26 setembro 2008

No castelo de Ansiães


Demais sei eu que o que se passou,
a história não é uma serpente
que se refaz em cada primavera,
mas quando muito morde a própria cauda;

que os que aqui moraram já nem ossos são,
soprou sobre eles o tempo
e extinguiu o pouco fogo que eram;

que cessou todo o ruído, de festa ou de querela,
dissolvido no ácido dos dias;

que os lugares onde acaso podia ter ficado
impressa alguma pegada ocidental,
algum risco na pedra com vocação histórica,
estão ocultos por silvas e aveia brava.

Demais eu sei que os horizontes
que vamos recolhendo do alto das muralhas
com as afectuosas pinças da alma
- contrariamente aos que moraram e morreram –
permanecem os mesmos:
perpétuo desafio ao vento e ao olhar.

Então, se tudo isso eu sei:
Carne friável, minerais perenes;

e se com tudo isso me conformo, como homem
sobre quem também soprará
o tempo e está disposto a perdoar;

porquê esta água insubmissa
que devagar me molha o reverso dos olhos?


A. M. Pires Cabral e alt.

10 comentários:

Unknown disse...

Como há alguém que tão bem define a nossa natureza(humana)?Porque não se limita ele a viver?Porquê e para quê ele se observa,se olha,se reflecte?Homem:nasce,vive,morre-não medites sobre ti,tornas-te infeliz.
JLM

Alexandrina Areias disse...

Bonito poema este "No Castelo de Ansiães"!! Não conhecia, os meus parabéns pelo facto de o terem partilhado connosco...

Concordo totalmente com a idéia do Sr. Jorge Laiginhas quando diz que este poema ficaria bem, gravado num penedo do Castelo...

Cumprimentos,

AA

Anónimo disse...

Excelente poema este, do meu amigo A. M. Pires Cabral, aqui despedindo palavras,como balas, trespassando os veneráveis ossos de Ansiães, ao sabor dos ventos áridos do nordeste e com as metáforas em sangue. Carrazeda estende-se logo ali, em baixo, murmurando ais, enquanto não vem a desejada lufada de ar fresco...

h. r.

Anónimo disse...

É deveras dgradante o estado em que se encontra o Castelo de Ansiães.Em ruínas é certo mas as ruías têm a sua História e estas ruínas são a nossa História sendo elas que dão o nome à VILA DE CARRAZEDA DE ANSIÃES.Éincrivelcomo os responsáveis não olham para o nosso Paatrimónio com olhos de ver e o abandonam ainda mais à sua sorte.Será que ficaria asim tão custoso mandar fazer a limpeza daquele espaço?Esta Vila é uma triteza e mais triste ainda é ver como quem nos governa consegue renegar a si próprio a sua História.Somos pequenos é certo,mas sendo pequenos poderíamos ser muito grandes se perservassemos o que os nossos antepassados nos deixaram.Convido todo o Executivo da Câmara a visitar a Citânia de Briteiros em Guimarães,e verão como se preza a História.Desde a limpeza ao roteiro sinalizado do que outrora foi.Está tudo limpíssimo e demarcado.São inúmeros os turistas nacionais e estrangeiros aqueles que a visitam,até se calhar mais estangeiros.Porque não seguir este exemplo e dar às RUÍNAS DO CASTELO DE ANSIÃES o valor que elas têm? Como atràs refiro mas não nos podemos esquecer que era natural de Carrazeda de Ansiães UM DOS VICE-REIS DA ÍNDÍA D.LOPO VAZ DE SAMPAIO homeneageado com uma Praça com o seu nome facto que nem sequer foi nomeado aquando da visita do Professor José Hermano Saraiva.Peço á CÂMARA MUNICIPAL para que não volte as costas à História e dê seguimento com olhos de ver o que os nossos antepassados nos deixaram.O Castelo de Ansiães poderia ser entre outros um dos grndes polos de atração turistica do nosso Concelho.Mesmo assim não acha bem mandar imprimir a História do Castelo de Ansiães com a sua HISTÓRIA para que o Funcionário se se encontra na recepção podesse distribuir por aqueles poucos que o visitam.POR FAVOR PENSE EM TUDO ISTO.

Anónimo disse...

sò o mesquita nao diz nada! por falta de capazidad?

Anónimo disse...

O castelo é apenas o exemplo de tudo o resto!

Anónimo disse...

A mágoa da pessoa antepenúltima a escrever o seu comentário, demonstra ao fim e ao cabo o que todo o concelho sente.
UMA ENORME TRISTEZA por não termos gente capaz!

Anónimo disse...

O castelo é da responsabilidade do IPAR. O estado é que deve manter o castelo e a zona circundante em condições.

Anónimo disse...

O castelo é da responsabilidade do IPAR. O estado é que deve manter o castelo e a zona circundante em condições.

Anónimo disse...

De facto, o castelo é responsabilidade do IPAR. O que muita gente não sabe é que esta entidade não permite quaisqueres alterações no Castelo, assim como, a realização de eventos neste espaço.
Tenho conhecimento disto, pois sei casos onde foi negada a realização de eventos no Castelo de Ansiães, de outro modo apontaria também o dedo à Câmara, pois o cadastro já vai longo.