Chegámos a
esta embrulhada depois do fracasso da política governamental e, sobretudo, após
a confusão gerada pelo irrequieto génio chamado Paulo Portas. Passos
Coelho tentou remediar os vários erros cometidos e seguir em frente com a
equipa governamental remodelada. Quando toda a gente esperava a aprovação do
Presidente da República, ficando a situação sanada por uns tempos, eis que o
Supremo Magistrado da Nação resolveu experimentar uma saída diferente: exige um
acordo entre os três partidos do arco da governação, acordo esse a vigorar até
meados de 2014. Tanto frenesim para termos, à partida, um governo por prazo
certo e curto!
Não tendo
optado pela solução mais rápida, mais prática e mais lógica, o senhor
Presidente meteu-se e meteu-nos num sarilho de difícil saída. Há quem defenda a
antecipação de eleições. Para quê? Para chegarmos a uma saída como a agora
proposta, apenas com uma diferença: o partido mais importante do novo
governo passaria a ser o PS, em vez do PSD. Curioso que os mais furiosos
defensores das eleições não têm hipótese nenhuma de vir a participar da
governação: PCP, Bloco e Verdes. Entretanto, toda a situação económica e
financeira se iria deteriorar, não se sabendo quando seria elaborado o
orçamento.
Para haver,
após as eleições, um governo “patriótico e de esquerda”, como defende o PCP,
implicaria quase inevitavelmente uma bancarrota imediata e a saída do euro, com
todas as consequências desastrosas que daí adviriam. A propalada produção
nacional seria afetada por muito tempo . Quem a iria desenvolver? E com que
capitais?
Se quisermos
permanecer na UE, parece-me haver apenas uma saída compatível com o
crescimento: uma renegociação do memorando, com a dilatação no tempo do
pagamento da dívida e uma diminuição substancial dos juros. Será ainda
necessária uma atuação do BCE equivalente à atuação do FED americano.
Para salvaguardar
uma solução deste género, só duas hipóteses se me afiguram viáveis: a
continuação do atual governo remodelado e com alteração de política ou novo
governo que inclua o PS. Daí a grande responsabilidade que impende sobre o
Partido Socialista: se não entrar agora para a governação, deve permitir que
este governo reformulado tenha viabilidade.
Não vejo
outra saída.
João Lopes de
Matos
12 comentários:
Tem razão o JLM quando fala na “embrulhada” a que chegámos e no” fracasso da política governamental”. Com estas premissas e com o devido respeito (não podia deixar de ser), incompreensível é a sua solução que preconiza: continuar com mais do mesmo.
Tem também razão no questionamento que faz da proposta do senhor presidente: irracional porque nos meteu num “sarilho”. Porém, discordo (com o devido respeito) das soluções preconizadas derivadas da proposta, isto é, o papel do PS: ser governo ou caucionar as políticas da coligação; porque isto remeteria para os socialistas um papel intolerável, que era o de deixar de ser alternativa, porque, em democracia, a solução só pode, sublinho só pode, ser encontrada na oposição, na chamada alternância democrática. Não tenho de lhe lembrar o que o líder do PS dizia há bem pouco tempo deste governo, totalmente irresponsável. É bom que o PS não se esqueça que foram estes jogos que levaram à irrelevância política dos seus irmãos do PSOE e do PASOK.
Se esta governação é um desastre como referido pelo Vitor Gaspar e pelo Portas, como todos os números da economia gritam, se a coligação não é digna de confiança pelo mau espetáculo público dos seus atores, a solução só podia ser uma: eleições. E é aqui que voltaremos, mais tarde ou mais cedo…
P.S. Abstenho-me de opinar, para já, sobre os seus considerandos, o dever de ignorar uma parte significativa dos eleitores, legitimamente representados.
Na democracia não há outra solução para a resolução das graves crises políticas: eleições.
Preocupa-me mais,muito mais,o que pode acontecer ao país que o que pode acontecer ao PS.E a democracia,como tudo,não é sempre igual.É um princípio que tem períodos excepcionais, interins.Há alturas em que a democracia não pode funcionar de modo tão perfeito como noutras.Esse tipo de pensamento é demasiado lógico ou puro e não permite,em certos momentos soluções diferentes. O PCP,o BE e Os Verdes falam e agem não como partidos grandemente minoritários mas como partidos dotados por Deus do dom da infalibilidade e da supremacia moral e intelectual.Que permite a Jerónimo de Sousa falar do PS como fala e com quem quer ele (e os outros dois)formar governo?
Acho que todos os partidos continuam a limitar-se a brincar com o país e a preocuparem-se apenas com os jogos partidários.
Isso tem que acabar.
Esta discussão(espero) não acaba aqui.Havemos de continuar.
JLM
Essa de fazer um interregno na democracia não colheu muitos apoiantes.
A verdade e a única solução têm tido um único autor, a coligação. Porém, o resultado foi mais empobrecimento, mais dívida e mais recessão. Por isso todas as outras soluções devem ser melhores.
Instinto ou análise?
“Nas duas últimas décadas, a pesquisa em neurociência e em economia comportamental revolucionou o nosso entendimento do processo decisório”.
António Damásio, O Erro de Descartes.
Pergunto-me:
- Devemos obedecer ao instinto ou à análise?
“Quem sabe o que eu quero fazer? Quem sabe o que alguém quer fazer? Como é possível ter certezas sobre uma coisa dessas? Como se sabe se alguma coisa é mesmo o que se deseja fazer ou apenas qualquer impulso nervoso do cérebro?”
Don Delillo, White Noise.
Questiono-me:
- Será possível conhecer a verdade e possuir a certeza ou, pelo contrário, não podemos passar da dúvida?
- E o que é a verdade?
- E o que é a certeza?
“Desde que as pessoas tomam decisões que refletem sobre o que as levou a fazê-lo.
Durante séculos, construíram-se teorias elaboradas sobre tomadas de decisões, observando o comportamento humano, do exterior.
Uma vez que a mente era inacessível - o cérebro não passava de uma “caixa negra” - esses pensadores viam-se forçados a confiar em suposições não comprovadas sobre o que, na realidade, acontecia no interior da cabeça”.
Jonah Lehrer, How We Decide.
O problema era (é): são os humanos SÓ racionais?
“Quando tomamos decisões, parte-se do princípio de que analisamos consistentemente as alternativas e pensamos cuidadosamente os prós e os contras.
Esta simples ideia está subjacente à filosofia de Platão e Descartes: a nossa racionalidade acabou de nos definir … era o que nos tornava humanos”.
Jonah Lehrer, obra citada.
Só que, como o nosso neurocientista António Damásio provou (O Erro de Descartes), esta teoria da racionalidade humana está ERRADA.
“Às vezes precisamos de racionalizar as nossas opções e analisar cuidadosamente as possibilidades. E, outras vezes, necessitamos de dar ouvidos às nossas emoções.
Precisamos, continuamente, de pensar sobre como pensamos”.
Jonah Lehrer, obra citada.
Quanto ao momento político…
… o “conservadorismo” dos mais velhos terá de ter, sempre, como contraponto, a “impulsividade” dos mais jovens; como a “inexperiência” destes terá de ter, como seu contrário, a “maturidade” daqueles.
Só assim a DEMOCRACIA se completa.
Carlos Fiúza
Caro CF: Não sabe quão bem me fazem aos meus ouvidos estas suas palavras. Tem estudado muito as neurociências?
Gosto desta sua postura.
Caro JAM:Se tem algum apreço pela dialética, porque considera a democracia e o seu oposto(a ditadura)totalmente incompatíveis?
Também na análise das posições dos partidos se guia por um pensamento do sim ou não. Às posições dos outros falta-lhes a perspectiva dos partidos do governo.Faça-se a síntese preconizada pelo CF para novos e velhos.
JLM
O PSD e o CDS, provocaram em 2011 uma crise económica de tal ordem, ao chumbarem o PEC 4 e provocarem eleições antecipadas,(vejam-se os casos do BPN, buraco da Madeira, submarinos, swapps, parecerias PP-os negociadores das Scutts eram do PSD-, diversos casos de corrupção em que estavam altos dirigentes do PSD, Duarte Lima, etc...), esticaram tanto a corda, com o único intuito de irem para o poleiro, que agora não conseguem desenvencilharem-se do sarilho que criaram. Diziam eles na altura que bastava mudar o Sócrates e tudo seria diferente, o país iria de vento em popa... ! Foi o que se viu e está a ver: - o Déficit aumentou, a divida aumentou, o desemprego aumentou, os impostos aumentaram, a corrupção aumentou...Em contrapartida, os rendimentos das familias diminuiram, os beneficios sociais diminuiram, a saude piorou, o ensino piorou, o investimento parou, as estradas pararam, etc... E agora que queriam eles ? Que o PS os viesse salvar, quando durante este tempo todo foi só destruir o que o PS fez de bom ? Alteraram o programa da troika, para pior sem darem cavaco ao PS ! Mas o pior de tudo isto é que tivémos um ministro das finanças que enganou toda a gente e saiu com o todo o desplante dizendo que se enganou ? E ninguém julga este tipo de gente ? Francamente .....
AJS
Castigo ou Expiação?
O passado recente do nosso País (aqui bem retratado por AJS) poderá parecer dantesco...
... o futuro, no entanto, poderá ser bem pior.
Sem "acordo" de governabilidade e com os partidos políticos a pensarem (já) em eleições...
... na próxima 2.ª feira
- os "mercados" internacionais abrirão com todas as campaínhas "gritando" em uníssono;
- a Bolsa de Lisboa (PSI 20) fechará com perdas acentuadas;
- os juros da dívida pública (a 5 e a 10 anos) atingirão novos máximos nos "mercados secundários".
- Portugal subirá a um "vergonhoso" 3.º lugar no "Clube da Bancarrota" (bem à frente do Iraque, por exemplo).
Lembram-se do "Inferno" de Dante?
Pois este poderá ser bem pior...
... os 4,7 milhões de Euros que "teriam" de ser cortados na despesa pública "nada" seriam comparados com os que iremos "pagar" quando ocorrer o 2.º resgate e os "mercados" se nos fecharem.
Castigo ou expiação?
- Castigo,(talvez) para ninguém;
- Expiação, (com certeza)para "quase" todos.
Como gostaria de estar enganado!
CF
O Inferno de 2.ª de que nos fala Carlos Fiúza, isto é, a ditadura dos mercados, pode fazer-nos pensar que devíamos viver sem lei, sem constituição e até sem democracia. O nosso irrevogável Portas descreve-nos como um protetorado: repare-se que ele é a voz institucional do estado português; se assim for, ao contrário de colaboracionista, serei resistente. O memorando assinado e posto em prática, indo até além dele, para se tornar a regeneração nacional, trouxe, pelo contrário, a crise social e política e não diminuiu a dívida. Não deveremos esquecer que a crise política e o descrédito das soluções governativas vieram daqueles que enchem a boca com a estabilidade necessária. O realizado e os autores dizem-me que a crise continuará e só piorará se não houver eleições.
E depois esta questão dos prejuízos da bolsa e os milhares de milhão perdidos são muita retórica e medo, porque na realidade, as empresas não perdem tudo aquilo, pois há sempre recuperação nos dias seguintes. O prejuízo é também de todos os países europeus, como se viu no último inferno de Dante. Porque a questão muito mais económica e de mercados é política. E só há uma forma de a ultrapassar, no seio da EU: regulação, alargamento de prazos, união bancária, emissão de moeda… mas disso sabe muito mais que eu. Se não, a expiação será a destruição de quase tudo, até mesmo dos chamados mercados…
PS. Obrigado pelo epíteto de jovem que me presenteou. Pretendo continuar a cultivar a impulsividade, sempre regrada pelos seus bons conselhos. Oxalá…
Caríssimo doutor João: no campo dos valores tem de haver incompatibilidades porque só assim é que eles têm valor. Quanto aos partidos, a síntese é feita pelo eleitorado expressa em maiorias ou pelas coligações. Só existe dialética e novas sínteses se sempre houver contraditório. À síntese final e ao fim da história, já muitas vezes anunciados, creio ainda não termos chegado.
O AJS explanou aqui, de forma límpida, o quadro político que se nos apresenta e que é bem complementado pelo discurso disjuntivo da sábio CF . Estou como bem diz o JAM, se a coligação já fez o que fez com as suas medidas dantescas que nos empobreceram, será que eles hão de continuar a alimentar essa horrenda fogueira que tem queimado paulatinamente o país ? Para mim, tal como para JAM, só haveria uma solução imediata: ELEIÇÕES ANTECIPADAS! JÁ!
HR
Este assunto tem já as coordenadas necessárias para que as pessoas pensem e tomem posição. Agora deixemos os outros pensar e optar livremente e em consciência. Talvez se imponha agora um pouco de silêncio.
JLM
O grande mal está na falta de seriedade e carácter dos politicos. Mais a montante está a forma de eleição dos lideres partidários pouco democrática por vezes e nada exigente. Congrega muito mais pela vontade de ganhar por qualquer preço do que por projectos com cunho de verdade. Enquanto a ambição politica visar apenas o poder pelo poder acelera-se a alternância em ciclos mais pequenos até ao descrédito total e sabe-se lá ao fim da democracia como a conhecemos.
Ateu Versão 2013
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