Nesta missiva, dirigida a todos os meus concidadãos que, com a minha idade ou aproximada já obtiveram a aposentação, envio primeiro que tudo os meus votos de muita sorte na sua nova existência. Estou convencido de que a felicidade deles será um bom sintoma para todos quantos continuam a trabalhar como eu.
A segunda intenção da missiva é a de lhes manifestar a minha promessa de que pessoalmente pretendo continuar o meu esforço, enquanto tal me der prazer também e, assim os ajudar com os meus impostos a usufruir as suas reformas.
Apesar desta minha promessa também eu sinto algum pejo em entregar ao Estado a parte que ele me extrai do meu trabalho. Na verdade muitos mais desejariam não trabalhar, vendo como se vê e sabendo como se sabe, qual o modo como o estado investe os nossos impostos. A condescendência para com o estado só tem lugar quando há privilégios pessoais a obter mesmo que à custa de todos os outros. Assim e no concreto, também eu mereceria ter o direito de que algum outro, por mim, trabalhasse e eu passasse a fazer turismo, ou me dedicasse a outros prazeres da vida, que para muitos passa por calçar pantufas e ver telenovelas. Realmente é já muito raro encontrar-se alguém sinta prazer e gosto naquilo que produz ou faz, mas também não se vê ninguém a lutar com esse fito.
Há muitos pretextos para se justificarem reformas no debelar dos cinquenta. Uma senilidade precoce pode incapacitar uma pessoa para o único trabalho que aprendeu a fazer na vida. Uma doença profissional pode chegar antes de tempo. Debutar na actividade pública também tem dado pretexto para reformas radiosas e graciosas.
No limite e para lá dos sessenta está a lei que define não sei que idade concreta para a reforma, já que vai mudando ao sabor da fantasia. Digamos que é o limite instituído, a partir do qual se é legalmente incapaz de continuar trabalhando. São muitos os paradoxos que encontro nos preceitos decretados, Por exemplo - porque é que a lei abre precedentes para políticos reformados e os aceita como ministros, deputados, directores, presidentes, assessores, gestores, autarcas, etc! Estes passam a poder acumular ou superar o arrecadado na reforma. Um outro paradoxo que eu não entendo, e julgo que tem a ver com a situação anormal de crise em que nos encontramos, prende-se com a reacção de alegria que encontro em muitos que vejo deixar o emprego por se reformarem, e a reacção de pavor daqueles que deixam o emprego quando são despedidos. Também não entendo porque é que todos os que trabalho sofrem agora provações que passam por exemplo por reduções de ordenados e, no caso dos reformados especialmente os bem remunerados, não sofrem a mesma privação. Afinal só há crise para quem trabalha ou quem está desempregado. Num país pobre é estranho e difícil de entender como será possível aguentar tanto reformado capaz, mas sem vontade de trabalhar e tanta pessoa desempregada e com vontade de trabalhar. Sobram depois os restantes que, com esforço redobrado tentam aguentar o sistema.
São complexos e difíceis os caminhos… para chegar ao céu.Neste período de crise a única coisa que é difícil encontrar nestas coisas, é sentido da solidariedade. Perante a realidade que se perfila julgo que na maioria dos casos de reformas antecipadas que conheço, se trata de casos de postura ética muito questionável ainda que acredite que a lei o permita. Talvez seja mesmo esta a razão, para alem da do prazer que me dá, que decidi continuar a trabalhar. Afinal é comigo e com o fruto do meu trabalho que tenho de contar. Mas vou continuar a pagar impostos. Não quero perder o direito moral, muito caro de suportar, de poder continuar a dizer que existo, sinto-me útil e contribuo honestamente para o futuro dos nossos filhos, apesar de tudo.
Hélder Carvalho
A segunda intenção da missiva é a de lhes manifestar a minha promessa de que pessoalmente pretendo continuar o meu esforço, enquanto tal me der prazer também e, assim os ajudar com os meus impostos a usufruir as suas reformas.
Apesar desta minha promessa também eu sinto algum pejo em entregar ao Estado a parte que ele me extrai do meu trabalho. Na verdade muitos mais desejariam não trabalhar, vendo como se vê e sabendo como se sabe, qual o modo como o estado investe os nossos impostos. A condescendência para com o estado só tem lugar quando há privilégios pessoais a obter mesmo que à custa de todos os outros. Assim e no concreto, também eu mereceria ter o direito de que algum outro, por mim, trabalhasse e eu passasse a fazer turismo, ou me dedicasse a outros prazeres da vida, que para muitos passa por calçar pantufas e ver telenovelas. Realmente é já muito raro encontrar-se alguém sinta prazer e gosto naquilo que produz ou faz, mas também não se vê ninguém a lutar com esse fito.
Há muitos pretextos para se justificarem reformas no debelar dos cinquenta. Uma senilidade precoce pode incapacitar uma pessoa para o único trabalho que aprendeu a fazer na vida. Uma doença profissional pode chegar antes de tempo. Debutar na actividade pública também tem dado pretexto para reformas radiosas e graciosas.
No limite e para lá dos sessenta está a lei que define não sei que idade concreta para a reforma, já que vai mudando ao sabor da fantasia. Digamos que é o limite instituído, a partir do qual se é legalmente incapaz de continuar trabalhando. São muitos os paradoxos que encontro nos preceitos decretados, Por exemplo - porque é que a lei abre precedentes para políticos reformados e os aceita como ministros, deputados, directores, presidentes, assessores, gestores, autarcas, etc! Estes passam a poder acumular ou superar o arrecadado na reforma. Um outro paradoxo que eu não entendo, e julgo que tem a ver com a situação anormal de crise em que nos encontramos, prende-se com a reacção de alegria que encontro em muitos que vejo deixar o emprego por se reformarem, e a reacção de pavor daqueles que deixam o emprego quando são despedidos. Também não entendo porque é que todos os que trabalho sofrem agora provações que passam por exemplo por reduções de ordenados e, no caso dos reformados especialmente os bem remunerados, não sofrem a mesma privação. Afinal só há crise para quem trabalha ou quem está desempregado. Num país pobre é estranho e difícil de entender como será possível aguentar tanto reformado capaz, mas sem vontade de trabalhar e tanta pessoa desempregada e com vontade de trabalhar. Sobram depois os restantes que, com esforço redobrado tentam aguentar o sistema.
São complexos e difíceis os caminhos… para chegar ao céu.Neste período de crise a única coisa que é difícil encontrar nestas coisas, é sentido da solidariedade. Perante a realidade que se perfila julgo que na maioria dos casos de reformas antecipadas que conheço, se trata de casos de postura ética muito questionável ainda que acredite que a lei o permita. Talvez seja mesmo esta a razão, para alem da do prazer que me dá, que decidi continuar a trabalhar. Afinal é comigo e com o fruto do meu trabalho que tenho de contar. Mas vou continuar a pagar impostos. Não quero perder o direito moral, muito caro de suportar, de poder continuar a dizer que existo, sinto-me útil e contribuo honestamente para o futuro dos nossos filhos, apesar de tudo.
Hélder Carvalho
1 comentário:
Compreenderam alguma coisa do que este senhor rabisca?
Sim! Então expliquem-me que eu não entendo nada…
Eu já tinha prometido a mim mesmo nada dizer a esta excelência que é dono de toda a verdade, possui toda as cartilhas de princípios morais, de ética, de honestidade, de amor à terra e, acima de tudo, a sua razão tem sido sufragada em todas as eleições locais desde a monarquia, 1.ª república, antes e após o 25 de Abril até já previu a infalibilidade futura. Está à vista que as suas convicções e saber têm granjeado um grande desenvolvimento a este oásis em que vivemos.
O que quererá dizer com censura?
Quem o censurou e o quê? Não explica. Nem interessa. O que interessa é a acusação fortuita.
No que me diz respeito nunca censurei qualquer tipo de comentário e não vislumbro qualquer tipo de censura por outros administradores do blogue.
Mas, eu conheço o método – é a “provocaçãozinha” (há quem lhe chame vitimização) única e exclusivamente para dar nas vistas, D. Quixote atirou-se contra os moinhos de vento (os seus ideais eram, contudo, nobres). Bem recentemente vingou a teoria do anti-comunismo primário (pensei que esta ideia estivesse desactualizada por falta de apaniguados) que explicou todas as frustrações pessoais e colectivas, servindo de bode expiatória aos diversos insucessos.
Quanto às outras referências, não comento, pois, entre outras razões, há prolixo que a própria razão não entende. Façam a Vossa própria avaliação.
Vamos ao que interessa. As regras aqui são simples: os comentários são sempre bem vindos se não tiverem como objectivo único o insulto e a difamação de pessoas. Quem tira especial prazer do insulto aos autores e colaboradores deste blogue pode sempre usar o seu próprio espaço. Já a crítica, mesmo que violenta, é, como sempre foi, bem-vinda. Difamação, seja sobre quem for, está proibida.
Não gostam das regras? Paciência. Façam o vosso próprio blogue.
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