20 junho 2013

“Um País Operático” e a Psicologia Social: Carlos Fiúza



A Psicologia, palavra geralmente atribuída a Goclenius de Marburgo, do grego “psykhé” (alma) e “logos” (tratado), é a “ciência da alma”.
A Psicologia, como ciência, é de organização recente. Até o século XIX, a Psicologia teve mais em vista o estudo da alma, como realidade metafísica, preocupando-se com os fenómenos psíquicos apenas na medida em que pudessem esclarecer a natureza daquela.
Só na segunda metade do século XIX, devido, principalmente, aos trabalhos de Wundt e a fundação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental (Leipzig - 1879), a Psicologia muda de orientação e, tomando um grande incremento, aspira a ser considerada como uma ciência autónoma e positiva, excluindo do seu campo todas as questões de ordem metafísica.
Esta última tendência é defensável, se com ela se quer exprimir que as questões metafísicas da origem, natureza e fim da alma, devem hoje fazer parte de um outro estudo; mas não é de admitir no sentido de negar a existência de tais questões.
A Psicologia Racional mantem-se, correspondendo à imperiosa necessidade que temos de admitir, para além dos fenómenos, uma realidade espiritual e estável, fundamento de nós próprios e do nosso valor.
E como a Psicologia Racional não pode ser uma Psicologia sem “fenómenos”, também a Psicologia Experimental não poderá ser uma Psicologia sem “alma”.
Entre elas não há uma oposição, mas apenas uma diferença de pontos de vista acerca da mesma realidade.

A infância do homem, ao contrário da dos animais, é mais longa e, por isso, a sua ascensão na vida psíquica é também mais demorada; o desenvolvimento espiritual acompanha o desenvolvimento do corpo.
A vida psíquica do recém-nascido é muito rudimentar; os seus movimentos são quase todos reflexos, independentes do psiquismo, embora manifeste também movimentos instintivos e certos atos que exteriorizam agrado ou desagrado, ainda que sem consciência.
Nesta idade não há ainda perceções, pois estas são uma elaboração mental, em que entram muitas funções psíquicas, além das sensações, como a atenção, a memória, a reprodução e a associação dos conhecimentos adquiridos.
Há apenas sensações elementares, não diferenciadas, e nem todas, pois a criança manifesta apenas sensações gustativas, olfativas e tácteis e só mais tarde é que começa a “ver” e “ouvir”.
Há medida que o cérebro se vai desenvolvendo, a criança vai adquirindo o necessário para condicionar a aquisição dos conhecimentos científicos que se ensinam na escola.
Ainda que deficientes e um pouco rudimentares, a criança está já dotada de memória, atenção voluntária, perceção, juízo e raciocínio.
É suscetível de experimentar os afetos mais variados e manifesta, como o adulto, diversos impulsos e movimentos voluntários.
Na adolescência, o cérebro atinge o seu pleno desenvolvimento, notando-se depois disso apenas aumento das fibras de associação. É neste período que as glândulas sexuais, e outras, lançam no sangue substâncias químicas que exercem influência sobre muitas partes do corpo e atuam profundamente no cérebro dando origem a modificações psíquicas consideráveis, principalmente quanto à sensabilidade e à inteligência.
Na vida intelectual, dá-se uma transformação radical.
A aprendizagem, mais ou menos mecânica da idade escolar, cede o lugar à reflexão; o pensamento torna-se mais abstrato e dirige-se mais para a vida do espírito.
Há um desejo de compreender tudo; a imaginação exalta-se, a memória cresce com maior rapidez; descobre-se o próprio “eu”; nota-se o espírito de rebeldia; o desejo de independência e, ainda, uma certa tendência para a ironia.
Nota-se um desenvolvimento constante da personalidade e um aumento na vida psíquica.
A religião, que a criança recebera através da educação, mais ou menos com caráter automático, é agora objeto de investigação e de crítica.
Com a idade orgânica varia a vida psíquica. Esta é tanto mais complexa, quanto a idade aumenta.
Já adulto, o Homem sabe que a vida psíquica não se desenrola num espírito sem corpo ou à margem da vida orgânica.
O homem não pensa, ama ou admira só com o espírito, como também o corpo não vive e exerce as suas funções sem o princípio espiritual que o anima.
E como o Homem é, sempre foi, um animal social, não o podemos separar da sociedade que nele tem uma influência apreciável.
A sociedade não é só, neste sentido, um conjunto de interesses materiais, mas é, principalmente, uma “realidade moral”, um conjunto de crenças, opiniões e sentimentos que são como que quadros sociais ou formas dentro das quais o espírito individual se molda.
Perceber um “objeto” não é só, agora, reunir à volta da sensação por ele provocada os conhecimentos já adquiridos e guardados na memória…
Cada Homem, sendo um Mundo, tem um jeito, muito seu, de “olhar” as reações dos outros…

… ESTE É O MEU JEITO DE OLHAR.

Carlos Fiúza

2 comentários:

mario carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mc disse...
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