O verso em epígrafe foi retirado do conhecido poema, a
cidade e a aldeia, do antigo livro da 4.ª classe e mostra o antigo paradigma na
sociedade portuguesa que assentava no facto de viver em locais completamente
diferentes.
Ao falar-se em cidade pensava-se logo numa uma sociedade de
maior posse de bens e de cultura, enquanto que o campo se destinava aos mais
pobres e mais necessitados.
Atualmente, em ambos existem pessoas necessitadas e não tão
necessitadas. A pouco e pouco, as diferenças existentes foram diminuindo fruto
das novas acessibilidades, das novas tecnologias, mas ainda persistem, particularmente,
no acesso aos serviços essenciais como sejam a cultura, a saúde, a educação…
Podemos transportar este conflito de viver na vila e na
aldeia para os momentos atuais, e de a vila se ter transformado por causa do
forte despovoamento rural, o local onde grande parte da população do concelho
se concentra para viver (os que podem e lhes deixam), tendo sempre a aldeia
presente e para onde se desloca sempre que pode, fruindo aí grande parte das
suas vivências culturais.
Carrazeda é uma vila recente e está desprovida desse húmus da
tradição que está presente em muitas aldeias do concelho.
A vila passa a ser sede do concelho em abril de 1734 e o seu
desenvolvimento ganha outro impulso a partir do antigo núcleo que fica junto da
Igreja Matriz que data de 1790. Curiosamente até ao 25 de abril de 1974 não é a
localidade com mais habitantes no concelho, sendo suplantada por outras aldeias
do concelho, como Vilarinho da Castanheira, Linhares, Fontelonga, Castanheiro
do Norte.
A sua centralidade e a perda da importância e da mecanização
da agricultura transformaram as aldeias em aglomerados quase fantasmas, mas ainda
com fortes tradições, particularmente as religiosas.
Por isso realizar um cortejo etnográfico, uma procissão na
vila só tem grande sentido com a participação das aldeias.
Por outro lado, é natural alguns amuos e muitas resistências
dos habitantes da aldeia, contudo, atualmente, a importância da etnografia e
cultura aldeã só faz sentido pleno se mostradas nas ruas da vila.Para os nostálgicos e revivalistas aqui fica o poema:
"A Cidade e a Aldeia"
(Abílio Mesquita)
Cidade - Quem és tu, assim tão simples?
Aldeia - E tu, quem és a final?
Cidade - A nobreza da Cidade.
Aldeia - Aldeia de Portugal.
Cidade- Tenho lindas pedrarias,
Jóias mil de muitas cores...
Aldeia - E eu tenho maior riqueza
Nas minhas tão lindas flores...
Cidade - Tenho risos, alegrias
Divertimentos constantes
Aldeia - Tenho a música dos ninhos
E canções inebriantes.
Cidade - Tenho luz de noite a jorros,
E não me levas a palma.
Aldeia - Tenho o Sol durante o dia,
De noite a luz da minha alma...
Cidade - Vivo em palácios vistosos
Que abundam pela Cidade.
Aldeia - E eu num casebre pequen0,
Que o Sol beija com vaidade!
Cidade- A História fala de mim,
Porque tenho algum valor...
Aldeia - Também tenho a minha História,
Escrita com o meu suor
Cidade - Tenho o luxo que tu vês
Próprio da minha grandeza.
Aldeia - E eu o luxo e a vaidade de gostar da singeleza!
Cidade - Sou mais rica do que tu,
Que nada tens afinal!
Aldeia - Tenho aqui dentro do peito:
"A ALMA DE PORTUGAL"!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário