13 outubro 2013

Um bastardo que é filho legítimo.

O bastardo, que eu conheço, era a primeira uva de prova sempre que se levantavam as saias das videiras para espreitar na ansiedade do degustar. Como cacho, eram uma lástima: de meio palmo, bago pequeno, já um pouco passada aquando da vindima, mas colhiam-se religiosamente porque eram os bastardos que iam "dar o grau" ao vinho.
Pouco produziam. Porém, eram essenciais ao acrescentar qualidade e dignidade ao vinhito. O pequeno lavrador sabia da sua utilidade e rara era a vinha que não tivesse uma meia dúzia de videiras de bastardo para condimentar a colheita e fazer um bom palheto.
E não que é que a vinha, há dois mil anos mote de uma grande parábola porque esconde tesouros, sempre nos traz ensejo para uma ou outra pequena reflexão: desdenhamos a diferença, combatemos o estranho, marginalizamos, e bem vistas as coisas pelo olhar da sensatez e da sabedoria, todos acrescentam algo.

Foto daqui 
Também por cá, já vi duas boas colheitas a partir dos "bastardos" da vida, mas isso é outra história.

3 comentários:

Anónimo disse...

Onde se pode comprar esse vinho " Bastardo"? Obrigado

mario carvalho disse...

Aponta-se para o céu mas... há quem só olhe para o dedo!

Anónimo disse...

Havia na Régua, na quinta Champallimaud(salvo erro),um vinho só da casta bastardo. Não sei se ainda existe. Era muito bom.
JLM