24 dezembro 2007

Carta ao Menino Jesus

Meu Menino Jesus:

Trocaram-te pelo Pai Natal da Coca-Cola que acena com a abundância de artifícios, quase todos inúteis e mascara com a caridadezinha pontual o amor ao próximo.
A "magia" do Natal alimentada pela mentira publicitária idiotiza as nossas crianças que tudo pedem e tudo se lhe dá; o ideal é o consumo desenfreado do movo modelo do telemóvel, do GPS, da consola de jogos, do relógio, do "gadjet" sofisticado; todos estão prenhes, nesta quadra, de amor para dar e vender que cobre a má consciência do resto dos dias - "é dia de pensar nos outros — coitadinhos", é altura de participar nas alegrias e tristezas dos outros, como se fossem nossas.

Quanto a desejos dou voz ao poeta:

Poema de Natal

Vinicius de Morais

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrela a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem dúvida que esta sua visão do Natal é a mais actualizada possível, pois vivemos cada vez mais numa sociedade em que o consumismo não tem limites nem é dada a devida importância a este problema que muitos preferem chamar de desenvolvimento. O consumismo é um problema muito sério não só a nível social mas também a nível económico, . Portugal é um país em que não há bom senso nem realismo, em que se vive de sonhos, esperanças, ilusões e fé. Acredita-se no Pai Natal e apartir deste momento todos cruzam os braços esperando o trenó e esquecendo o verdadeiro motivo desta festividade católica que é o Natal, nascimento do menino Jesus não emergência desproporcionada de compras.