04 setembro 2006

Descriminação Negativa

Tradicionalmente a população que vivia na zona do fundo da vila era mais pobre. A pequena burguesia gostou sempre mais de exibir as suas posses construindo e habitando as zonas novas e mais arejadas da vila. Por isso o fundo da vila pouco cresceu ao longo do tempo. Foi este factor que determinou a harmonia construtiva da zona e conseguiu preservar a identidade tradicional daquela que foi a aldeia que deu origem á Vila de Carrazeda de Ansiães. Falar hoje da zona do fundo da vila devia ser apontar exemplos da história e património da nossa terra. Devia ser observar o exemplo de amor que se tem pela herança que nos deixaram. Devia ser demonstrar o empenho que se tem em preservar para o futuro esse valor.
Os factos encarregam-se de nos demonstrar outra realidade. Prevalece alguma pobreza pontual mas, é sobretudo o desleixo e o abandono de toda a envolvente que, impressionam mesmo os corações mais empedernidos. Esta responsabilidade cabe inteirinha á gestão municipal, a quem apetece perguntar o porquê desta conjuntura. Sendo os cidadãos que habitam o fundo da vila iguais em direitos e responsabilidades, pagando na mesma os impostos, porque será que são descriminados em relação aos outros! Senão vejamos exemplos: O abastecimento de água ao domicílio, para alem de mais irregular não possui a mesma e indispensável pressão das restantes zonas da vila; Quando por todo o lado se plantam roseiras, se instalam vasos de flores, o descuido com o ajardinamento do fundo da vila pode comprovar-se em volta do Largo do Pelourinho; Quando até o Pinocro agora é iluminado, vale a pena reparar-se na iluminação decrépita deste fundo da vila; Sobre a limpeza das ruas, vale a pena apreciar a vegetação que cresce mesmo no meio, das ruas do fundo da vila; Sobre o mobiliário urbano, o fundo da vila parece não precisar; Ainda no fundo da vila, repare-se no estacionamento caótico e no número de automóveis estacionados em locais indevidos e abandonados; É no fundo da vila que ainda hoje encontramos um persistente foco de sujidade que, a proliferação de moscas confirma.
Se repararmos na denúncia dos problemas que aqui se fazem, consegue perceber-se que a resolução da maioria nem sequer seria cara. Sim porque nem se fala já em investir-se na recuperação de património construído, como por exemplo, nas recuperações de antigos fornos de coser pão, de antigos lagares, de antigas oficinas de artesãos, de casas de lavoura tradicionais, de antigas casas de comércio ou na recuperação de outro casario particular. Também se não aprofunda aqui a ideia de dinamizar mais, social e culturalmente, esta zona da vila por exemplo, incentivando o investimento na reconstrução ou, promovendo eventos culturais que aqui eram tradicionais.

Hélder Carvalho

1 comentário:

FEBC disse...

Nasci em Carrazeda há 22 anos, e quando era criança conhecia bem toda a vila. O Fundo da Vila era um pequeno paraíso, a Fonte das Sereias, a antiga prisão, as amoreiras (onde se procurava alimento para os Bichinhos da Ceda) …

Bom, melancolia para quê, hoje existe um problema, a distância ajuda-me a ser claro em relação ao que penso ser a melhor solução. Há pouco tempo estava numa Conferência onde um dos oradores (CEO de uma das empresas portuguesas de mais sucesso: Y-Dreams) defendia uma forma de intervenção no espaço que me parece adequada a situação. O Sr. Dizia (+/-) que se um grupo de moradores quisesse alterar o aspecto da sua área de residência não teria que esperar pela intervenção pública, hoje existem suportes informáticos onde podemos colocar facilmente um projecto e permitir que todos os interessados possam dar a sua opinião. A ideia é mostrar o aspecto da área após alterações e cada um pode fazer as alterações que achar correctas e mostrar aos restantes. Isto significa que, se fosse desejo de um grupo relevante de pessoas reanimar o Fundo da Vila, estas por si só poderiam resolver alguns dos problemas. Esperar pela intervenção pública pode ser meio caminho andado para o esquecimento.

Todas as instituições públicas têm obrigações, mas os contribuintes também têm obrigações, e uma delas é DAR O EXEMPLO.




Para o fundo da vila corria
Quando aquele era o meu universo…
Na fonte água fresca bebia
Lembrando hoje disso em verso!

Perdido há distância de uma vida
Já não sei o que se pode encontrar,
Mas já o meu pai, quando eu pequeno, dizia:
- Terra daquela nunca se deixa de amar!

Fábio Coelho