A Psicologia, palavra geralmente atribuída a Goclenius de
Marburgo, do grego “psykhé” (alma) e “logos” (tratado), é a “ciência da alma”.
A Psicologia, como ciência, é de organização recente. Até o
século XIX, a Psicologia teve mais em vista o estudo da alma, como realidade
metafísica, preocupando-se com os fenómenos psíquicos apenas na medida em que
pudessem esclarecer a natureza daquela.
Só na segunda metade do século XIX, devido, principalmente,
aos trabalhos de Wundt e a fundação do primeiro laboratório de Psicologia
Experimental (Leipzig - 1879), a Psicologia muda de orientação e, tomando um
grande incremento, aspira a ser considerada como uma ciência autónoma e
positiva, excluindo do seu campo todas as questões de ordem metafísica.
Esta última tendência é defensável, se com ela se quer
exprimir que as questões metafísicas da origem, natureza e fim da alma, devem
hoje fazer parte de um outro estudo; mas não é de admitir no sentido de negar a
existência de tais questões.
A Psicologia Racional mantem-se, correspondendo à imperiosa
necessidade que temos de admitir, para além dos fenómenos, uma realidade
espiritual e estável, fundamento de nós próprios e do nosso valor.
E como a Psicologia Racional não pode ser uma Psicologia sem “fenómenos”,
também a Psicologia Experimental não
poderá ser uma Psicologia sem “alma”.
Entre elas não há uma oposição, mas apenas uma diferença de
pontos de vista acerca da mesma realidade.
A infância do homem, ao contrário da dos animais, é mais
longa e, por isso, a sua ascensão na vida psíquica é também mais demorada; o
desenvolvimento espiritual acompanha o desenvolvimento do corpo.
A vida psíquica do recém-nascido é muito rudimentar; os seus
movimentos são quase todos reflexos, independentes do psiquismo, embora
manifeste também movimentos instintivos e certos atos que exteriorizam agrado
ou desagrado, ainda que sem consciência.
Nesta idade não há ainda perceções, pois estas são uma
elaboração mental, em que entram muitas funções psíquicas, além das sensações,
como a atenção, a memória, a reprodução e a associação dos conhecimentos
adquiridos.
Há apenas sensações elementares, não diferenciadas, e nem
todas, pois a criança manifesta apenas sensações gustativas, olfativas e
tácteis e só mais tarde é que começa a “ver” e “ouvir”.
Há medida que o cérebro se vai desenvolvendo, a criança vai
adquirindo o necessário para condicionar a aquisição dos conhecimentos
científicos que se ensinam na escola.
Ainda que deficientes e um pouco rudimentares, a criança está
já dotada de memória, atenção voluntária, perceção, juízo e raciocínio.
É suscetível de experimentar os afetos mais variados e
manifesta, como o adulto, diversos impulsos e movimentos voluntários.
Na adolescência, o cérebro atinge o seu pleno
desenvolvimento, notando-se depois disso apenas aumento das fibras de
associação. É neste período que as glândulas sexuais, e outras, lançam no
sangue substâncias químicas que exercem influência sobre muitas partes do corpo
e atuam profundamente no cérebro dando origem a modificações psíquicas
consideráveis, principalmente quanto à sensabilidade e à inteligência.
Na vida intelectual, dá-se uma transformação radical.
A aprendizagem, mais ou menos mecânica da idade escolar, cede
o lugar à reflexão; o pensamento torna-se mais abstrato e dirige-se mais para a
vida do espírito.
Há um desejo de compreender tudo; a imaginação exalta-se, a
memória cresce com maior rapidez; descobre-se o próprio “eu”; nota-se o
espírito de rebeldia; o desejo de independência e, ainda, uma certa tendência
para a ironia.
Nota-se um desenvolvimento constante da personalidade e um
aumento na vida psíquica.
A religião, que a criança recebera através da educação, mais
ou menos com caráter automático, é agora objeto de investigação e de crítica.
Com a idade orgânica varia a vida psíquica. Esta é tanto mais
complexa, quanto a idade aumenta.
Já adulto, o Homem sabe que a vida psíquica não se desenrola
num espírito sem corpo ou à margem da vida orgânica.
O homem não pensa, ama ou admira só com o espírito, como
também o corpo não vive e exerce as suas funções sem o princípio espiritual que
o anima.
E como o Homem é, sempre foi, um animal social, não o podemos
separar da sociedade que nele tem uma influência apreciável.
A sociedade não é só, neste sentido, um conjunto de
interesses materiais, mas é, principalmente, uma “realidade moral”, um conjunto
de crenças, opiniões e sentimentos que são como que quadros sociais ou formas
dentro das quais o espírito individual se molda.
Perceber um “objeto” não é só, agora, reunir à volta da
sensação por ele provocada os conhecimentos já adquiridos e guardados na
memória…
Cada Homem, sendo um Mundo, tem um jeito, muito seu, de “olhar”
as reações dos outros…
… ESTE É O MEU JEITO DE OLHAR.
Carlos Fiúza
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