19 março 2007

Também sobre o Paulo de Carvalho

Conheci o Manuel Paulo de Carvalho há uns trinta anos. Eram anos de fortes convicções políticas, de grupos barricados nas certezas ideológicas, dos grandes ideais. O Paulo trazia África nos olhos e na alma. Era uma nova mentalidade, feita de largos horizontes, fraterna, contraditória com o pequenez atávica carrazedense. Uma personalidade aberta à diferença, contagiante, entusiástica, afectuosa. No seu “Planalto” conseguiu congregar os diferentes tipos da sociedade de Carrazeda. Nela confraternizaram homens e mulheres de direita e esquerda, conservadores e progressistas, pobres, remediados e mais abastados em espaços e tempos perfeitamente definidos. Que grandes saudades! A noite era só para muito poucos com a tertúlia regada de “petiscos” e bebeduras. Uma escola de vida. Discutiram-se os problemas locais, a política, o futebol, usou-se a má-língua: Iniciaram-se grandes e heróicos projectos desde o futebol à rádio. Principiaram cumplicidades que perduraram nos anos.
O futebol, uma das paixões. O campeonato inter-aldeias foi um fenómeno de participação entusiástica das gentes do concelho. A seguir a reactivação do clube de futebol com recurso exclusivo a jogadores do concelho (um dos poucos momentos em que se jogou com amor à camisola); sobrevivendo com verbas exclusivas da venda dos bilhetes, sorteios, bailaricos (o de Fim-de-Ano foi um sucesso tão estrondoso como surpreendente). Dirigente e treinador contribui decisivamente para que logo no primeiro ano o Futebol Clube de Carrazeda suba à primeira divisão distrital. O último jogo da subida meteu Zíngaros e encheu o estádio (que grande festa pá!). Dirigente carola, financia lanches e transportes a expensas próprias. Treinador empenhado, alinhava tácticas em longas conversas que se prolongavam até altas horas. Recorda-se a frontalidade desportiva e tom paternal com que tratava todos desde o mais jovem ao já quase veterano, tanto confrontava abruptamente um atleta como o ia convencer a casa de que era fundamental na equipa.
A vida prega-nos grandes partidas e com ele foi pródiga. Numa terra sem grandes oportunidades, ele nunca deixou de procurar a sua: Teve vários negócios de restauração, foi patrão e empregado, emigrou, vendeu carros, foi desde agricultor a delegado de propaganda médica, tentando sempre de forma honesta ganhar a vida. Até que a vida lhe pregou uma grande rasteira. Quem conhece o Paulo sabe que ele não é de desistir. E se apenas precisar de uma pequena ajuda? E se ela depender de nós? Vamos proporcionar-lhe isso.

Dia 7 de Abril, na “Quintinha do Manel” decorrerá um jantar onde será distribuído um envelope a cada participante que nele poderá colocar a comparticipação que bem entender. Ela poderá ser uma esperança de uma melhor recuperação. A Associação Recreativa de Carrazeda de Ansiães comparticipará também com um euro de todas as entradas do espectáculo que decorrerá nessa noite com o Fernando Rocha. Ao mesmo tempo está aberta uma conta na Caixa Agrícola de Carrazeda para todos os de boa vontade que acreditam nesta causa.

Vamos dar um abraço ao Paulo!

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