15 outubro 2012

A actual crise: João Lopes de Matos



Tenho pensado tanto na situação actual do país e nas hipotéticas soluções que ando a ficar de todo baralhado.

Primeiro, sobre as causas
é difícil saber se elas estão sobretudo em razões, como agora se diz, endógenas (internas, nossas) ou, pelo contrário, exógenas (vindas do exterior, alheias ao nosso querer).
Até determinado momento, entendia-se, sem margem para grandes tergiversações, que o problema era sobretudo interno e tinha até um nome: Sócrates.
Depois, com o passar do tempo, verificou-se que havia mais países nas mesmas condições e então pensou-se que tudo não podia derivar só da vontade de um homem, por muito poder que tivesse.
Concluiu-se, então, que havia razões de uma ordem e de outra.

Nós, internamente, facilitámos um tanto: abusámos dos juros baixos e, depois, quando os juros subiram, rebentámos. Mas também é certo que o mesmo se passou noutros países e que, com o aperto a que a Alemanha a todos nos obriga, tudo se complicou.
Cá dentro, quando o Sócrates se viu obrigado a subir os impostos, os seguidores do actual governo gritaram que isso não era necessário pois que bastava cortar nas gorduras do Estado.
Chegados ao poder, em vez de cortarem nas gorduras, cumpriram com rigor e ao extremo as directrizes da troika no sentido da austeridade (através do aumento dos impostos e não pelo corte nas gorduras).

Reconhece-se, porém, que não é fácil sair deste imbróglio. Sem dúvida que é necessário efectuar cortes nas despesas, diminuindo o peso do Estado, tornando-o, por outro lado, mais ágil, racionalizando e majorando os seus serviços.
Também é necessário diminuir um tanto o nosso poder de compra porque ele está acima das nossas produção e produtividade.

E como isso deve ser feito?

Efectuando as reformas necessárias nos vários sectores do Estado: saúde, justiça, educação, administrações central e autárquica … Que acontece aqui? A propósitos de reformas dos governos responde-se sempre com oposição cerrada sem apresentação de alternativas ou com alternativas que tornam de todo inviáveis as reformas. Claro que estas devem ser feitas com tempo, embora este já nos escasseie, e de molde a não provocar um aumento desmesurado do desemprego. Mas não podemos ficar sempre pela oposição pura e dura.
As reformas são assim de muito difícil concretização, a não ser quando nos encontramos já em situações extremas.

A diminuição das despesas também é difícil, porque poucas não acarretam despedimentos.
A baixa do poder de compra deve igualmente ser cautelosa para que as actividades económicas não sofram um sufoco repentino com as correspondentes falências e aumento de desemprego.

Como pagar, por último, a nossa dívida, com os juros que nos obrigam a desembolsar?
É realmente uma tarefa talvez impossível de realizar. Necessitaríamos de empréstimos a juro zero ou até de um perdão parcial da dívida. De outra maneira, é muito difícil ir lá.
É que ainda falta, por fim, uma coisa essencialíssima: aumentar o crescimento económico.
E como é que isso se consegue se não temos abundância de capitais e os entendidos afirmam que só lá vamos com muito e enorme investimento estrangeiro?

Julgo que para podermos sair disto tudo airosamente é indispensável que a Europa funcione como um todo e as nações ricas ajudem as mais pobres , que todos os países funcionem como um só.

Será isto possível?

João Lopes de Matos

15 comentários:

Unknown disse...

Antes que alguém implique com a palavra ”majorando”, peço a substituição pela palavra “otimizando” ou “majorando a eficiência”.
O artigo pressupõe a nossa permanência no euro. Nem quero pensar na hipótese da saída, que provocaria, durante largos tempos , a miséria de muita gente, de todos aqueles que têm rendimentos fixos.
JLM

Unknown disse...

O orçamento acabado de anunciar é demasiado pesado.
Vai provocar um aumento da recessão, com falências e desemprego, e não sei se será exequível e se para o ano não estaremos ainda pior.
É necessário que isto se resolva a nível do centro europeu: emissão de moeda, eurobondes,juros zero e até perdão parcial de dívida.A ação do BCE é aqui muito importante.
Tudo isto aliado às medidas que têm vindo a ser tomadas(e outras) mas com mais tempo e mais suavidade.
JLM

Anónimo disse...


Será isto possível?

O bem elaborado artigo de JLM transpõe-nos para uma realidade que nos é penosa:
Estaremos todos, por igual, a “pagar” uma crise para a qual nem todos contribuímos de igual modo?
E, se assim for, o que é isso de crise? O que é que o comum do “contribuinte” tem a ver com a mesma?
Vejamos:
- Quando o dinheiro não chega para “todos”, há que o racionalizar. Como? Redistribuindo-o de acordo com as “necessidades” de cada um, isto é, a cada um de acordo com uma vida “digna”.
- Mas se essa distribuição não for explicada ao mais “comum dos contribuintes” de quem é a culpa? Sua, ou de quem deveria ter a “obrigação” de lhe falar verdade?
- E o que é a verdade? A da política? Se “políticos” somos todos nós, a responsabilidade não será de todos?
Penso que no meio do “vendaval” que nos varre há muita demagogia. Hoje é fácil dizer o que se vê estar mal; como deveria ter sido feito. A verdade, porém, vem do anteriormente…
Portugal não estava minimamente preparado para aderir ao Euro.
O nosso tecido económico era “débil”, muito débil mesmo… as nossas estruturas económicas eram deficientes. Não tínhamos “Pib” nem “mais valias”… tínhamos, sim, um desejo enorme de pertencer ao “clube” dos grandes. Os fundos “estruturais” foram-se em tudo menos “estruturas"… não se criou valor acrescentado.
O que me pasma é qualquer “impreparado” como eu ter “visto” o que nos esperaria…
Não há “almoços grátis”… e o custo aí está.
Uma das principais alavancas de controlo interno é a “moeda”… até uma simples “dona de casa” sabe isto: se só tiver 500 Euros mensais de rendimento “não pode” gastar 600.
Como “embarcámos” nos juros “fáceis” e “aparentemente” baratos?
Por “ilusão”, por “desleixo”? Ou, simplesmente, empurrando o “problema” com a barriga?
Ou não era (nunca foi) nossa intenção pagar a dívida?
Hoje sabemos que só o serviço da dívida para 2013 é de mais de 8 mil milhões! Mais do que o orçamento da Educação, da Saúde e da Segurança Social!
Não era isto previsível?
Escrevi um dia (acerca da possível implosão do Euro):
- “País que não controle a sua divisa estará sempre na mó de baixo”.
Infelizmente os factos apontam para isso.
Sem “rotativas”, sem “moeda própria” estamos (e continuaremos a estar) à mercê dos nossos credores…
Mas serão esses credores os “maus da fita”? Estaremos assim tão “inocentes”?
Este OE até poderá ser (é-o, com certeza) um “atentado” ao social mas… as nossas “políticas” assim o ditaram.
Não “vejo” saída possível sem aperto, sem sofrimento social… a não ser… que (de repente, o que não acredito) a Europa se torne “solidária” (outra palavra esquisita tão do agrado dos nossos políticos).
Mais uma vez não acredito em “almoços” (ou “jantares”) grátis…
O “dinheiro” é muito “caro” para se distribuir gratuitamente!

Se eu fosse “importante”, se me sentisse na “obrigação” de retribuir ao País (como o nosso Ministro das Finanças) o quanto ele gastou na minha educação, deixaria uma sugestão:
- Continue-se no Euro… mas “externamente”.
- Retornemos ao Escudo para “uso interno”.
- Façamos esse Escudo não convertível.
Assumamos a dívida em Euros, mas vivamos internamente com outra moeda… moeda que só correria em território nacional.

A “Esperança” (mais do que a “poupança”) agradeceria…

CF

Unknown disse...

O problema está já neste ponto: seremos nós, com todos os sacrifícios, capazes de pagar a dívida, sem uma ajudinha?
E se não conseguirmos? Seremos abandonados à nossa sorte?
A sua receita,CF, dará resultado neste caso?
JLM

Fernando Gouveia disse...

Sem pretender dar soluções faceis (desculpem, mas não tenho acentos agudos) gostaria de felicitar o CF pela boa reflexão que faz. De facto, a nossa forma de vida nas ultimas decadas so poderia continuar por milagre. Portugal consumia muito acima da sua capacidade de produzir e alguém tinha de cobrir a diferença. Isso foi feito à custa do crédito, quer ao Estado, quer às familias. Um dia isso teria de acabar.

Escrevi sobre este assunto no Diario de Tras-os-Montes na semana passada, essencialmente para contrariar a tese de que a culpa é da Alemanha. Não vou voltar a essa tese.

O que me preocupa é que este orçamento esta errado e o governo bem o sabe. Os pressupostos da recessão,do desemprego e da receita fiscal são uma fantasia. La para Julho de 2013 teremos certamente um orçamento suplementar. O que vira confirmar que esta receita não cura os males do pais. Alias o Vitor Gaspar declarou que o seu objectivo é apenas ganhar credibilidade para voltar aos mercados, ou seja, não se trata de pagar as dividas, mas apenas encontrar alguém que continue a emprestar-nos. Mas isto é opção para um Estado que se quer independente?

Eu não vejo solução que não seja mudar de vida. Contar mais connosco, por a população desempregada a produzir muito daquilo que importamos, penalizar consumos desproporcionados, levar a educação a sério e exigir honestidade e competência na vida politica. Sera isto pedir muito em troca da dignidade?

Anónimo disse...

Meu Caro JLM

Não sei (nimguém sabe se a receita dará resultado.
Não preconizo sair do Euro; longe disso.
Preconizo, sim, mantermos o Euro como moeda "oficial", para exterior "ver".
Preconizo o Escudo como moeda corrente (interna).
Preconizo esse Escudo não convertível.
Preconizo (temporariamente) que haja duas moedas: o Euro para o exterior e o Escudo para o interior.
Dará resultado? Já houve experiências noutros países (nem sempre bem sucedidas, é verdade).
Mas, entre o "nada" e o "pouco" os nossos credores escolherão sempre o "pouco".
Isso eu sei.

CF

P.S. Se, entretanto, ainda formos donos das "rotativas".

Anónimo disse...


Será isto pedir muito em troca da dignidade?

Assim terminou Fernando Gouveia o seu comentário.
Mas… o que é dignidade? A “dignidade” do que é “digno”, ou a “execução” de interesses nem sempre coincidentes?
Tenho, para mim, que (hoje) as palavras perderam significado… já não há honra, respeitabilidade. A “palavra” perdeu valor, dilui-se, transfigurou-se conforme as conveniências do momento.
O “falar verdade” nunca foi apanágio dos políticos… e as “jotas” são as “escolas” apropriadas!
A demagogia campeia, as “soluções mirabolantes” imperam… quais cogumelos em terreno fértil!
Rasgar o memorando de entendimento, o que significaria?
Perda de credibilidade, de honorabilidade, de prestígio? E depois? Como pagaríamos os ordenados dos nossos concidadãos, as pensões dos nossos maiores?
Há, pois que honrar a dívida.
Há, pois que entrar na senda dos sacrifícios.
Mas há, também, que haver “esperança” no futuro, há que interiorizar que os sacrifícios atuais não serão “desperdiçados.
E essa certeza ninguém tem… nenhum “governante” (atual ou futuro) no-la pode dar.
Que fazer? Esperar que a Europa tome conta do “problema” é um mito… mito que nos querem “passar”.
Se nós, no nosso próprio país, não somos solidários… como esperar a solidariedade de uma Finlândia, de uma Suécia (já não falando na Alemanha)?
Acordemos, lucidamente…
Portugal desceu aos Infernos.
Dante (ele mesmo) não saberia escolher entre dois níveis do seu “Inferno”.
E assim,
permito-me insistir: sem moeda, sem os mecanismos que nos possibilitem manipular os “câmbios”, sem “rotativas”, não vejo “solução” que não seja a “perda” (oxalá que temporária) da nossa soberania interna.
Não nos iludamos: ainda que (formalmente) a nossa Constituição diga que a “última palavra” pertence à Assembleia da República, na “prática” isso JÁ não é verdade…
- TODA E QUALQUER ALTERAÇÂO AO OE TERÁ DE TER O “OK” DA TROIKA!
Querem mais “dependência”?
E quantos portugueses “sabem” isto?
Não sou economista no verdadeiro significado do termo… trabalhei (como é do conhecimento publico) em “Mercados Financeiros”.
E se o melhor “conhecimento” é a prática (Já Camões o dizia: saber de experiência feito), então é bom que perdamos as ilusões: nunca os nossos credores abrirão mão dos seus créditos…
E depois? Como “sobreviver”?

Em desespero, sugeri (ainda que com algum atrevimento):

1-Manter o Euro para o mercado externo;
2-Voltar ao Escudo para o mercado interno;
3-Proibir a “conversão” do Escudo.

Internamente, pagar a bica ou o jornal, a farmácia ou o hospital em Euros ou em Escudos era indiferente… as “rotativas” lá estariam (já foi assim no passado).
Haveria inflação? Com certeza… mas entre o possível “possível” e o possível “nada” a escolha seria menos penosa.
Portugal “arrecadaria” o Euro para efetuar compras e honrar compromissos… o “desperdício” interno seria bem menor.
Resultaria esta “receita” (como pergunta JLM)? Não sei, mas também ninguém pode afirmar o contrário…

CF

Unknown disse...

Não acreditam na solidariedade mas,no entanto,ela existe:de pessoa a pessoa,de instituição a pessoa e até de instituição a instituição.A Alemanha,por exemplo,beneficiou muito da solidariedade no pós-guerra.
Acontece que as pessoas e as instituições caiem em situações graves e não têm culpa disso,num cataclismo,por exemplo.A solidariedade surge e minoram-se as dificuldades e os sofrimentos.
Teremos que pensar que,se não formos capazes de pagar a dívida,teremos que cair no fundo e que só nos levantaremos a pulso?
Não acreditam na parábola do filho pródigo?
JLM

Anónimo disse...


A parábola do “Filho Pródigo”

Acreditará JLM (verdadeiramente) em parábolas?
Se acredita… os meus parabéns.
Não sendo ingénuo nem inculto, permito-me perguntar: o que é e para que serve uma parábola? Para “passar” uma mensagem da forma mais atraente, menos “dolorosa”?
Se assim for, deixe-me trazer à colação uma outra parábola (ou será fábula?): a da “Cigarra e a Formiga”…
- “Era uma vez um povo que pouco mais de três horas de sol tinha por dia. O seu dia era, assim, escuro e passado (por isso mesmo) quase sempre em casa, só convivendo com os amigos aos fins de semana.
Um dia esse povo viu (para seu espanto) grandes anúncios nas paredes, nos jornais e nas televisões:
- “O paraíso está ao seu alcance… visite Portugal e desfrute das suas solarengas praias… delicie-se com o “dolce farniente” enquanto “trabalha para o bronze!”
Mas que é isto (pensou)… então há países com praias a perder de vista, sol às carradas, pessoas lindas de “morrer” e que passam o dia a bronzear-se? Eles trabalham para o “bronze”. E eu, estou a trabalhar para quê?”
E a “inveja” entrou em seu coração…
E jurou (a partir desse momento) deixar de ser solidário com esses países.

Mas esse mesmo povo é um dos maiores “contribuintes” para a causa africana… onde também há praias e sol!

Porquê?

CF

PS1. Sim, a solidariedade existe nos moldes por si referidos... felizmente ainda há uns "poucos" que a praticam.
PS2. Sim, a Alemanha beneficiou da solidariedade internacional. Mas a que preço?E que "interesses" houve não confessados?
PS3. Sim, acredito na solariedade do indivíduo...não do grupo enquante sociedade.

Fernando Gouveia disse...

Quando na minha intervenção me referi a dignidade e ao preço a pagar por ela falava, obviamente, da nossa dignidade de pais soberano ( com todas as reservas de soberania a que CF se referiu, ja que não é soberano quem quer mas apenas quem pode).

Quando me referi a mudar de vida quis dizer mudar de regime. Nao me parece possivel continuar a ter governantes corruptos ou "habilidosos", presidentes pouco mais que fantoches, com muitos telhados de vidro, conluios de amigos dependurados nos orçamentos que os cidadãos têm de alimentar com lingua de palmo.

Quanto a solidariedade, desculpem a desilusão: ha muito tempo que ouvi a um governante português que os paises não têm amigos, têm interesses. Neste caso, a parabola da cigarra e da formiga parece-me bem mais apropriada que a do filho prodigo.

Unknown disse...

Punhamos de parte a solidariedade.
Falemos apenas em termos económicos e financeiros ou simplesmente negociais:
Não admitem a hipótese de um credor ter interesse em criar as condições que permitam ao devedor pagar todo o capital ou até só parte dele,abdicando, no primeiro caso,de parte ou da totalidade dos juros?
O devedor deve pagar mas,por vezes,não consegue.O credor não sabe avaliar a situação do devedor e pugnar pela solução possível?
E que interesse tem o credor em deixar o devedor numa situação tal que não mais possa negociar com ele,podendo até ter boas recordações de ótimos negócios num passado duradouro?
JLM

Anónimo disse...


“Os estados não têm amigos, têm interesses…”

Com esta frase lapidar, Fernando Gouveia “mata”, magistralmente, a veleidade de quem ainda pensava poder vir a existir qualquer solidariedade entre estados ricos e estados pobres.
Felicito-o pela sua coragem.
De há muito que penso isso… na minha mente (quando escrevi não acreditar na tal “solidariedade”) esteve sempre a bailar o conhecido aforismo popular: “Muito tens, muito vales; nada tens, nada vales”.
É um facto conhecido o que afirma… daí o não haver “almoços grátis”.
Gostaríamos (como sugere JLM) de ter juros à taxa zero, quando não perdão parcial da dívida.
Tal não é possível.
Mas…
Graças, sobretudo, às linhas gerais do nosso Orçamento de Estado apresentado esta semana à Assembleia (e já conhecidas pelos nossos credores) e com mais uma cimeira europeia à porta, o clima de alívio de pressão sobre as dívidas dos países “periféricos” gerou descidas significativas na probabilidade de incumprimento num horizonte de cinco anos para Portugal.
Os Mercados são o que são (gostemos ou não), e todos os analistas esperam a aprovação do nosso OE.
O contraciclo é, assim, positivo para Portugal, sobretudo quando a estas notícias acresce o impacto otimista das notícias vindas de Atenas (em que não houve rutura nas negociações).
Para que vejam o que é a “sensibilidades” dos mercados, só um facto:
Hoje (18 de outubro), dados os “rumores” da possível quebra da coligação PSD/CDS, na abertura do mercado de dívida já se verificava uma tendência (ligeira) de subida.
Mas como nem tudo é mau, aqui vai uma “boa notícia”:
- O risco da dívida portuguesa desceu (17 de outubro) para 30,63%, uma quebra de mais de um ponto percentual em relação ao fecho do dia anterior.
E agora uma “má notícia”:
- Como, entretanto, os mercados estiveram à espera da “comunicação” do CDS sobre qual a sua posição quanto à aprovação do Orçamento,
- Hoje (18 de outubro), de manhã, o nosso risco de dívida já abriu a 30,28% e durante a tarde voltou a subir.

Conclusão:
Como os nossos credores esperam de nós o total cumprimento do memorando da Troika,
em termos do mercado dos “credit default swaps” (derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco de incumprimento, cds no acrónimo), o seu preço desceu a níveis não observados desde novembro de 2010.
Uma outra boa notícia, portanto.

Mesmo assim (e com todas estas aparentes “boas notícias”), - Portugal conserva o 9.º lugar no “clube” dos candidatos a uma bancarrota e está a quatro pontos percentuais de distância do Iraque, que detém a 10.ª posição.

São membros do referido “clube” do incumprimento, além de Portugal (9.º lugar), a Grécia, que lidera e o Chipre (2.º lugar).

Um último exemplo do que são os mercados (e qual o nosso "valor" perante eles):

- A Espanha, a Itália (e mesmo a própria Irlanda) mantêm-se fora deste “clube”.

CF

Unknown disse...

A solução parece estar em grande medida nas mãos da U.E..
Fora isso,só nos resta rezar.
JLM

Anónimo disse...

Nota: como o meu comentário se deve ter extraviado, aqui segue na íntegra:

ASSIM VAI O MUNDO...
À atenção do meu Amigo JLM

Portugal sobe para 8º (oitavo) lugar no "clube" dos candidatos à bancarrota (subiu 1%).

O prémio de risco - diferencial entre o custo da dívida portuguesa e da alemã no prazo a dez anos - agravou-se hoje, tendo fechado em 6,2 pontos percentuais. Ontem fechara abaixo de 6 pontos percentuais. Regressou ao nível de 18 de outubro, dia do início da cimeira europeia em Bruxelas.
Também no mercado dos "credit default swaps" (cds), o preço destes seguros contra o risco de incumprimento da dívida portuguesa subiu ligeiramente.
Fruto dessa situação, a probabilidade de incumprimento num horizonte de cinco anos aumentou de 31,38% no fecho de ontem para 32,38%, no fecho de hoje.

Espanha vê situação agravar-se.
O Prémio de Risco da dívida espanhola subiu para 4,05 pontos percentuais - ontem fechara em 3,88. No dia do início da cimeira europeia baixara para 3,71.
A probabilidade de incumprimento da dívida espanhola subiu de 22,79% no fecho de ontem para 24,67% no fecho de hoje, quase dois pontos percentuais. A 18 de outubro, no dia de início da cimeira europeia, estava em 22,47%. No começo do mês, a situação era, no entanto, pior - o risco estava em 28,73%.
Espanha mantém-se fora do referido "clube", com a Grécia a liderar (com níveis de risco que apontam para a iminência de um evento de incumprimento).

Entretanto, a atenção sobre Itália regressou.
O prémio de risco subiu hoje para 3,29 pontos percentuais. O risco de incumprimento subiu de 19.57% no fecho de ontem para 20,67% no fecho de hoje.

Irlanda surge como caso especial.
O ex-Tigre Celta continua a ver a probabilidade de incumprimento descer, ao contrário dos outros três países "periféricos". Em 1 de outubro estava em 24,25% e hoje desceu já para 15,9%.

Estónia, Luxemburgo e Finlândia são as únicas economias da zona euro com défice abaixo de 3% e dívida inferior a 60%.

Entre os restantes dez países da União Europeia que não fazem parte da União Económica e Monetária também só se contam mais três exemplos: Bulgária, Dinamarca e Suécia.

No conjunto, as contas dos países da UE e da zona euro agravaram-se substancialmente desde 2008.
Nesse ano, o défice dos países da moeda única foi de 2,1% e a dívida estava em 45% do PIB.
Em 2011, os valores foram de 4,1% e 87,3%.

No caso dos 27 da União, o défice passou de 2,4% a 4,4% nestes três anos com a dívida a engordar de 62,2% para 82,5%.

No caso espanhol, o Eurostat reviu o défice em alta no ano passado para 9,4% do PIB, o mesmo valor que a Grécia, com a dívida a subir para 69,3%.
Trata-se de um salto de quase trinta pontos percentuais desde 2008.
No caso da Irlanda, que era outro país com reduzida dívida antes da crise, o salto foi de 44,5% do PIB para 106,4%, embora inclua o resgate aos bancos.
Para Portugal, o gabinete de estatísticas europeu confirmou as contas do INE, ou seja, um défice de 4,4% do PIB (conseguido com a receita extraordinária da transferência dos fundos de pensões da banca) e uma dívida de 108,1%.

CF

Anónimo disse...


Última hora: (25/Outubro)

Portugal regressou ao 7.º lugar no grupo dos 10 países com maior risco de entrada em bancarrota num horizonte de cinco anos, segundo dados da CMA DataVision.

Ontem (24/Outubro) já havia subido para a 8ª posição.

Nas últimas semanas tinha descido para a 9ª posição, tendo o risco estado no patamar dos 30% em 17 e 18 de outubro (este o primeiro dia da recente cimeira europeia).

Ao final da manhã de hoje, o risco situa-se em 34,16%, tendo fechado ontem em 32,28% e tendo aberto hoje em 32,83%.
Um salto significativo, portanto.

O custo dos "credit default swaps" (derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco de incumprimento e que são acionados durante eventos de crédito) ainda não está, contudo, em 500 pontos base, situando-se agora em 471,62 pontos base.

Dia 17 de outubro, esse custo estava em 410,76 pontos base.

E assim vai o Mundo...

Amigo João: estou verdadeiramente preocupado por esta escalada.

CF