07 setembro 2005

Pensar dos leitores

Um remoque a uma má carburação de HC

Manuel Menano, no jornal de Notícias escreveu: "Charlie e a fábrica de chocolate" adapta o livro infantil homónimo que Roald Dahl escreveu em 1963 e conta a história de Charlie (Freddie High- more), um miúdo com coração de ouro que vive em inenarrável pobreza e adora chocolate mas só lhe sente o cheiro uma vez por ano, por altura do aniversário. A casa onde Charlie vive, uma barraca sem tecto que se destaca no meio da imponente cidade vitoriana, alberga os seus pais e os quatro avós que partilham uma única cama, mas nem toda a miséria demove o optimismo de uma família para quem o copo, por mais vazio que esteja, está sempre um bocadinho cheio.

Do outro lado da cidade ergue-se a gigantesca fábrica de chocolate de Willy Wonka (Johnny Depp), um magnata das guloseimas alheado da realidade e traumatizado pelo pai autoritário que o proibia de comer doces, que, certo dia, decide distribuir nos seus chocolates cinco convites para visitar o seu domínio com a promessa de que no final haverá uma surpresa. Além de Charlie, são contemplados outros quatro miúdos Veruga, a mimada insuportável; Violet, a vaidosa competitiva; Mike, o obeso aporcalhado; e Augustus, o geniozinho viciado em videojogos.

A partir daqui, torna-se óbvia a moral da história mas é tudo o resto que faz de "Charlie e a fábrica de chocolate" um filme soberbo e que merece destaque numa filmografia já impressionante. Esqueçamos por um momento que há aventura sem cenas de acção, uma família trágica sem drama, canções que não fazem um musical ou piadas que não fazem uma comédia - surpreende até como Burton consegue pôr tudo isto a funcionar. Do ponto de vista estético, está aqui todo o génio criativo do cineasta que não é descritível por palavras."

Assim, estou completamente de acordo com o meu amigo Hélder de Carvalho. Neste caso, anda(va) mesmo a carburar mal... Burton é um cineasta de um imaginário muito particular e relembro O Grande Peixe ou Marte Ataca... E tem de ver-se a coisa pela vertente da arte cinéfila também. E como Menano salienta: há aventura sem cenas de acção, uma família trágica sem drama... Ou seja, a coisa representada nunca fica óbvia. Tenho pena que só tenha visto um copo vazio...

Vitorino Almeida Ventura

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