Nunca bati em ceguinhos

Chegou a altura de mudar de página. Isto para dizer que decidi dar por finda a minha rubrica a que dei nome de “Mentiras Piedosas”. Ali assumi a função de identificar as “mentiras” que pude encontrar na gestão da “ coisa pública”. Fi-lo sempre ciente de que estes responsáveis pela “ coisa pública”sabiam o que faziam e que toda a sua prepotência, toda a sua arbitrariedade, toda a incompetência resultava de gente consciente do resultado dos seus actos. Não se tratava do “ ceguinhos indefesos”. Terá sido uma participação inconsequente! Dificilmente se saberá. Importou-me sobretudo afirmar um testemunho pessoal da avaliação do desempenho dos nossos responsáveis concelhios, direito que é de todos. Mais do que as consequências, importou-me sobretudo marcar a posição de quem opina sem medo. Evidentemente que o género usado poderia ter sido mais agradável. Já tinha experimentado sem resultado, participar em jeito mais edificante. Este facto deu-me o direito de experimentar de outro modo. Foi assim que acabei a cumprir durante algum tempo o papel que o meu avô Américo desempenhava antigamente nos Carnavais. Na altura denunciava ele, em cena pública, o que ao longo do ano passava de jocoso e lastimável para, por fim, culpar o Entrudo do mal denunciado. Para lá do seu virtuosismo, admirei-lhe sempre esta coragem. A ele dedico este esforço de o ter tentado imitar, ao meu modo.
Em momentos de opressão e de tentativa de inibição por que muitos passaram durante a longa escuridão da gestão autárquica anterior considerei útil este meu desempenho, como prova de que alguns não se vergaram nem perderam o sentido cívico que tanto escasseou. Não desejo que volte a necessidade de alguém reassumir tal desempenho, do mesmo modo. Dou por finda a missão. Resta-me pois agradecer a compreensão e contributo dos amigos e, convidar os órfãos anónimos que nunca me largaram, a procurar noutro lugar a maneira de descarregar as suas frustrações e cobardias.