16 maio 2011

Manuel António Pina: O Mundo como eles o vêem

Quando ontem soube que Dominique Strauss--Kahn, director-geral do FMI, tinha sido preso em Nova Iorque (a palavra é "detido", mas nem só de rigor jurídico vive a língua, alimenta-a também o desejo) acusado de crimes de violação e sequestro, a minha primeira reacção foi de irracional euforia: afinal havia Justiça - assim, com maiúscula e tudo - no Mundo!

Imaginei Strauss-Kahn acusado de violação dos direitos dos numerosos povos do Mundo que o FMI tem "resgatado", o último dos quais o português, e do sequestro de outras tantas economias nacionais para uso e abuso dos famosos mercados, "petit nom" da banca internacional e dos grandes fundos de especulação financeira.

E veio-me à memória o recente "memorando" da "troika" de FMI & Cª, que PS, PSD e CDS/PP disputam agora a honra de aplicar ao que sobrou das pensões, prestações sociais e salários após os sucessivos PEC aprovados pelos mesmos partidos. Ainda por cima as notícias diziam que Strauss-Kahn é reincidente em crimes semelhantes e não pude evitar lembrar-me dos estragos feitos pelo FMI (só para falar de exemplos recentes) na Grécia e na Irlanda.

Afinal a coisa era literal e Strauss-Kahn terá "apenas" sequestrado e tentado violar uma empregada do hotel onde estava hospedado. Compreende-se como deve ser o Mundo visto de dentro da sua cabeça: se põe e dispõe de povos inteiros porque não há-de dispor como bem entender de uma empregada de hotel?


No JN de hoje

2 comentários:

Anónimo disse...

Custa-me sempre aderir a uma visão demasiado moralista do homem e do mundo.
A este senhor coube-lhe vir a desempenhar um lugar numa instituição que já existe há muito tempo.
Ele tinha que desempenhar um papel.Será que o desempenhava com o prazer sádico de fazer mal a quem viesse a ser sujeito às suas decisões?
Custa-me a crer.
No caso do acto por ele praticado,
será que pretendia ligar-se,sexualmente,de igual para igual,com a vítima ou queria apenas usá-la como objecto dos seus desejos?
Não sei.
Mas isso também pouco importa, porque, do ponto de vista da lei e de imediato, o que interessa é que o homem forçou demais a senhora e isso,do ponto de vista da lei americana,é punido com severidade.
O que me mete mais impressão é que este homem não é um homem qualquer e devia ter chegado à conclusão(há muito tempo)de que tinha um apetite sexual sobre o qual não tinha o controle que ,em especial ele, devia ter.
Deveria ter consultado um médico que lhe desse um remédio que lhe permitisse controlar-se mais.
Não o fez e agora sofre as consequências da justiça americana.
De qualquer modo,até teria sido benéfico para ele ter encontrado alguém que o tivesse obrigado a tratar-se, por representar um perigo para a sociedade.
Tratar estes casos com excessiva e exclusiva moralidade é que me parece que não interessa a ninguém.
JLM

Anónimo disse...

porque é que JLM tem de vir aqui lançar farpas?