09 fevereiro 2014

Não apareces, não existes...

Os defensores do chamado novo “mapa judiciário” aplaudem com os argumentos da contenção de despesas, da racionalização e aquele outro ouvido, e presumivelmente estapafúrdio, de quem se importa dos “tribunais fecharem em terras que ninguém conhece”.
Mas será assim tão ridículo?
Não.
Quem se importará com aquilo que não conhece? Não conheço, logo não existe, é o novo princípio fundamental de toda a certeza moderna.  Localidade, lugar ou lugarejo que o querido Manuel Luís Goucha, a estridente Cristina Ferreira, o grandiloquente Jorge Gabriel, a menina Sónia Araújo e a senhora Júlia Pinheiro não indiquem, não visitem ou tão só mencionem não existem. A força argumentativa, a validade da razão só tem verdadeiro peso se tiver honras do chamado prime time ou aparecer na televisão.

2 comentários:

Fernando Gouveia disse...

Meu caro Mesquita: não me parece que essas personalidades do panorama audiovisual sejam um padrão de qualidade crítica ou de responsabilidade cívica. De facto, só vêem o próprio umbigo,e num espelho de aumento. Só tenho pena que tantos e tantos portugueses ainda percam tempo com a mediocridade e leviandade que representam.
A questão dos tribunais é bem mais séria e podemos afirmar que se trata de um dos sinais seguramente mais identitários das populações. A questão da administração da Justiça foi historicamente a espinha dorsal da adesão ou repúdio das populações pelo poder central.
Não quero comentar tecnicamente a actual reforma, por não ter estudado suficientemente o projecto do governo. Mas basta-me ater-me aos princípios para poder discordar do encerramento de tribunais ao nível dos municípios. E porquê?
Os municípios, para além da sua importância histórica como núcleos mais genuinos da organização territorial, são a dimensão mais adequada para a maior parte das funções do Estado, seja na Justiça, na educação, na saúde ou na segurança. A justiça, em particular, quer-se próxima dos interesses que tem de dirimir e expedita nas decisões. Fechar um tribunal porque, alegadamente, tem poucos processos, é um disparate. Evidentemente eu compreendo que há limites mínimos, mas ainda não estamos lá. Eu sei que certos juizos em Lisboa e Porto têm uma maior acumulação de processos, mas, em contrapartida, têm muitos tribunais ao lado de competência especializada, pelo que a semelhança dos processos que cada juiz trata acaba por facilitar o seu estudo e as rotinas da tramitação. Penso que um juiz num concelho pequeno tem naturalmente menos processos, mas também tem causas variadas, que exigem uma vastidão de conhecimentos em todas as áreas do direito.
Além disso, nada impede que um juiz se desloque entre concelhos vizinhos, quer para fazer julgamentos, quer para fazer parte de formações colectivas.
Não vejo, pois, qualquer vantagem em extinguir um tribunal para instituir ume entidade estranha e incaracterística num sistema judiciário, como é a designada secção de proximidade. O que é isto? Uma mera secção de expediente? um local onde se depositam requerimentos e articulados? Mas isso, obviamente, vai parecer a curto prazo uma excrescência; daqui a alguns meses vir-nos-ão dizer que os requerimentos e articulados se podem enviar pelo correio ou por via electrónica.
Os requisitos mínimos para haver num concelho pelo menos uma aparência de presença da justiça são a existência física de uma secretaria, de um magistrado do ministério público apoiado por serviços de inquérito ou investigação mínima e a disponibilidade de um juíz a uma distância razoável, que permita a realização de actos urgentes, sobretudo os que têm a ver com a privação da liberdade das pessoas. Sem isto, não há resquícios de justiça.
Apoiarei todas as lutas e movimentações para inverter a morte programada do Estado no interior do país. Se o dinheiro não chega para tudo, olhem bem para as proximidades dos ministros, e encontrarão certamente onde cortar a sério. Qualquer gabinete ministerial gasta provavelmente mais do que um distrito judicial.

mario carvalho disse...

Maiores cidades são as que têm uma marca mais valiosa e Lisboa lidera ranking português

11/02/2014

A cidade de Lisboa lidera o ranking “City Brand”, que mede o valor das marcas dos 308 municípios portugueses. A capital lidera as três principais categorias analisadas pelo estudo, elaborado pela consultora “Bloom”. “Lisboa é a cidade que tem uma melhor marca, e uma melhor performance em três vertentes diferentes”, explicou ao Negócios o director-geral da consultora, Filipe Roquette. As grandes cidades estão nos lugares cimeiros e Porto e Braga fecham o pódio.

Os 10 primeiros lugares são ocupados por cidades das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e por capitais de distrito. De acordo com o ranking da “Bloom Consulting”, Lisboa, Porto e Braga ocupam as três primeiras posições. Oeiras segue na quarta posição, muito perto da cidade dos arcebispos, enquanto Coimbra fecha o “top5 “. Nos lugares seguintes estão Aveiro, Leiria, Faro, Guimarães (não é capital de distrito mas está muito próxima do Porto) e Cascais.

O ranking foi elaborado através do cruzamento de diversos dados estatísticos, como desemprego, número de hospitais, salário médio, taxa de criminalidade ou dormidas turísticas por município, com 15 grupos de perguntas-chave, que agrupam “o que as pessoas procuram no mundo inteiro num município”. Posteriormente, esses dados são comparados com a “comunicação online de cada município: o que comunica e o número de pessoas a quem chega essa informação”, tendo por base o site da autarquia e a sua presença nas redes sociais.

Os resultados permitem perceber “se a marca é assertiva, se está bem posicionada, se consegue estimular as pessoas”. As três categorias em análise são Negócios (Investimento), Visitar (Turismo) e Viver (Talento). Lisboa está em primeiro lugar em todas elas.

“Lisboa é quem melhor responde às necessidades das pessoas, tem a melhor percepção de marca, quer em termos de marca turística como em termos de marca de investimento, e isso reflecte-se na própria economia: quanto melhor a marca mais vai captar para a cidade”, explicou Filipe Roquette.

Marcas do interior interessam menos às pessoas

O Negócios procurou saber se, tendo em conta os critérios seleccionados, os municípios mais pequenos, e do interior, não são prejudicados face aos do litoral, em especial das áreas metropolitanas, que têm maior atractividade em termos de investimento e em termos turísticos. Roquette diz que não. “Temos o cuidado de pegar na informação obtida e dilui-la para evitar que isso aconteça”, garante. No número de empresas, “temos o número de empresas criadas por habitante”, prossegue.

“O que acontece sempre, e é normal, quando medimos marcas e não empresas, é que, obviamente, se pegarmos, a título de exemplo, em Freixo de Espada à Cinta, é um município que ninguém conhece, e que não tem percepções. Como não tem, as pessoas não o procuram”, argumenta. “Não quer dizer que as pessoas tenham percepções negativas; são inexistentes. O município terá de trabalhar a sua marca para criar notoriedade”, observa o director-geral da “Bloom”.

O município transmontano de Freixo de Espada à Cinta está no 307º e penúltimo lugar, apenas à frente de Monforte.

O objectivo do ranking é “despertar de atenção quanto à marca do município. A marca nem sempre é valorizada e é um enorme activo”, sublinha. A “Bloom Consulting” está a promover reuniões com os municípios para lhes apresentar os relatórios que explicam a sua posição no ranking. “O relatório vai permitir analisar o que as pessoas procuram, de onde procuram, quando procuram, e comparar com outras cidades”. “Isso permitirá decidir o que se tem para gastar de forma mais eficiente”, projecta.

E o que é que as câmaras devem fazer para aumentar o valor das suas marcas? Investir na vertente turística? “Aconselhamos que as câmaras tomem consciência do seu posicionamento exacto, quem os procura e em quê, e qual é o seu activo. Com base nessa informação real, devem fazer um melhor investimento” dos recursos para a sua promoção, defende Filipe Roquette.