..
Matam o irmão por causa de 1 metro de terreno ...para defenderem a honra dos antepassados e amouxam quando vem alguém de fora que lhes rouba tubo o que foi dos pais, dos avós, e de todos até aos princípios .. e que lhe deram o ser.. justificando-se com o :
que é que havemos de fazer? Eles é que mandam.. são os cães grandes!!
ou é mesma coisa que lutar contra moinhos de vento... como dizia um autarca
enfim ... FORTES COM OS FRACOS
abraço
mario
ps. Infelizmente nem no blogue , como anónimos , se manifestam
.....................
a foto é do amigo Renato Roque
Ah!
nem os filósofos de serviço aparecem
lol!
Um lapso imperdoável. Parabéns ao Renato Roque. Uma bela foto.
Já em tempos escrevi o que me sugeriu a emoção e as memórias de juventude a propósito do fim da linha do Tua. Trata-se, evidentemente, de mais um belo negócio para a maior empresa nacional de energia e de um acto de incultura política e desprezo dos valores por parte dos responsáveis políticos. O valor paisagístico, ecológico e identitário do vale do Tua não tem preço. Os que esperam receber um prato de lentilhas a título de compensações não têm consciência do património natural que o vale representa. Que as lentilhas lhes façam bom proveito. Quem tem alma transmontana não esquecerá que num certo momento do século XXI alguém traiu a identidade do vale do Tua.
Bravo, gostei muito do artigo.
Sobre o papel cívico da região, tudo está perfeitamente dito: uma indiferença brutal, tanto no sentido intrínseco de mágoa, como de visceral estupidez.
Como um dos fundadores do MCLT testemunhei isso in loco durante anos - e em relação a Carrazeda ainda há na memória uma "atenuante", já que a vigília de há anos na praça Camões em Lisboa foi feita maioritariamente por pessoas oriundas deste concelho.
Enterre-se a cabeça na areia, sim; a tempestade há-de passar. O problema é que depois desta não virá bonança.
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