22 abril 2008

A LINHA FERROVIÁRIA DO TUA E O FUNDAMENTALISMO DO BETÃO - Paulo Rica no Público

A barragem do Rio Tua pode ser um investimento interessante para a empresa que a vai explorar, a EDP, mas provocará, sem dúvida, uma perda irrecuperável do transporte público, da paisagem e da agricultura de Trás-os-Montes, que se tornará mais pobre e despovoada.
Rui Rodrigues

A linha de via estreita do Tua foi construída no final do século XIX e início do século XX, desde a foz do Rio Tua até Bragança, numa extensão total de cerca de 133,8 quilómetros (Km), tendo sido desactivado o troço de Mirandela a Bragança, de 81 Km, no ano de 1991. A construção da linha desde a Foz do Tua até Mirandela, sobretudo os vinte quilómetros iniciais, comparável a algumas vias nos Alpes, foi uma obra de muito difícil execução, tendo sido concluída em 1887. Durante vinte anos, Mirandela foi o fim da linha mas, a partir de 1905, chegou a Bragança o que, naquela época, representou uma grande melhoria da mobilidade para as populações daquela região.

O encerramento do troço de Mirandela a Bragança foi envolvido em polémica, pois foram gastos 300 mil contos (1 milhão e meio de Euros) pouco tempo antes do seu fecho, em 1991. Ficou por explicar esta despesa, sobretudo pelo facto de uma capital de distrito de Portugal ter ficado sem via férrea. Na altura houve alguma contestação, que quase desapareceu, após várias promessas de substituição do comboio por autocarros nas povoações afectadas. Infelizmente, passados cerca de 18 meses, após o encerramento da via, também os autocarros foram suprimidos e as populações ficaram sem qualquer transporte público.

O transporte de mercadorias que o comboio facultava foi outra das grandes perdas para aquela região. Esta é, aliás, uma das maiores queixas de algumas povoações. Para se ter uma ideia desta situação basta dizer que um construtor perto de Azibo (30 km a norte de Mirandela), para encomendar cimento, só pelo serviço do transporte de camião até ao Pocinho, paga cerca de 500 euros. Outro tipo de mercadorias, tais como adubos, cereais, cortiça etc., eram transportadas por via férrea. A perda deste modo causou graves danos na economia local e as consequências, hoje, são visíveis porque o abandono das estações ferroviárias, que existiam, provocaram desemprego e emigração e consequente despovoamento.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA BARRAGEM

Recentemente foi anunciada a intenção da construção de uma barragem no Rio Tua, o que poderá representar o desaparecimento do único troço ainda em funcionamento da linha, com mais de 120 anos de existência. A linha ferroviária do Tua ficará praticamente toda submersa, se for aprovado o projecto da EDP para a construção da barragem, com uma cota de 195 metros. Mesmo que se opte pela cota mínima, os últimos 15 quilómetros da via do lado da Foz do Tua irão desaparecer.

Para a EDP que a irá explorar, pelo período de 75 anos, este é um investimento interessante, porque a nova barragem terá uma capacidade de 324 megawatts, embora, neste caso, a energia eléctrica que vai ser produzida seja insignificante para colmatar as necessidades do País. Uma das ideias que têm sido propostas, antes de se construir novas barragens, seria aumentar a potência das que já existem, o que permitirá, com baixos investimentos, obter maiores proveitos.

Um dos problemas de Portugal é a baixa eficiência energética, devido aos grandes desperdícios que se verificam no nosso país. Esta deveria ser a maior aposta a cumprir nos próximos anos. A nova barragem só iria criar postos de trabalho durante a sua construção. Terminada esta, o número de pessoas necessárias será quase nulo.

Os grandes prejudicadas com este projecto são, sem dúvida, as populações locais, uma vez que o encerramento definitivo da linha do Tua vai eliminar um serviço público de transporte, no acesso ao Porto (via linha do Douro) e a Mirandela. Outra consequência consistiria na perda de rendimento para os agricultores, vinicultores e outros trabalhadores agrícolas na inundação das terras que são a sua única base de sustentação económica. O turismo seria afectado porque, actualmente, a linha do Tua atrai milhares de visitantes nacionais e estrangeiros.

O turismo e agricultura da região são duas actividades não deslocalizáveis que a região não pode perder; caso contrário, toda aquela zona do país ficará mais pobre. Se a linha do Tua desaparecer, provavelmente vão ocorrer as mesmas consequências que se verificaram no troço encerrado entre Mirandela e Bragança, onde algumas promessas feitas às populações não foram cumpridas.

A construção de uma barragem gera sempre impacte ambiental e cada caso é um caso, sendo este bastante digno de estudo e de ponderação.

A LINHA DO TUA E O TURISMO

Estão previstos alguns investimentos, em Espanha, que indirectamente irão beneficiar a região de Trás-os-Montes. Nos próximos anos, com a conclusão da nova rede ferroviária espanhola, vai ser possível ligar Madrid a Puebla de Sanábria, em 1 hora e 40 minutos e a capital espanhola a Salamanca, em 1 hora e 30 minutos. Está também prevista a reabertura do troço de Fuente de S. Estéban até Barca de Alva, que ligará a fronteira portuguesa a Salamanca. Se do lado português for reaberta a via desde Barca de Alva até ao Pocinho, a linha do Douro terá ainda maiores potencialidades turísticas.

Quanto mais tráfego tiver a linha ferroviária do Rio Douro e melhor funcionar, maior beneficio resultará para a linha do Tua, que dela depende, e que já foi considerada, por revistas estrangeiras, como uma das cinco mais belas linhas turísticas da Europa. Em Portugal, existem poucos locais com aquela beleza, sendo difícil descrever, por palavras, os cerca de 54 quilómetros de via férrea, que separam Mirandela da foz do Tua, pois é uma experiência inesquecível, que fica na memória de qualquer visitante e com o desejo de um dia lá voltar. Para se ter uma ideia da beleza ao longo deste itinerário, podem-se ver as fotos no seguinte ‘site’:

http://picasaweb.google.pt/rodrigues.rui1/LinhaDoTua03?authkey=rk1Bwb8VOgY


no Público

6 comentários:

mario carvalho disse...

SCUT recebem subsídio por tráfego baixo


25/04/2008


O tráfego das concessionárias sem custos para o utilizador (Scut) está abaixo do previsto nos contratos de concessão, avança hoje o "Diário de Notícias".

Se por um lado esta realidade permite ao Estado poupar nas rendas a pagar às concessionárias, que são fixadas em função do número de veículos, por outro lado há Scut que estão a ser subsidiadas porque o seu tráfego se encontra abaixo da banda mínima e as empresas têm de pagar o investimento e custos de operação.

Isto quer dizer que as concessionárias recebem uma renda mínima garantida do Estado, que assume em parte o risco de tráfego, para lhes assegurar o equilíbrio da exploração, que não é garantido pelo volume de carros. Situação que não se verifica nas auto-estradas com portagem.

Segundo fonte oficial da Estradas de Portugal, quatro das sete concessões Scut estão a operar na chamada banda 1 de tráfego, a Interior Norte, Norte Litoral, Grande Porto e Beiras Litoral e Alta. Algumas das concessões têm registado mesmo perda de tráfego (ver tabela) num período que nem sequer é comparável com o ano passado porque este ano a Páscoa (período de muitas viagens) foi no primeiro trimestre e em 2007 tinha sido em Abril.

mario carvalho disse...

Não gosto de ser péssimista mas tenho de ser realista

Teremos as melhores auto estradas, as melhores pontes o melhor TGV mas não teremos dinheiro para usufruir deles, antes pelo contrário.. ainda iremos pagar os custos.. (nós, os nossos filhos e os nossos netos .se lhes for dada a oportunidade de nascer)e ver tudo cheio de erva.

mario carvalho disse...

Caros amigos
O turismo no Douro reverte-se de caracteriscas muitos particulares

o ecosistema é muito frágil mas é ele que torna o douro e o tua muito particulares e por isso muito atractivos... o Turismo de massas e o betão a ele associado farão com que se destrua um dos poucos locais que por terem sido constantemente ignorados pois eram terra de parolos e os da terra para não serem parolos abandonavam as suas grandes propriedades e as populações que neles confiavam para irem para a cidade viver num apartamento e servir de chacota a todo e qualquer energumeno , vigarista ou oportunista... mas isso era o progresso , a evolução o passar a ser importante...

Fruto disso trás os montes tem hoje caracteristicas únicas que o diferenciam de tudo ... felizmente por não ter acompanhado a "evolução" ....... mas os vigaristas continuam .. agora são eles que vão a tràs os montes à procura dos parolos... para os tentarem continuar a enganar... vêm resolver o problema... para que a sucata da linha? . para quê As termas que curaram os pais os avós e todos os antepassados para quê continuar a trabalhar as vinhas e os olivais?... para quê viver em locais onde não existem hospitais, serviços, segurança e só boa gente para quê ?... Resolvem-nos o problema .. poêm tudo de baixo de á agua e assim já seremos felizes ... e eles coitados vão ter o trabalho de mandar e receber a facturas das luz.. e .. da água e de tudo.. enquanto cá estiver alguém


Sugiro que recordem o velho filme ... sempre actual .. O LEÂO DA ESTRELA

cumprimentos
mario

ps pf escrevo ao correr da tecla e do sentimento... por iso não releio nem faço a pontuação

Anónimo disse...

Não concordo que, com a construção da barragem, se descaraterize a adultere uma paisagem única no mundo, como é a do Tua. Deve insistir-se para que a mesma não se construa. Quais as vantagens? Pense-se bem e depois actue-se.

Anónimo disse...

muitas vantagens, pois so deve pensar em vantagens pessoais, se o beneficiasse directamente concordava de certeza, queria lá saber da paisagem, fica bonito dizer isso pois. Como disse noutro comentário se temos das melhores capacidades em recursos da europa para prodizur energia electrica para que comprar essa mesma a espanha. pois eles até fazem termo electricas e centrais nucleaes para produzir energia. deixem de pensar em voçes mesmos e pensem em prtogal. tipico "tuga" de so fazer se nos convem, os outros que se lixem. ass:werewolf

Anónimo disse...

Portugal Ass: werewolf