19 julho 2013

O ACTUAL MOMENTO POLÍTICO: João Lopes de Matos



Chegámos a esta embrulhada depois do fracasso da política governamental e, sobretudo, após a confusão gerada pelo irrequieto génio chamado Paulo Portas.  Passos Coelho tentou remediar os vários erros cometidos e seguir em frente com a equipa governamental remodelada. Quando toda a gente esperava a aprovação do Presidente da República, ficando a situação sanada por uns tempos, eis que o Supremo Magistrado da Nação resolveu experimentar uma saída diferente: exige um acordo entre os três partidos do arco da governação, acordo esse a vigorar até meados de 2014. Tanto frenesim para termos, à partida, um governo por prazo certo e curto!
Não tendo optado pela solução mais rápida, mais prática e mais lógica, o senhor Presidente meteu-se e meteu-nos num sarilho de difícil saída. Há quem defenda a antecipação de eleições. Para quê? Para chegarmos a uma saída como a agora proposta,  apenas com uma diferença: o partido mais importante do novo governo passaria a ser o PS, em vez do PSD. Curioso que os mais furiosos defensores das eleições não têm hipótese nenhuma de vir a participar da governação: PCP, Bloco e Verdes. Entretanto, toda a situação económica e financeira se iria deteriorar, não se sabendo quando seria elaborado o orçamento.
Para haver, após as eleições, um governo “patriótico e de esquerda”, como defende o PCP, implicaria quase inevitavelmente uma bancarrota imediata e a saída do euro, com todas as consequências desastrosas que daí adviriam. A propalada produção nacional seria afetada por muito tempo . Quem a iria desenvolver? E com que capitais?
Se quisermos permanecer na UE, parece-me haver apenas uma saída compatível com o crescimento: uma renegociação do memorando, com a dilatação no tempo do pagamento da dívida e uma diminuição substancial dos juros. Será ainda necessária uma atuação do BCE equivalente à atuação do FED americano.
Para salvaguardar uma solução deste género, só duas hipóteses se me afiguram viáveis: a continuação do atual governo remodelado e com alteração de política ou novo governo que inclua o PS. Daí a grande responsabilidade que impende sobre o Partido Socialista: se não entrar agora para a governação, deve permitir que este governo reformulado tenha viabilidade.
Não vejo outra saída.
João Lopes de Matos

12 comentários:

josé alegre mesquita disse...

Tem razão o JLM quando fala na “embrulhada” a que chegámos e no” fracasso da política governamental”. Com estas premissas e com o devido respeito (não podia deixar de ser), incompreensível é a sua solução que preconiza: continuar com mais do mesmo.
Tem também razão no questionamento que faz da proposta do senhor presidente: irracional porque nos meteu num “sarilho”. Porém, discordo (com o devido respeito) das soluções preconizadas derivadas da proposta, isto é, o papel do PS: ser governo ou caucionar as políticas da coligação; porque isto remeteria para os socialistas um papel intolerável, que era o de deixar de ser alternativa, porque, em democracia, a solução só pode, sublinho só pode, ser encontrada na oposição, na chamada alternância democrática. Não tenho de lhe lembrar o que o líder do PS dizia há bem pouco tempo deste governo, totalmente irresponsável. É bom que o PS não se esqueça que foram estes jogos que levaram à irrelevância política dos seus irmãos do PSOE e do PASOK.
Se esta governação é um desastre como referido pelo Vitor Gaspar e pelo Portas, como todos os números da economia gritam, se a coligação não é digna de confiança pelo mau espetáculo público dos seus atores, a solução só podia ser uma: eleições. E é aqui que voltaremos, mais tarde ou mais cedo…
P.S. Abstenho-me de opinar, para já, sobre os seus considerandos, o dever de ignorar uma parte significativa dos eleitores, legitimamente representados.

josé alegre mesquita disse...

Na democracia não há outra solução para a resolução das graves crises políticas: eleições.

Anónimo disse...

Preocupa-me mais,muito mais,o que pode acontecer ao país que o que pode acontecer ao PS.E a democracia,como tudo,não é sempre igual.É um princípio que tem períodos excepcionais, interins.Há alturas em que a democracia não pode funcionar de modo tão perfeito como noutras.Esse tipo de pensamento é demasiado lógico ou puro e não permite,em certos momentos soluções diferentes. O PCP,o BE e Os Verdes falam e agem não como partidos grandemente minoritários mas como partidos dotados por Deus do dom da infalibilidade e da supremacia moral e intelectual.Que permite a Jerónimo de Sousa falar do PS como fala e com quem quer ele (e os outros dois)formar governo?
Acho que todos os partidos continuam a limitar-se a brincar com o país e a preocuparem-se apenas com os jogos partidários.
Isso tem que acabar.
Esta discussão(espero) não acaba aqui.Havemos de continuar.
JLM

josé alegre mesquita disse...

Essa de fazer um interregno na democracia não colheu muitos apoiantes.
A verdade e a única solução têm tido um único autor, a coligação. Porém, o resultado foi mais empobrecimento, mais dívida e mais recessão. Por isso todas as outras soluções devem ser melhores.

Anónimo disse...


Instinto ou análise?

“Nas duas últimas décadas, a pesquisa em neurociência e em economia comportamental revolucionou o nosso entendimento do processo decisório”.
António Damásio, O Erro de Descartes.

Pergunto-me:
- Devemos obedecer ao instinto ou à análise?

“Quem sabe o que eu quero fazer? Quem sabe o que alguém quer fazer? Como é possível ter certezas sobre uma coisa dessas? Como se sabe se alguma coisa é mesmo o que se deseja fazer ou apenas qualquer impulso nervoso do cérebro?”
Don Delillo, White Noise.

Questiono-me:
- Será possível conhecer a verdade e possuir a certeza ou, pelo contrário, não podemos passar da dúvida?

- E o que é a verdade?
- E o que é a certeza?

“Desde que as pessoas tomam decisões que refletem sobre o que as levou a fazê-lo.
Durante séculos, construíram-se teorias elaboradas sobre tomadas de decisões, observando o comportamento humano, do exterior.
Uma vez que a mente era inacessível - o cérebro não passava de uma “caixa negra” - esses pensadores viam-se forçados a confiar em suposições não comprovadas sobre o que, na realidade, acontecia no interior da cabeça”.
Jonah Lehrer, How We Decide.

O problema era (é): são os humanos SÓ racionais?

“Quando tomamos decisões, parte-se do princípio de que analisamos consistentemente as alternativas e pensamos cuidadosamente os prós e os contras.
Esta simples ideia está subjacente à filosofia de Platão e Descartes: a nossa racionalidade acabou de nos definir … era o que nos tornava humanos”.
Jonah Lehrer, obra citada.

Só que, como o nosso neurocientista António Damásio provou (O Erro de Descartes), esta teoria da racionalidade humana está ERRADA.

“Às vezes precisamos de racionalizar as nossas opções e analisar cuidadosamente as possibilidades. E, outras vezes, necessitamos de dar ouvidos às nossas emoções.
Precisamos, continuamente, de pensar sobre como pensamos”.
Jonah Lehrer, obra citada.

Quanto ao momento político…
… o “conservadorismo” dos mais velhos terá de ter, sempre, como contraponto, a “impulsividade” dos mais jovens; como a “inexperiência” destes terá de ter, como seu contrário, a “maturidade” daqueles.

Só assim a DEMOCRACIA se completa.

Carlos Fiúza

Anónimo disse...

Caro CF: Não sabe quão bem me fazem aos meus ouvidos estas suas palavras. Tem estudado muito as neurociências?
Gosto desta sua postura.
Caro JAM:Se tem algum apreço pela dialética, porque considera a democracia e o seu oposto(a ditadura)totalmente incompatíveis?
Também na análise das posições dos partidos se guia por um pensamento do sim ou não. Às posições dos outros falta-lhes a perspectiva dos partidos do governo.Faça-se a síntese preconizada pelo CF para novos e velhos.
JLM

Anónimo disse...

O PSD e o CDS, provocaram em 2011 uma crise económica de tal ordem, ao chumbarem o PEC 4 e provocarem eleições antecipadas,(vejam-se os casos do BPN, buraco da Madeira, submarinos, swapps, parecerias PP-os negociadores das Scutts eram do PSD-, diversos casos de corrupção em que estavam altos dirigentes do PSD, Duarte Lima, etc...), esticaram tanto a corda, com o único intuito de irem para o poleiro, que agora não conseguem desenvencilharem-se do sarilho que criaram. Diziam eles na altura que bastava mudar o Sócrates e tudo seria diferente, o país iria de vento em popa... ! Foi o que se viu e está a ver: - o Déficit aumentou, a divida aumentou, o desemprego aumentou, os impostos aumentaram, a corrupção aumentou...Em contrapartida, os rendimentos das familias diminuiram, os beneficios sociais diminuiram, a saude piorou, o ensino piorou, o investimento parou, as estradas pararam, etc... E agora que queriam eles ? Que o PS os viesse salvar, quando durante este tempo todo foi só destruir o que o PS fez de bom ? Alteraram o programa da troika, para pior sem darem cavaco ao PS ! Mas o pior de tudo isto é que tivémos um ministro das finanças que enganou toda a gente e saiu com o todo o desplante dizendo que se enganou ? E ninguém julga este tipo de gente ? Francamente .....
AJS

Anónimo disse...


Castigo ou Expiação?

O passado recente do nosso País (aqui bem retratado por AJS) poderá parecer dantesco...

... o futuro, no entanto, poderá ser bem pior.

Sem "acordo" de governabilidade e com os partidos políticos a pensarem (já) em eleições...

... na próxima 2.ª feira

- os "mercados" internacionais abrirão com todas as campaínhas "gritando" em uníssono;

- a Bolsa de Lisboa (PSI 20) fechará com perdas acentuadas;

- os juros da dívida pública (a 5 e a 10 anos) atingirão novos máximos nos "mercados secundários".

- Portugal subirá a um "vergonhoso" 3.º lugar no "Clube da Bancarrota" (bem à frente do Iraque, por exemplo).

Lembram-se do "Inferno" de Dante?

Pois este poderá ser bem pior...

... os 4,7 milhões de Euros que "teriam" de ser cortados na despesa pública "nada" seriam comparados com os que iremos "pagar" quando ocorrer o 2.º resgate e os "mercados" se nos fecharem.

Castigo ou expiação?

- Castigo,(talvez) para ninguém;
- Expiação, (com certeza)para "quase" todos.

Como gostaria de estar enganado!

CF

josé alegre mesquita disse...

O Inferno de 2.ª de que nos fala Carlos Fiúza, isto é, a ditadura dos mercados, pode fazer-nos pensar que devíamos viver sem lei, sem constituição e até sem democracia. O nosso irrevogável Portas descreve-nos como um protetorado: repare-se que ele é a voz institucional do estado português; se assim for, ao contrário de colaboracionista, serei resistente. O memorando assinado e posto em prática, indo até além dele, para se tornar a regeneração nacional, trouxe, pelo contrário, a crise social e política e não diminuiu a dívida. Não deveremos esquecer que a crise política e o descrédito das soluções governativas vieram daqueles que enchem a boca com a estabilidade necessária. O realizado e os autores dizem-me que a crise continuará e só piorará se não houver eleições.
E depois esta questão dos prejuízos da bolsa e os milhares de milhão perdidos são muita retórica e medo, porque na realidade, as empresas não perdem tudo aquilo, pois há sempre recuperação nos dias seguintes. O prejuízo é também de todos os países europeus, como se viu no último inferno de Dante. Porque a questão muito mais económica e de mercados é política. E só há uma forma de a ultrapassar, no seio da EU: regulação, alargamento de prazos, união bancária, emissão de moeda… mas disso sabe muito mais que eu. Se não, a expiação será a destruição de quase tudo, até mesmo dos chamados mercados…

PS. Obrigado pelo epíteto de jovem que me presenteou. Pretendo continuar a cultivar a impulsividade, sempre regrada pelos seus bons conselhos. Oxalá…

Caríssimo doutor João: no campo dos valores tem de haver incompatibilidades porque só assim é que eles têm valor. Quanto aos partidos, a síntese é feita pelo eleitorado expressa em maiorias ou pelas coligações. Só existe dialética e novas sínteses se sempre houver contraditório. À síntese final e ao fim da história, já muitas vezes anunciados, creio ainda não termos chegado.

Anónimo disse...

O AJS explanou aqui, de forma límpida, o quadro político que se nos apresenta e que é bem complementado pelo discurso disjuntivo da sábio CF . Estou como bem diz o JAM, se a coligação já fez o que fez com as suas medidas dantescas que nos empobreceram, será que eles hão de continuar a alimentar essa horrenda fogueira que tem queimado paulatinamente o país ? Para mim, tal como para JAM, só haveria uma solução imediata: ELEIÇÕES ANTECIPADAS! JÁ!

HR

Anónimo disse...

Este assunto tem já as coordenadas necessárias para que as pessoas pensem e tomem posição. Agora deixemos os outros pensar e optar livremente e em consciência. Talvez se imponha agora um pouco de silêncio.
JLM

Anónimo disse...

O grande mal está na falta de seriedade e carácter dos politicos. Mais a montante está a forma de eleição dos lideres partidários pouco democrática por vezes e nada exigente. Congrega muito mais pela vontade de ganhar por qualquer preço do que por projectos com cunho de verdade. Enquanto a ambição politica visar apenas o poder pelo poder acelera-se a alternância em ciclos mais pequenos até ao descrédito total e sabe-se lá ao fim da democracia como a conhecemos.

Ateu Versão 2013