08 setembro 2005

O) Amor (ao) Estranho, cap. 1

Como não sabia onde incluir este comentário, e por ser também de arte, vou falar da exposição de Jorge Baldwin, na Junta de Freguesia de Zedes.
Sob o título Textura Cromática, fomos levados sobretudo pela cor. A viver no S. Lourenço, o pintor peruano fez também uma escultura do santo, recentemente inaugurada nas Caldas que de costas me pareceu em auto-retrato do artista. Uma conhecida poetisa popular, D. Flora do Pombal, (com um 2º Prémio num Concurso da Rádio Ansiães), celebrou assim a estátua:

Para nos compensarem
P'lo esforço do caminho
Houve uma sardinhada
Oferecida pelo nosso amigo.

Claro que não vamos estragar isto lembrando a medida da redondilha... pois

Depois de um interregno
Outros convívios virão
Podes crer que à tua beira
Amigos não faltarão.

Isto é tão fascinante: o pensar já no próximo convívio - só havendo pesar que não tenha falado na grelha com que o santo entrou no martirológico -, que me leva a uma outra campanha alegre, naquela aldeia com o nome tomado à pomba do Espírito Santo, em que um partido ofereceu uma sardinhada e o outro respondeu com uma vacada. Como eram em pontos distantes e à mesma hora, se decorresse ali o escrutínio para as eleições, teríamos:
90% de indecisos;
0 votos brancos;
alguns nulos dado que fizeram uma cruz nos dois quadrados;
nenhuma abstenção.

- Como se pode alimentar o povo de um modo outro?

A obra foi deixada incompleta após o convívio, retiraram
as máquinas ao artista. As formas do busto aguardam um último
gesto, para Jorge Baldwin separar do cordão umbilical.

Vitorino Almeida Ventura

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