28 julho 2008

O novo acordo ortográfico


A problemática da unificação da língua numa mesma ortografia vem desde o início do século XX, mais precisamente em 1911. Este foi um acto isolado que o outro grande país falante do português não participou. A reforma introduziu alterações que hoje nos parecem perfeitamente sensatas como a mudança das grafias de theatro, asthma, rheumatismo, polyphonia, christão ou archipélago.
Durante o século XX, foram várias as tentativas de um acordo: 1931, 1943, 1945, 1971/73, 1986. A última reforma ortográfica da Língua portuguesa ocorreu nos anos 70, quando no Brasil e em Portugal (incluídos os territórios denominados ultramarinos) se aboliu o acento grave, em palavras que faziam o advérbio com o sufixo –mente- como amàvelmente, que passou à grafia de amavelmente, e se acabou com o acento circunflexo em palavras como portuguêsmente. Nessa altura, o Brasil também aboliu o acento diferencial, que já não se usava em Portugal (por exemplo, êste, com acento, para distinguir de este, ponto cardial).
O Acordo Ortográfico (veja aqui http://www.portaldalinguaportuguesa.org) assinado em 1990 entre os sete países de língua oficial portuguesa (em 2004 aderiu Timor) apenas estabelece normas ortográficas, isto é muda a grafia de certos vocábulos. Não introduz uma completa uniformização na grafia das palavras, mas naturalmente a redução ao mínimo possível das diferenças. Não altera a pronúncia de qualquer palavra, não cria nem elimina palavras, não estabelece regras de sintaxe, não interfere com a coexistência ou com as regras de normas linguísticas regionais.
O acordo tem motivado uma profunda divisão nos intelectuais portugueses. O rosto pela não ratificação tem sido Vasco Graça Moura que produziu vastos artigos de opinião reunidos no recente livro “Acordo Ortográfico – a perspectiva do desastre”. Entre as várias consequências da ratificação refere a inutilização de milhões de livros adquiridos pelo Governo no âmbito do Plano Nacional de Leitura (Moura, 2008). Na Internet deu-se também início a uma petição online (ver em http://www.petitiononline.com/naoacord/petition.html) para apresentar na Assembleia da República. Os signatários não concordam com a aprovação desse Protocolo, não querem que a Língua Portuguesa, tal como os portugueses a conhecem, seja alterada.
“Nós não queremos escrever palavras como 'Hoje', 'Húmido', 'Hilariante' sem 'h', não queremos escrever palavras como 'Acção' sem 'c' mudo nem palavras como 'Baptismo' sem 'p' mudo. Queremos continuar a escrever em Português tal como o conhecemos agora”.
Do outro lado da barricada o rosto mais visível é Carlos Reis que defende a ratificação:
“Se queremos (eu quero) que o português tenha hipóteses, mesmo que de difícil concretização, de alguma afirmação internacional em confronto com outras línguas, então não podemos continuar a ignorar as debilidades de um cenário linguístico em que alegremente convivem duas ortografias” (Público 22/3/2008)
Esta defesa assenta na defesa da língua enquanto ferramenta de diálogo internacional, bem como na memorização das modificações.
“Se há aspecto do idioma que é marcado por acentuada convencionalidade, esse aspecto é precisamente a ortografia. E as convenções são reajustadas, quando a realidade das coisas a isso aconselha, sem risco de desfiguração cultural e com todas as vantagens de um entendimento possível entre países, sendo inaceitável que um deles se arrogue direitos de propriedade sobre o idioma.” (idem)

Características gerais do novo acordo
A principal característica e também a mais polémica do acordo ortográfico é a de privilegiar “o critério fonético, em desfavor do critério etimológico”, suprimindo consoantes mudas ou não articuladas. Os cês e pês não pronunciados em palavras como director, acção, protecção, baptismo, adoptar e excepção, as quais passam a escrever-se diretor, ação, proteção, batismo, adotar e exceção.
Se actualmente o alfabeto da língua portuguesa consta de vinte e três letras, com a entrada em vigor do acordo ortográfico passa a ter as vinte e seis letras com a entrada do k, do w e do y.
Outra das principais alterações é o emprego do hífen que é simplificado e substancialmente reduzido. Esta modificação, dizem os especialistas, é a que poderá trazer mais confusão.
A utilização das maiúsculas também é simplificada: os meses do ano, os dias da semana e os pontos cardeais e colaterais, títulos de livros, formas de tratamento, domínios do saber, cursos e disciplinas escolares, logradouros públicos, templos ou edifícios.
Suprimem-se também alguns acentos gráficos, é o caso de todas as palavras graves. O ditongo oi em palavras graves não leva acento. Escreveremos boia e heroico em vez de bóia e heróico.
As principais alterações introduzidas pelo Acordo Ortográfico no Brasil são:
Desaparece o trema. Em Portugal escreve-se aguentar, arguido, frequente e tranquilo. No Brasil as normas ortográficas em vigor estabelecem que estas palavras se escrevem agüentar, argüido, freqüente e tranqüilo. O trema é colocado sobre o u para indicar que esta letra é pronunciada. Em Portugal o trema não se usa desde 1945.
O ditongo ei em palavras graves nunca é acentuado graficamente. Por isso, deixa-se de usar acento em palavras como assembléia e idéia. Actualmente tais palavras não levam acento em Portugal.

A cedência dói sempre e neste caso da língua que é uma identificação cultural e até nacional ainda mais, parece-me, no entanto que os ganhos podem ser maiores.

21 comentários:

mario carvalho disse...

E Portugal?

será Portugal ou Portuga?

e Português? será Portugues?



e daqui a 20 anos?

PILOTO disse...

SOU 100% CONTRA O OCORDO ORTOGRAFICO, OS PAISES QUE SE EXPRIMEM EM PORTUGUES TEM MAIS QUE NADA SE ADAPTAREM A LINGUA QUE NARCEU NA NOSSA PATRIA E Ñ O CONTRARIO, FICA EM DUVIDA UM PAIS, UMA CULTURA E UMA HISTORIA PARA Ñ FALAR NA IDENTIDADE OU SÓ SEREMOS PORTUGUESES QUANDO JOGA A Selecção, ALGUNS O SERAM MAS NEM TODOS O SÃO, VENDEM-SE A TROCO DE NADA, E DEPOIS ISSO Ñ É TRaição, é o que?
É tudo uma cambada de traidores e cobardes que tem medo de se impor, até se me consomem as entranhas só por assistir a destruição do meu país, quantos países no mundo fizeram acordos desses, uns lutam para ñ perderem a lingua nacional(ex:Luxembourg) e os nossos (des)governantes estam empenhados a destruir a nossa identidade,é com pena e magua que assisto a tudo isto, e vcs?

Anónimo disse...

o mario que desculpe, mas este seu comentário ao excelente texto de José Mesquita, mostra uma confrangedora ignorância acerca do acordo ortográfico. Porque não se informa melhor, antes de "botar faladura"?

abc

Anónimo disse...

É possível que o Presidente da República não tivesse outro remédio formal que não fosse o de ratificar o segundo protocolo modificativo do Acordo Ortográfico.

Mas acontece que o Presidente da República é hoje o único alto responsável político português que tem plena consciência de que o Acordo Ortográfico é um deprimente chorrilho de asneiras. E de que a sua adopção introduzirá um cancro incurável na ortografia da língua portuguesa.

Vasco Graça Moura
mais em

http://dn.sapo.pt/2008/07/23/opiniao/nao.html

mario

Unknown disse...

Não faço grandes considerações porque o tema não tem para mim grande importância.Uma língua é algo de vivo,modificável e adaptável com o rodar dos tempos.
Não me repugna nada o acordo ortográfico.
Parabéns ao autor do artigo pela sua excelência.
JLM

Anónimo disse...

"Uma língua é algo de vivo, modificável e adaptável com o rodar dos tempos". Muito bem, caro JLM, a língua é, de facto, um ser vivo e tudo o que é vivo é mutável. Mas, recorrendo agora a alguns conhecimentos de Linguística (estudei-a a sério na UTAD), acrescento-lhe mais: a língua é (por exemplo) um sistema de representação mental que tem como suporte material (obviamente), o cérebro humano. Ora, é essa relação língua-cérebro, em particular, que se manifestam os mecanismos neuronais que suportam o conhecimento gramatical em todas as suas componentes: morfologia, sintaxe, fonologia, semântica, etc. Mas é claro que não caberia neste espaço uma definição de língua, tal é a sua diversidade e complexidade.
De resto,sou liminarmente contra a tese conservadora defendida por Vasco Graça Moura, porque se ela estivesse certa, nunca teria havido mutações na língua, nomeadamente na ortografia, que é o que nos traz aqui. Como a língua não é morta, sou, claro, totalmente a favor da tese do meu mestre Carlos Reis (e de um dos muitos mestres deste: Ferdinand Saussure) De facto, ao longo dos tempos, houve mudanças sincrónicas na forma de escrever as palavras, descaracterizando (por aférese,por síncope/crase - esmagamento, como se diz vulgarmente na disciplina de Latim, ou apócope -, etc.), paulatinamente, o seu étimo (latino, grego, árabe e tantos outros).
Reitero, pois, os parabéns ao amigo JLM, a quem saúdo, pela lucidez daquela frase. Parabéns também ao amigo e estimado colega José Alegre Mesquita. Um abraço.

h. r.

Anónimo disse...

Sei que muito boa gente é contra o acordo ortográfico. Eu sou uma delas. A língua portuguesa é das muitas coisas de que me orgulho neste país e aborrece-me ver que, além de todos aqueles "bons" cidadãos que a deturpam e a desprezam, agora aparecem uns marmanjos que nos querem pôr a escrever e a falar Português do Brasil. ASS LORD SS 14/88

Anónimo disse...

O Inglês é a língua franca do mundo inteiro, mas nenhum Parlamento pretendeu até hoje "unir" e "harmonizar" as ortografias do Reino Unido e dos Estados Unidos, que são diferentes. ASS WEREWOLF

Unknown disse...

As minhas boas-vindas a H.R. no seu melhor.São textos como este que eu espero de si,melhor,exijo.
Um abraço de parabéns.
JLM

Unknown disse...

Uma língua é tanto mais forte quanto mais gente a falar e não vejo mal nenhum em tentar-se a uniformidade"possível".Se acentuarmos as características particulares, então a língua tenderá a perder importância e pode transformar-se num simples linguajar particular e próprio dum pequeno grupo de pessoas,sem influência alguma a nível mundial.
Alguém pretende que o português fique,pelo seu arcaísmo,reduzido a uma espécie de mirandês?
JLM

PILOTO disse...

Alguém pretende que o português fique,pelo seu arcaísmo,reduzido a uma espécie de mirandês?


SIM, porque ao menos é autentico e só nosso e peças originais ñ se confundem com pirataria, é o que esta a acontecer a nossa patria ou ñ é patriota, passou vssa excelencia para o lado da pirataria, pois de cobardes e traidores Portugal ja esta habituado, façam boa viagem.

Anónimo disse...

ó piloto, não digas asneiras. Porque é falas do que não sabes?
Reduz-te à tua insignificância em relação a assuntos que tu ignoras, como é este caso do acordo. E se começasses a fazer umas copiazitas num caderno, não era melhor?

AL

Anónimo disse...

ó piloto não digas asneiras. não te metas naquilo que não sabes. E se fizesses antes umas copiazitas num caderno?

AL

Anónimo disse...

os argumentos dos asnos por nao terem capacidade para ver além da erva é que tudo o ue é mais do que erva é asneira

por uma lingua ser viva é que a matam

PILOTO disse...

ó piloto não digas asneiras. não te metas naquilo que não sabes. E se fizesses antes umas copiazitas num caderno?

AL


Primeiro ñ temos intimidades, e ñ vejo nenhuma asneira, asneira é o que estão a fazer a nossa identidade começando pela lingua, e o conselho das copiazitas dou-lho a si para o entreter assim ñ passa tanta tempo pelos cafes em Carrazeda e olha mais pela realidade do concelho "amigo", os jovens como eu e da minha geração estão aonde, por aí? A asneira são vcs mais as vossas politicas da treta ha aí bons exemplos, e heide intrevir sempre que tenha hipotese para tal, em quanto ha paises que preservam a lingua e a divulgam outros brincam aos "idiotas", e pregunto-lhe sr chico esperto, quantos paises fizeram tais acordos? (ñ diga asneiras e ñ se meta naquilo que ñ sabe, "porreiro pá")

Unknown disse...

A globalização leva a que se escolha voluntaria ou involuntariamente uma língua para nos entendermos.Neste momento,parece que a língua que vai desempenhar esse papel é o inglês.Suponha-se agora que o inglês assumia uma diversidade cada vez maior.Parece nítido que tal língua,por ter deixado de ter essencialmente uma só forma,deixaria de poder desempenhar um papel de entendimento para passar a ser fonte de confusão e divisão.Assim o português:se,no seu núcleo central,deixar de ter uma só forma,poderá servir para muitas pessoas se entenderem entre si mas já não será um instrumento de entendimento a nível mundial.
Se quer que lhe diga, o que nós aqui discutimos não tem qualquer influência sobre o futuro do português e também me apetece dizer que uma língua,entre o povo em geral,cultiva-se ensinando-a a toda a gente e fazendo com que seja falada com rigor(este será em grande medida determinado pelas pessoas cultas).Sofrerá,agora mais que nunca,as alterações provocadas pelos erros dos utilizadores,pela influência das outras línguas,sobretudo pela utilização cada vez maior do inglês(em tempos que já lá vão,lutou-se muito contra o uso de línguas estrangeiras,por exemplo, no Algarve.O resultado foi que o inglês e não só) se passou a falar mais e mais,sendo até usado no AIR PORTUGAL e outros pedaços do território nacional,onde o comércio com os estrangeiros é muito importante.
Direi mais:as línguas lutam tremendamente umas com as outras e ainda não sabemos como se desenvolverá essa luta e que consequências terá.
Também gostava que consultasse qualquer livro técnico para ver quanto o inglês já se infiltrou na nossa língua.Poderá ser evitado tudo isso?Poderemos preservar a pureza da nossa língua,se é que essa pureza existe?
JLM

PILOTO disse...

Evitando que ela se degrade ainda mais, SIM !!!

Anónimo disse...

Que os espanhois digam que não nos entemdem, sendo muito duvidoso ainda vou acreditando. Mas mudar a lingua para que os brasileiros nos entendam!!!! por favor... Eles não falam chinês... ASS WEREWOLF

Anónimo disse...

Caso Madeleine McCann
Advogados ingleses recusam defender Gonçalo Amaral
Por Margarida Davim
Gonçalo Amaral quer processar os jornais ingleses e os McCann por difamação, mas não encontra advogados dispostos a representá-lo nos tribunais britânicos. A editora que publicou o livro A Verdade da Mentira também garante que «os editores ingleses têm medo» de pôr o livro à venda no Reino Unido

• PJ garante que McCann manipularam provas e simularam rapto

Esta é diferença

Cá para defender o que é estrangeiro vai logo o Bastonário da Ordem dos Advogados....!!!!

Anónimo disse...

carai, o HR deixou-me sem fala, na lingua.È mesmo o superior dos superiores!!!!!

Marius Amado-Alves disse...

Por favor deixem de dizer que o c de acção é mudo. O diabo do c está lá a acentuar o a. Acção e ação têm sons diferentes. O mesmo para o p de adopção. Adopção sem p fica igual a adução (acto de aduzir). Há regras fonológicas de leitura. Eu sou a favor da adopção do acordo, mas com as correcções (e não correções) devidas. O espírito do acordo dá espaço para isso, para que quem diga acção escreva acção. Podia-se escrever àção, mas isso é outra istória. Os acordos incrivelmente têm sempre erros linguísticos, principalmente nesta área da fonologia. A eliminação do acento grave dos advérbios em 1945 (?) foi uma asneira. O acento estava lá para cumprir a regra fonológica. Rapidamente e ràpidamente soam diferentemente.