28 outubro 2008

Crise e castanhas - Jorge Laiginhas


José Manuel Marques dos Santos, Reitor da Universidade do Porto, escreveu no JN a 27 de Setembro, que “o mundo assiste, atónito, a um dos maiores abalos que o capitalismo já sofreu na sua história. A chamada “crise do crédito imobiliário de alto risco” irrompeu como um furacão no sector financeiro norte-americano, expondo ao olhar do cidadão comum a face mais sombria da globalização.
O colapso de algumas das mais poderosas instituições bancárias dos EUA e as intervenções do Tesouro norte-americano para evitar mais falências revelaram como são frágeis as bases do sistema económico globalizado, bem como as consequências sociais à escala mundial que advêm dessa vulnerabilidade.
É que os prejuízos decorrentes do “subprime” não vão ser pagos apenas pelo Governo e contribuintes norte-americanos, mas também por milhões e milhões de pessoas que ignoram por completo o funcionamento de Wall Street ou até mesmo a sua existência.”

É uso dizer-se (e isso, por vezes, dá-nos uma ilusória sensação de bem-estar) que com o mal dos outros podemos nós bem. Todavia, desta vez, o tal mal dos outros, a malvada crise americana – a crise é como é como a gripe, quando damos por ela já nos infectou – anda a monte um pouco por todo o país. De sul a norte. De nascente a poente. Na cidade e no campo.
Há cada vez mais portugueses a entrar em litígio com a banca. O malparado no crédito à habitação e ao consumo subiu 26,5% entre Agosto do ano passado e o mesmo mês deste ano. Nas empresas, o incumprimento aumentou 36,8% e já representa 2,2% do total dos empréstimos concedidos – escreveu Paula Cordeiro, no DN, a 22 deste mês.

Na região norte de Portugal (entre nós, caríssimos leitores – que pecados os nossos!) a crise agarrou-se às famílias com uma virulência inusitada. Porque? É óbvio: sempre as maleitas derribaram em primeiro lugar os mais debilitados. As famílias na região norte ganham, em média, menos do que as famílias no todo nacional. E como se este indicador não fosse já mau, muito mau, a taxa de desemprego na região norte é superior à média do país.

Terça-feira passada, Magalhães Costa escreveu no JN que o “Vale do Cávado ameaça ser afectado pela crise do têxtil, com maior incidência no concelho de Barcelos, onde se verifica um continuado encerramento de empresas e um desemprego de quase 4000 pessoas.”
É a crise no seu melhor! Somos nós, nortenhos, no nosso pior.

Não sei se a crise se previne por intermédio de vacinação, defumação ou benzeduras. Se tal soubesse, a malvada não haveria de ter entrado cá por casa. Mas lá que entrou, entrou. Conforto-me com as palavras de Fernando Pessoa: “E mais do que isto / É Jesus Cristo, / Que não sabia nada de finanças.”

Porém, como tristezas não pagam dívidas e enquanto bailo não me doem as pernas, vou-me à Rural Castanea – Festa da Castanha, de 31 deste mês a 2 de Novembro, em Vinhais. Uma vila, airosa, no nordeste trasmontano. Vou e dou de conselho para que vão. Ir é um bom remédio. Para a crise. Em Vinhais tratam-nos como se fôssemos abades e abadessas ou condes e condessas. Saber de experiência feito. Já fui conde em Vinhais!
Não faltarão por lá magustos. Castanhas assadas no maior assador do mundo. Na praça, para que todos possam aquecer o corpo e a alma. Só pagamos o vinho ou a jeropiga. As castanhas assadas, quentinhas, são oferta da casa. De verdade. Castanhas assadas e, glup, um trago de jeropiga. P’ra afogar a crise.

1 comentário:

kandanda disse...

Fora Vinhais mais à mão, aqui mesmo paredes meias com a Lusa'tenas, e lá estaria a 31 para entupir a crise à castanhada e afogá-la com tinto douriense....quiça mesmo um bom vinho fino de Tralhariz!