A criação de um centro escolar em Carrazeda de Ansiães, a par do ocorrido noutros municípios do interior do país, que concentrará na sede do concelho todas as crianças do 1.º Ciclo e Pré-Escolar das aldeias, é uma medida que deveria ser reflectida por toda a comunidade (Professores, Pais, Autarcas) de forma a promover o confronto de ideias e estratégias e ao desbravar de vias que possam contribuir para uma efectiva Escola Pública de Qualidade no interior. Essa discussão não está a ser feita e, pelo que a experiência nos ensinou, não o vai ser, e, mais tarde ou mais cedo, aparecerá como facto consumado e quiçá pernicioso.
Bem recentemente, o professor Luís Ramos, investigador da UTAD, apelidou a medida de uma perfeita “estupidez”, chamando a atenção para as consequências perniciosas do exemplo francês. É óbvio que a criação do centro escolar trará possíveis benefícios mas também profundas e sérias consequências que afectarão o futuro que queremos construir. Sucintamente, parece-nos ser necessário alertar para as implicações nefastas que esta medida trará que passam, entre outras, pelas deslocações a que as crianças irão ser sujeitas, as implicações pedagógicas, a diminuição de lugares para professores e a certeza da medida constituir uma machadada final nas nossas aldeias.
No concelho de Carrazeda de Ansiães há crianças dos 2.º e 3.º ciclos que têm de levantar-se às sete da manhã e regressam às suas residências pelas sete da tarde nas deslocações para a EB 2,3. Compare-se esta situação com crianças entre os três e os dez anos de idade. Algum encarregado de educação, em perfeito juízo, aceitará uma situação análoga? Acresce o facto do desenraizamento precoce do seu habitat natural origina problemas de socialização e desenvolvimento harmonioso. As nossas crianças vão ser colocadas em lugares assépticos e descontextualizados, sem contacto com a sua realidade rural potenciadora de múltiplas e enriquecedoras experiências de aprendizagem nestas idades. A diminuição de número de lugares não é de somenos importância e este argumento e não nos parece egoísta e classicista, pois a fuga de quadros daí derivada acarretará menos comércio e desenvolvimento local e aprofundará os problemas de interioridade.
Cremos que a actual situação de meia dúzia de crianças por estabelecimento de ensino é insustentável para professores, pais e ministério e algo terá de mudar. Mas, existem outras soluções como sejam, a criação de dois a três centros, sem grandes custos, pois poderiam ser aproveitadas infra-estruturas já existentes nas aldeias: cantinas de lares e instalações escolares ou a aglomeração de crianças em aldeias com um certo número de equipamentos e posicionadas estrategicamente para não distanciar muito dos locais de residência. Apostar decididamente em algumas aldeias é uma medida séria e inteligente porque, se não, corremos o risco de todas desaparecerem.
Gastar 2,5 milhões de contos para construir uma obra que não resolve, por si só o problema da interioridade, antes o agudiza e potencia não nos parece uma boa política. Não se esqueçam os nossos autarcas que uma política de desenvolvimento de concentração dos equipamentos, sem outras razões, implica também a breve prazo a própria viabilidade de vilas do interior. Agora é a concentração do 1.º Ciclo e Pré-Escolar, brevemente será o secundário no eixo Bragança, Macedo e Mirandela e… nesta lógica de desenvolvimento vão-se as aldeias e a seguir irão as vilas.
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