24 outubro 2008

LITTERAE

cumpria-se a morte da tarde. já morria o sol. ou quase. sol. de inverno? era uma vila. dia de feira. na vila. o sol moribundo. já não era sol. eram sombras. restos de sombras do resto da feira. e havia um muro comprido. na vila. no centro da vila. o sol batera no muro. todo o dia. o sol batera no muro. e nas pessoas sentadas. no muro. todo o dia as pessoas sentadas. à frente do muro era a taberna. no centro da vila. o muro comprido frente à taberna. a taberna frente ao muro. as pessoas sentadas. zé. quê. levanta o cu e traz vinho. a taberna frente ao muro. zé atravessa a rua. traz vinho. tomai lá. vinho. as pessoas sentadas no muro. todo o dia. vinho. mais vinho. zé. quê. mais vinho. zé. quê. maaaais viiinho. zé. quê. maaaaaaais viiiiinho. cumpria-se o fim da tarde. já morria o sol. sol moribyndo. de inverno? já não era sol. eram sombras. no muro. sombras sentadas no muro. maaaaaaaaaaiiisss vvviiiiiiiiiiiiiinho. sombras. vinho. o vinho nas sombras. sentadas no muro. da vila. do centro da vila. a taberna em frente...



o sol morreu. a noite matou o sol. e as sombras. ah! e as sombras. a taberna fechou as portas. no fim da feira. a taberna. no fim da feira. matou as sombras. também. as sombras também. morreram. ah! mas o vinho. o vinho não morreu. adormeceu. dentro da taberna. à espera da outra feira. e outra feira. e outra. e outra. o vinho. o vinho não morreu. o vinho matou. matou as sombras. sentadas no muro. no centro da vila. as sombras morreram. e o sol. a noite matou o sol. e as sombras do muro. mas o vinho não morreu. o vinho matou. as sombras. ficou o muro comprido. só. comprido e só. na noite. as sombras morreram. o vinho matou. a morte aplaudiu!

15 comentários:

Anónimo disse...

Adorei o texto...um texto com sumo, um texto com memória, um texto que me faz recuar 30 anos atrás, um texto que me faz recordar as minhas idas à feira, quando a feira era aos 10,20 e 30, de cada mês...faz-me recuar ao Natal de 75, onde em Zedes caiu neve e eu brinquei com a neve...e os mais velhos também brincaram...adorei a neve, adoro a neve...obrigado Helder Rodrigues...
De facto o vinho, o muro, as sombras...e os fantasmas...e o futuro e o sonho...
jms

Anónimo disse...

Gostei muito!
Embora seja assunto que nos transporta ao passado, não deixa de ser verdade que o muro e as tabernas ainda hoje assim funcionam.
Vinnnnnnnhhhhhho, atrasos de uma vida, de vidas, ...mas afinal ali na taberna, no muro, hoje dia de feira, conheço-os todos!

Anónimo disse...

senhor professor HR, não me diga que nunca bobeu Vinnnnnnnnnhhhhhho!

Anónimo disse...

Este último anónimo não percebeu o texto literário de HR e o único comentário infeliz que lhe saiu foi este. Se calhar é por isso que HR não mostra aqui mais vezes a sua escrita que aliás, é reconhecida por gente de muitos sítios que eu tenho visitado. Muitas vezes não sabemos aproveitar nem acarinhar o que de mais útil e valioso temos aqui e é por isso que a nossa terra está como todos sabemos. Só espero que HR continue a mostrar-nos a sua escrita para enriquecer mais este blogue e seus leitores.

Anónimo disse...

Se escreve assim tâo bem, então continue, dedique-se ao seu obi, não esteja a pensar ser político, porque assim, leva a crer que pretende aproveitar-se da Câmara para vender as suas obras, tal como alguém fez no passado próximo.

Anónimo disse...

Muito bom.
Espero que continue a enriquecer-nos com a sua escrita, que tem o dom de fazer viajar no tempo e no espaço sem da cadeira sairmos.
Parabéns

Unknown disse...

O escrito parece-me muito original.
Chama,parece-me, a atenção,em estilo literário,para uma distracção das nossas gentes que só as destruiu,impedindo o gosto por outros valores e outra postura em que as pessoas se assumam como gente de corpo inteiro.O vinho sempre menorizou e tirou dignidade à nossa população.Não é que não se possa beber de vez em quando,mas a obsessão pelo vinho, como única forma de confraternização, torna-se numa rotina que anula a dignidade.
JLM
P.S.:Desculpem-me este texto com algum excesso de moralismo mas saíu-me assim.
Não tenho remédio:se calhar,sou mesmo sensato demais.Penso que até já nem se usa!
Se calhar,já nem consigo mudar!
Talvez seja genético.

Anónimo disse...

Não precisa de mudar!
Deixe-se ser assim, permita-me!
Reconhecer uma coisa e outra torna-o propriamente o João Lopes de Matos, respeitável e de quem se gosta!
M. Lameiras

Anónimo disse...

O anónimo de Qua Out 29, 01:53:00 PM nao desfarça. É o velho hr a chamar burros aos outros todos que o nao comprendem. Se vai concorrer às eleiçoes, comece por ser democrata, amigo!

Anónimo disse...

Eu acho que este ultimo anonimo anda a sonhar demais com burros e não desfarça nada. Aprenda a ler e a perceber o que lê amigo e só depois é que deve falar. Continue a escrever hr.

Anónimo disse...

que assombração, com tanto vinho já estou toldado, até na escrita só destacam o vinho, enfim...

Anónimo disse...

Este deve ser o pobre Zé que atravessa a rua a saber do vinho e háde morrer de ua sirrose

Anónimo disse...

Realmente podia deixar de nos entulhar com o seu lixo senhor Helder Carvalho era um favor que fazia a humanidade.

Anónimo disse...

olha olha, este último anonimo confundiu o HR com o HC. É o que dá quando não se lê com atenção. Mas não ten nada a ver uma coisa com a outra. Mas pronto, uma distração qualquer um tem.

Anónimo disse...

É lamentável tamanha estupidez!