Sobre o apontamento de Pedro Aleixo – de Caim e Abel, lembrou-me Freud – «todos nascemos de um bando de assassinos».
Respondendo ao pedido de UmZero Amarelo, passemos a analisar o pathos… do sentir, uma vez que ambos os termos vão deslocados… A nível lexical.
A) As carpideiras – mulheres louváveis, clássicas profissionais do pranto fúnebre, em troca de moeda. Recuperando as carpideiras, temos, então, de procurar: - Quem morreu?, (real ou simbolicamente?), e quem encomendou os seus serviços?. Assim e andando, não quereriam os seus autores, no contexto, dizer em vez das carpideiras os Velhos do Restelo, aqueles que se opõem, camonianamente, ao progresso do progresso?.
B) Quanto aos Judas (Iscariotes), apenas tomaram a versão mais prosaica e popular do «demónio entre os apóstolos, escolhidos por Cristo» (sem esquecer que há uma projecção simbólica de quem afirma com o Messias, pois se aquele trai é porque este foi traído; é do b a bá). Os teólogos apontam, porém, uma dimensão mais global do apóstolo: político, administrador, homem de negócios, que queria ver a causa judaica em torno de Jesus… Unida.. E que depois viu sua ideia abortada ao templo de Jerusalém. A d.ra Regina Guimarães da Faculdade de Letras do Porto, num colóquio que organizei, salientou que dava aos seus alunos o Evangelho de S. João da Última Ceia até ao beijo… clímax belíssimo dessa ‘peça dramática’ que temos pena de não ver incorporado aqui. E essa é uma grande diferença relativamente ao judaísmo e ao protestantismo, pois na catequese se lêem os textos, em vez de pequenos ditames morais.
C) Acresce, a nível nacional, um cerrar fileiras em torno do chefe, pois quando se ataca o topo da pirâmide tem-se medo que «o céu nos caia em cima» (Astérix e a sua aldeia gaulesa). Porque ao cair o tecto sobre o que sustenta a base da pirâmide (que o psicólogo Herzberg situou nas necessidades fisiológicas ou de dinheiro e nas de segurança no emprego), pode fazer desabar todo o edifício preso por cordas… É que tais relações, em meu entender, não são de fidelidade, mas meramente contabilísticas ou até financeiras, daí se relevando apenas um deve e um haver – no passivo de um favor a pagar, no activo de uma cunha que se põe para a porta abrir… Só numa interpretação extensiva se podendo chegar à época medieval e ao crime (terrível!) do vassalo ao seu senhor – a felonia. Bom, mas estamos formalmente em democracia, pelo que não existe (evidentemente) tal relação.
D) Assim, acho (claramente acho) que o professor Mesquita não devia molestar-se com as carpideiras, Vide o cisco no olho do vizinho/já não ver o seixo rola(n)do no nosso (Pedro Aleixo), todos redondamente enganados: que o diga o «coveiro», como os pseudónimos Che Guevara e Adamastor (são eles que os) salientam: quantas vezes se apoiou na enxada da própria sepultura?
E) Totalmente enganados, uma 2ª vez, já que o ataque se não dirige ao exterior, mas ao interior: a todos aqueles que viram a casaca por sobreporem os seus ao interesse comum… Aquelas personagens que nos bajulam, tantos Falstaff de Shakespeare, em Henrique IV, por ex., tantos mais perigosos!, que nos beijam, com a mão nas costas, acariciando a faca… Se tudo vai preso de frágeis fios, em promessa! Mas não é um mal geral?
F) Tudo… pelo que prefiro as nossas sessões ao cair da noite no Alvorada (nome sugestivo que agrupa os drs. JL Matos, RC Martins, JA Mesquita, P Moura, H de Carvalho, até a velha nobreza com A Lebre), onde o gosto pela Terra e pela Cultura, nos fazem ouvir e aprender com o Outro. As diferenças de opinião fazem parte da evolução, e sobretudo cimentam a amizade. É nesse lugar do outro lado do espelho onde existe a verdadeira rainha de copas, Alice e um coelho branco com um cartão a dizer: FIDELIDADE.
Vitorino Almeida Ventura
1 comentário:
E há quem queira ser o coveiro deste blogue!...
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