16 janeiro 2013

VIAJAR PELO CAMINHO DE FERRO


Viagem pelo Caminho de Ferro…
Quando a tarde cai e de repente a noite toma conta dos meus passos, os dias são mais curtos, o frio chegou e, é bom estar junto da lareira.
Quando a neve abraça a serra no primeiro nevão do ano.
Quando a vinha se veste de cores douradas e, nas Ruas da cidade há um forte odor a castanha assada. As lojas enfeitadas com motivos que nos lembram o Natal.
Natal é quando o homem quiser. Mesmo que o calendário informe que estamos  em Novembro, mas já há iluminação, música nas catedrais de consumo e brinquedos para todas as idades.
Quando não escondemos  a idade, quer pelos cabelos brancos ou pelas rugas que o tempo cavou no rosto, surgem situações como esta: - Ao fim da tarde  entrei numa dessas lojas de brinquedos, fiquei fascinado  a contemplar os carrinhos com comando através de rádio. O empregado amavelmente explicava o funcionamento do brinquedo, havia carros que seguiam para a frente e depois acendiam a luz, buzinavam, e andavam em círculos. Outros, seguiam em frente, podiam virar à direita e à esquerda e era tudo comandado pela energia a pilhas  como alguns modelos de carrinhos fabricados na China. Havia carros para todos os gostos  e até com direito a desconto. Imaginei onde e como iria utilizar o carrinho vermelho que tinha escolhido e não comprei, porque aquele modelo estava esgotado. Também havia a possibilidade de comprar aviões e barcos que funcionavam  neste mundo do faz de conta, para dar largas à imaginação.
 O funcionário atento e perante a minha indecisão saiu-se com esta pergunta : - É para o seu neto? Que idade tem o menino ou a menina?!... Perante a inesperada situação  e sob o meu olhar comprometido  limitei-me a dizer baixinho. Não é o neto, é mesmo para mim. Logo desapareceu a sombra do funcionário.
O frio chegou e com ele a chuva, a neve e a Operação Natal em segurança da GNR. Há  maior vigilância nas estradas, para garantir boa viagem aos automobilistas que devem circular com cuidado, devido às condições meteorológicas. As casas ficam com mais luz, brilham os presépios e as árvores de Natal e na noite de “consoada” reúne a família, os filhos que chegam de outras paragens, para cumprir a tradição. Na noite do dia 24  jantar em família, da ementa  consta bacalhau couves e batatas cozidas, o polvo  e outras iguarias próprias da quadra, o importante é estarmos todos reunidos. Depois do repasto há a missa do galo no dia 24 e, a distribuição de prendas que , o Menino Jesus oferece aos meninos que se portaram bem. O meu pai como já viram no texto acima, portou-se bem e sentiu a alegria de receber a sua prenda, embrulhada com um papel resistente, para evitar a curiosidade daquele “menino “ de cabelo branco.
Ficou  emocionado ao receber a máquina, carruagens, carris  e comando de um comboio, que corre, corre numa viagem fantástica com alguma velocidade. À sua mente acorreram recordações distantes do tempo em que semanalmente embarcava no Domingo à noite no Tua para Ermesinde e na Sexta à tarde de Ermesinde para o Tua, na linha do Douro e durante alguns anos. Naquela linha conheceu gente que se deslocava da cidade da Régua para a cidade do Porto, onde trabalhavam diariamente e utilizavam o comboio de manhã e à noite no regresso a casa, para descanso do corpo e o conforto do caldo ao jantar, o carinho da mulher e filhos. Na madrugada do dia seguinte lá iam de comboio para o trabalho, gente simples, anónima com um sorriso que sofre e luta para viver com dignidade.
Já vivi este filme e  águas passadas não movem moinhos. Agora vou cuidar do meu comboio. Tentar aumentar o tráfego, criar linhas e horários que melhor sirvam a população da minha cidade. Comprar carruagens mais pequenas, mas confortáveis, para  que os turistas que nos visitam se sintam bem. Parar a máquina nas estações certa e informar os interessados que há pinturas rupestres que podem observar, que têm milhares de anos. Podem tirar fotografias para mais tarde recordar. O comboio segue  e tem outras paragens no Cachão da Valeira com a história do naufrágio da D. Antónia - a Ferreirinha-  e com a companhia do  barão de Forrester que aí perdeu a vida. Observem o trabalho a construção deste túnel na linha do Tua, trabalho manual, feito com  homens corajosos que romperam e traçaram esta linha. E a beleza das estações de Foz Tua, de Freixo de Espada à Cinta, Barca d’Alva  e a  lindíssima estação do  Pinhão.
Viajar assim não vai ser fácil, mas há vontade de construir, para quem sabe um dia, convidar os meus amigos, a família e  embarcar nesta viagem rumo ao reino da fantasia.
Manuel barreiras pinto    2013/01/15

1 comentário:

Fernando Gouveia disse...

Muito bem, Manuel. É bom deixar espraiar a nossa fantasia pelas memórias do que foi e pelos sentimentos que permanecem. Um abraço amigo.