21 março 2010

Privatizar agrava o despovoamento do interior

Manuel Alegre na sua deslocação a Bragança para jantar com apoiantes pôs o dedo na ferida e amplificou uma das poucas razões essenciais que deveria unir todos os homens do interior. Por outro lado, temo que estas jornadas de pré-campanha eleitoral para as presidenciais e toda a carga de preconceito que transportam nos desviem o essencial. Para prevenir qualquer mal-entendido, direi, não sou apoiante de Manuel Alegre nem quiçá seu putativo votante, porém o que afirmou é merecedor de todo o meu acordo. Refere o candidato presidencial que a privatização de serviços públicos, «ainda por cima rentáveis», não tem como objectivo «uma melhoria da sua gestão e uma resposta ao interesse público, mas apenas querer obter rapidamente uma receita extraordinária». Alegre acrescentou com toda a razão que "a economia pública é um dos últimos obstáculos contra a desertificação"
Trocando por miúdos e para todos aqueles mais distraídos ou com problemas de memória, recordo que após as primeiras passagens das tranches de acções da EDP do domínio público para o privado significou o encerramento em todos os concelhos de interior do país das delegações e postos da eléctrica nacional, o que implicou o encerramento e a deslocalização de muitos postos de trabalho. O mesmo aconteceu com a banca, os seguros, os telefones e muitos outros serviços públicos alienados à iniciativa privada. O mesmo sucederá com a anunciada privatização, entre outras dos CTT e a entrega definitiva ao sector privado da REN e da GALP.
Encerrar serviços públicos tem repercussões graves que são visíveis particularmente no interior, pois a lei da oferta e da procura não prevê a continuação do funcionamento de serviços que servem as populações e que deveriam constituir uma exigência do Estado e merecer a solidariedade de todos os contribuintes.
Como refere Adriano Moreira a interioridade não pressupõe a desistência com risco da própria integridade nacional.

8 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que o poeta, Manuel Alegre, pensa assim. Confesso que, é bom ouvir-se, em Trás-os-Montes, estes gritos de revolta. Será que estes não são mesmo os "gritos das fragas"? Creio bem que sim!

Em relação às privatizações, apesar de não ser detentor de grandes conhecimentos e apetências pela temática, pois isso, é para os economistas, gostava que alguém me descrevesse, em termos telegráficos, o que é que os portugueses beneficiaram, em termos de substância, com as privatizações que foram efectuadas até hoje.

Por sua vez, a meu ver, penso que quem lucrou com elas, foram aqueles que foram nomeados pelo Governo. Esses sim, beneficiaram com as privatizações! Por isso, é comum dizer-se: "money for the boys!", fruto do montante que cada um deles recebe (e não só!).

Neste momento, a privatizar as empresas de que se fala no texto, quem nos garantirá, por exemplo, no caso dos CTT, que a nossa correspondência tenha a sua distribuição garantida, em Trás-os-Montes, no futuro? Creio que ninguém, de boa-fé, nos pode dar essa segurança absoluta já que, as empresas depois de privatizadas, como sabemos, são dos accionistas e, estes, desculpem lá, mas só pensam no lucro, investindo o menos possível. Aquele que disser o contrário, está, obrigatoriamente, a faltar à verdade.

Cumprimentos,

LVS

mario carvalho disse...

Depois de estar tudo privatizado,
sem saude , sem justiça. sem educação, sem segurança, sem futuro, continuamos a pagar impostos porquê ??!! ou para quem??!!

Para que queremos ou temos de pagar a uns milhares zombies narcisistas que se autonomeiam, autorenumeram e autoavaliam.. vulgo.. Governo e instituições??


Como será reconhecido este periodo da nossa História daqui por 40 ou 50 anos??!!

Anónimo disse...

Há muita confusão nas vossas cabecinhas. Por um lado são contra as privatizações, por outro lado são contra as empresas públicas. Senão vejamos: - Ouvimos Alegre criticar os altos vencimentos do Gestores públicos, mas não criticou os altos vencimentos do gestores privados que em alguns casos até são maiores. Depreende-se então que é a favor dos gestores privados. Logo privatize-se tudo e já não teremos de criticar os altos vencimentos dos gestores, porque isso é lá com os privados!....

mario carvalho disse...

http://vimeo.com/10326205


pare escute e olhe nos cinemas em Abril

Anónimo disse...

Não vou fazer nenhum comentário sobre a temática: “privatizar agrava o despovoamento do interior”, mas tão só, tecer algumas considerações acerca de uma notícia publicada no seguinte endereço electrónico:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content id=23912
subordinada ao título: “PEDÓFILO VAI SER JUÍZ!!! SÓ MESMO EM PORTUGAL …

Com efeito, quando o magistrado Rui Teixeira é vetado para uma promoção a que tem direito pela nota meritória da sua avaliação, certamente por ter cometido o erro, de mandar prender suspeitos de pedofilia, pasmem meus senhores, pois neste mesmo país, o NOSSO, o acusado pedófilo Hugo Marçal vai poder frequentar um estágio para Juiz...

Custa acreditar mas, o melhor, para quem tem dúvida, é consultar o Diário da República - 2.ª série, com o número 802.

Isto é uma vergonha.

Meu pobre país, para onde vais!!!...

Escandaloso: HUGO MARÇAL ... JUÍZ ...!!!

Digam-me que isto é mentira!!!!!

Este processo das crianças violadas vai mesmo ficar em "águas de bacalhau". É incrível a passividade do povo português face a este escândalo da pedofilia. Tem que se fazer justiça!

"Hugo Marçal está em vias de ser admitido a frequentar o curso de auditor de justiça do Centro de Estudos Judiciários. O nome do arguido no processo de pedofilia da Casa Pia vem publicado no Diário da República de 17Out2009, entre centenas de candidatos a frequentar
A escola que forma os juízes portugueses, mas ao contrário dos outros, Hugo Marçal “não” vai prestar provas, pelo facto de ser Doutor em Direito - grau académico que terá obtido em Espanha - está por Lei «isento da fase escrita e oral» e, tem ainda, «preferência sobre os restantes candidatos».

Neste caso, temos como Resultado: o advogado de Elvas está na prática à beira de ser seleccionado para o curso que formará a próxima geração de magistrados!

O nome de Hugo Manuel S. Marçal surge na página 4961 do Diário da República - 2.ª série, com o número 802, na lista de candidatos a ingressar no CEJ (Centro de Estudos Judiciários).

Se concluir o curso com aproveitamento e iniciar uma carreira nos tribunais - primeiro como auditor de justiça, depois, como juiz de direito – Marçal terá também o privilégio de « não ser julgado num Tribunal de primeira Instância».

Ah, pois é!! É o país que temos!!! Isto é escandaloso e um atentado à dignidade deste país, meus senhores. Será que o povo não vai saber e actuar em conformidade com este escândalo, ou já não tem dignidade, e não se importa?!...

Cumprimentos,

LVS

Unknown disse...

Nalguma medida eu acho que o meu amigo Prof. Mesquita tem razão.
Só me apetece condenar aqui alguma aversão à mudança e à racionalização dos serviços.
Como poderão certas burocracias persistirem se elas se mostrarem de todo injustificáveis?
Como poderão certos serviços permanecer abertos não existindo utentes que o justifiquem?
Alguma adaptação às novas tecnologias e às novas realidades será sempre necessária.
Se não formos capazes de criar vida própria, então tudo o que é acessório desaparecerá mais cedo ou mais tarde.
Sabe o que lhe digo:
Façam-se as estradas e talvez então passe a haver mais movimento do e para o interior e talvez este ganhe dinamismo.
JLM

dapaz disse...

Viva Mesquita,
A publicação despertou a minha curiosidade e resolvi pesquisar sobre o assunto, espero que contribua de alguma forma para o teu blog.

Existe evidência empírica de que durante o período 1990-1996, num conjunto de 85 empresas de 13 países em vias de desenvolvimento (nesta amostra, Portugal está incluído) e 15 países industrializados, a completa ou parcial privatização implica aumentos de rentabilidade, de vendas, de eficiência operacional e de pagamento de dividendos. Também implica a diminuição dos níveis de dívida das empresas. Também é interessante referir que os níveis de investimento durante este período diminuíram assim como o emprego, no entanto, segundo os autores estes dois últimos resultados não são estatisticamente significativos.
A publicação está em: http://faculty-staff.ou.edu/M/William.L.Megginson-1/prv90pap.pdf

Em relação à opção do governo em proceder às privatizações, a meu ver já se tornaram imprescindíveis para o cumprimento do PEC apesar do timing da oferta pública não seja dos melhores. Porém, é um erro colocar tudo no mesmo saco (CTT, REN, TAP, EDP, GALP,...). São empresas diferentes que devem ser analisadas segundo várias ópticas tais como concorrência, existência de monopólios naturais, regulação no sector, valorização dos mercados e rentabilidade da própria empresa - pois ninguém está disposto a investir numa empresa que acumula perdas ano após ano. Por isto, creio ser muito mais exequível e do interesse nacional uma privatização da GALP do que dos CTT. A ideia é a seguinte, o que Estado perde através dos dividendos da empresa tem que ser compensado por um acréscimo no IRC, entre outras variáveis.

Em relação ao impacto que isto tem no Interior, é um facto que não combate a desertificação mas isso não pode ser impeditivo de aumentos de eficiência na economia portuguesa como um todo. Mas para isso existe o Estado, tem de ser chamado a desempenhar esse papel de diminuição das desigualdades regionais através de investimento público pelo menos numa fase inicial para que possa estimular posteriormente o sector privado. Governo após governo, seja de esquerda ou de direita, todos têm estado empenhados em adiar esse compromisso.
Abraço,

David

Anónimo disse...

Fazer (em) farrapos

É hoje mais frequente ler-se e ouvir-se "fazer em farrapos" ou "em pedaços".
Não obstante, a omissão do "em" tem igualmente foros de vernaculidade, e ainda se topa na escrita camiliana.

E se o "povo" o diz, se os Mestres o "escrevem", qual a razão de uns tantos "iluminados" não o levarem à prática?!

Será isto a "Vox populi" ...
ou "vox argenti"?


Carlos Fiúza