22 abril 2013

LIVRE PENSAMENTO: João Lopes de Matos


Existem muitas correntes de pensamento. A grande parte delas obriga-nos a pensar segundo determinados cânones, coarctando-nos assim a nossa liberdade de análise e obrigando-nos a decidir limitados pelo nosso ângulo de visão.
Mas será possível uma liberdade total de pensamento e de acção?
Não estaremos nós sujeitos a muitas limitações?
O nosso cérebro não estará, à partida, sujeito à estrutura das suas células na capacidade de discernimento e decisão? O seu hard-ware não limitará as nossas capacidades de inteligência, memória, visão, audição? Acaso poderemos dizer que os cérebros, à partida, são todos iguais?
Dito ainda duma maneira mais ousada: será o cérebro um apoio da alma, que é igual em todas as pessoas?
E a vivência de cada um afecta ou não a igualdade de todas as almas? A família, o meio social,a educação dão a cada um de nós uma liberdade diferente? A convivência com os nossos pais, com os nossos irmãos e as pessoas que encontramos na vida deixam incólume a pressuposta igualdade à partida?
Parece que à medida que avançamos na nossa existência, com a aquisição de uma religião específica, de um ideal político próprio, de um peculiar humanismo, passaremos a ser diferentes uns dos outros, com modos próprios de pensar e agir e, em consequência, com juízos de valor também diferentes.
E como poderemos manter a nossa liberdade de pensamento e de acção durante toda a nossa vida?
Talvez optando por um caminho ousado de incertezas e de recusa de ideias feitas.
Uma pessoa toma conhecimento de todas as ideias e de todos os caminhos. No momento de decidir opta por um pensamento e uma acção. Logo a seguir, faz um esforço no sentido de a decisão não deixar marcas, a fim de permitir poder manter na próxima ocasião  uma liberdade total de análise e de decisão .A esta luz, a coerência não tem sentido porque se traduz numa prisão a uma decisão tomada. Também aqui não têm sentido peias próprias dos cerimoniais e rituais que enquadram as tomadas de posição dos maçons, nem o secretismo próprio desta e de outras seitas.
O livre pensamento implica, pois, uma abertura total de tomadas de posição e decisão, abertura que se fecha no momento em que se faz a escolha ,mas que volta à abertura inicial, logo que um problema fica, com maior ou menor acerto, resolvido.
Esta atitude carrega consigo uma capacidade enorme de entendimento dos outros ,um debate aberto e leal com os outros e que só momentaneamente se fecha na altura da necessidade de agir e avançar.
João Lopes de Matos

4 comentários:

Anónimo disse...


E as prorrogativas da pessoa? Onde é que ficam?

É a posse de um princípio ativo superior – a vontade livre – que leva a pessoa a construir o seu destino, através de caminhos originais, não contidos no determinismo da natureza dos instintos.

A balança inclina-se sempre para o lado do peso maior e os pesos têm sempre o mesmo valor; a vontade não é necessariamente arrastada pelo motivo mais forte, pois pode ficar na deliberação.
A vontade tem, portanto, pelo menos, o poder de se decidir ou não.
Além disso, a força dos motivos é mais subjetiva do que objetiva: varia de indivíduo para indivíduo e no mesmo indivíduo segundo as circunstâncias.
Por conseguinte, a vontade não pode ser indiferente aos motivos, porque ela segue a razão, mas estes não se impõem; podemos pensar no que queremos e podemos dar aos motivos o valor que quisermos.

É a vontade livre que nos dá autonomia, mas relativa, e independência, mas limitada por dependências inabaláveis.
Nem de outro modo podia ser, pois como existir independência absoluta no atuar, onde não há independência absoluta no existir?
Este foi o erro central de Kant.

Quando a pessoa se conhece como um todo próprio e tem consciência de se possuir a si mesma e não ser pertença de outrem, sente-se capaz de se dirigir no caminho da sua finalidade.
Ela é o fim de si mesma, e, por isso, não pode ser abaixada à condição de meio, que só tem valor em função do fim a que se destina.

"Esta atitude carrega consigo uma capacidade enorme de entendimento dos outros ,um debate aberto e leal com os outros e que só momentaneamente se fecha na altura da necessidade de agir e avançar".

(Esta frase de JLM deverá ser bem repensada - e aqui a subscrevo).

CF

Unknown disse...

Quando os génios falam e expôem livremente as suas ideias. Nós temos que aplaudir, agradecer e aceitar. Pois aprender é algo construtivo e tanto CF, como JLM,dão-nos essa possibilidade através do material que aqui vão publicando. obrigado.

Anónimo disse...

Só os amigos fazem comentários.Não é de acreditar na sua sinceridade.
JLM

Fernando Gouveia disse...

Meu caro JLM
"Não há machado que corte
A raiz do pensamento,
Porque é livre como o vento..." Lembra-se certamente do poema do Manuel Freire. Este afirma o que me parece uma evidência: o pensamento é livre! As questões que se coloca e que, penso, qualquer pessoa se coloca, têm a ver com outras realidades: a compreensão do mundo e a liberdade de acção. A liberdade de acção não é como a liberdade de pensamento, porque a acção exerce-se normalmente para o exterior de nós e, por conseguinte, vai interferir com a liberdade de outros. Ora, o viver em sociedade implica a harmonização das liberdades individuais com a viabilidade do colectivo, pelo que a sociedade se impõe e impõe a cada um dos seus membros certos limites à liberdade de acção.
Quanto à compreensão do mundo, que é a problemática que me parece subjacente à sua questão da igualdade na liberdade (referiu-se concretamente ao ambiente familiar e à convivência com outras pessoas para pôr em dúvida que a liberdade seja igual para todos), penso que a sua questão é boa, mas, mais uma vez, não se refere à liberdade de pensamento, mas à compreensão do mundo a que o nosso pensamento pode levar e às opções que, pelo nosso livre arbítrio, possamos fazer. Concordo que, nessa perspectiva, não somos todos iguais, já que alguns beneficiam de ambientes mais favoráveis à aquisição das bases de conhecimento do que outros e, dessa forma, o seu pensamento pode abranger um campo de referências mais vasto.
Apesar disso, há ainda um outro factor que pode interferir na nossa capacidade para fazer escolhas, a que se referiu o Carlos: a vontade. De facto, a vontade pode levar a superar condicionantes de base do conhecimento e, dessa forma, proporcionar a uma pessoa uma bagagem de conhecimentos que o leve a fazer escolhas mais bem fundamentadas.
Finalmente, o exercício da liberdade implica, de facto, conhecimentos. A liberdade em abstracto não tem grande expressão prática. O seu exercício, esse sim, é condicionado pelo conhecimento do mundo envolvente e pelas condições de vida: não é livre que não tenha resolvido a questão do pão! Sem o essencial à vida, a liberdade é um luxo!