11 agosto 2006

Uma entrevista inqualificável...

A entrevista (na íntegra) que insulta os transmontanos, em particular e todos os que recorrem aos SAP (urgências dos Centros de Saúde). Entre risos e mais risos anuncia-se o encerramento de uma maternidade!

«Mirandela é a que tem menos equipa. Está assente que vai fechar no final do ano»

Prestes a ser avô pela terceira vez, o ministro que encerrou maternidades escolheria Badajoz se o neto quisesse nascer em Elvas. E só levou aspirina no estojo de primeiros socorros das férias...

Faço-lhe a mesma pergunta que fiz ao porta-voz da Associação Nacional de Farmácias se lhe doer a cabeça em férias, entra na primeira loja de medicamentos, seja ou não farmácia?

Não. A primeira coisa é procurar saber qual a razão por que me dói, se tomei alguma coisa que me fez mal, se estou constipado, se há alguma causa externa. A última coisa que faço é tomar medicamentos.

E no seu estojo de primeiros socorros tem paracetamol?

Também tem aspirina

Prefere-a?

Estou mais habituada à aspirina. E tem efeitos úteis para outras coisas, como o efeito vaso-dilatador…

E efeitos nocivos para o estômago...

Tomo-a em meios comprimidos e no meio da refeição. Protegido (risos).

Se estiver a retemperar na sua terra natal e tiver um problema de saúde de noite vai ao Serviço de Atendimento Permanente do centro de saúde mais próximo ou aguenta até à manhã seguinte?

Vou directo à urgência do hospital ou a uma urgência qualificada como tal. Nunca vou a SAP, nem nunca irei!

A nenhum? Porquê?

Porque não têm condições de qualidade. Têm um médico e um enfermeiro e conferem uma falsa sensação de segurança. Nenhum deles devia funcionar assim!

Está a dizer-nos que a ideia é encerrá-los todos?

Não… não tire daqui nenhuma ideia… Não irei simplesmente porque não têm equipa suficiente, não têm meios de diagnóstico, não têm condições para resolver uma verdadeira urgência.

Passa essa mensagem aos seus pais, que ainda vivem em Viseu?

O meus pais nunca vão ao SAP. Vão às urgência do hospital. É um sítio garantido e seguro.

Tem um terceiro neto a caminho... Se as dores de parto chegarem em Elvas, para onde seguirá a nora?

(Risos) Para Badajoz, obviamente! É mais perto e são serviços de boa qualidade.

Portalegre não?

Se fosse mais perto...

E se for no IP4, entre Mirandela, Macedo e Bragança?

Depende. Se acontecer mais perto de Bragança, vai para lá, se for mais perto de Vila Real, será em Vila Real.

Em Mirandela é que não, apesar de não estar decidido qual a maternidade que se mantém no distrito, se esta, se a de Bragança?

Mirandela é a que tem menos equipa. Está assente que vai fechar no final do ano…

E onde nasce esse neto afinal?

A minha nora é beneficiária dos serviços de saúde dos bancários, é natural que seja numa maternidade convencionada. Mas o meu outro neto nasceu na Maternidade Alfredo da Costa. Quem sabe se este não acaba por nascer lá também!

É Verão, todos os dias nos massacram a cabeça com cancro da pele. Já lhe ocorreu sugerir a comparticipação de protector solar?

O que me ocorre é apoiar as iniciativas de saúde pública de prevenção do melanoma.

Acredita que funcionam?

Acredito. Vê-se cada vez mais gente a sair da praia entre as dez e o meio-dia e a chegar entre as 17 e as 19.

Antes das férias, gostou de ser empurrado do palco dos media pela sua colega da Educação?

(Risos) Tudo isto tem uma explicação muito simples a ministra da Educação é uma pessoa altamente capaz e tem vindo a desenvolver uma política de grande qualidade. Este Governo goza de uma grande popularidade e coragem. E as oposições têm sido sistematicamente derrotadas no debate público. Encontraram na ida da ministra ao Parlamento uma fenda para espetar uma adaga. Mas isso não trouxe nada ao país.

Não se sentiu aliviado por deixar de ser o bombo da festa?

(Risos) Não. Não. Fez-me vibrar de solidariedade!

Que medidas surpresa nos preparou para a rentrée enquanto vadiou estes dias por Sintra?

Não há nenhuma surpresa neste Ministério… Tem tudo a ver com três prioridades essenciais. Até ao fim do ano, a prioridade número um é conter o défice. E as prioridades do plano são a reforma dos cuidados primários com as unidades de saúde familiar e a aposta nos cuidados continuados. Para isso, temos que ter SAP encerrados, horas extraordinárias revistas, remunerações acertadas, computadores afinados, enfermeiros e médicos motivados… Temos que ter os hospitais e os centros de saúde em ligação directa. E é o que vamos ter em cinco hospitais até ao final do ano.

Ivete Carneiro

Ivete Carneiro in JN, 2006-08-08

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