"O bobo do imperador Maximiliano
organizou uma festa alegórica
que o povo e a corte do soberano à frente
saborearam em grandes gargalhadas;
juntou na praça todo o cego pobre,
prendeu a um poste um porco muito gordo,
e anunciou ganhar o dito porco aquele
que à paulada o matasse. Os cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem."
Jorge de Sena, em "Festa Alegórica"
Dado o amável convite do escultor Hélder de Carvalho, no sentido de que me pronunciasse sobre uma figura tutelar para o Centro Cívico (carta armadilhada, dizem uns; doce veneno, falam outros)... Hélas! Em primeiro lugar,
deve voltar-se a Luz da Crítica sobre a questão do Teatro Nacional, tendo lido uma excelente crónica de Eduardo Prado Coelho e outra de Augusto M. Seabra, no Público, zurzindo a Ministra de incompetência... Como de todo _ "bobo do imperador Maximiliano". O que está em questão, além dos young boys, é uma medida populista, privilegiando a dramaturgia portuguesa, face à clássica e contemporânea. Se, para o Teatro Nacional,
a figura tutelar (2º Zita Seabra et alii) deveria ser o senhor Quim Barreiros, não acho mal se se pretende cultivar uma dramaturgia (menos romanceada) em torno da cantiga de escárnio e maldizer... Penso que o nome é bem proposto — ou em alternativa os discursos do candidato Vieira (Ena Pá 2000, Irmãos Catita). Se, para o Teatro Nacional,
a figura fosse a da diva Ágata, (em versão Retro, 20 anos atrás), também mal não acharia, no sentido de atrair novos públicos hardcore - 1º escalão, às salas... Que a ideia fosse adaptar uma novela real avant la lettre, que Ágata soube ler o povo, bem antes deste se ler nas suas letras.
Se, para o Teatro Nacional, a figura fosse _ do Toy, também bem pensaria uma Story curiosa, dado tratar-se de um crítico literário notável, como quando n1 programa sob imaginário Gay, sublinhou a importância de Sérgio Godinho, porque ‹‹sabe usar o Presente do Conjuntivo›› (Herman: Sic). Ou pior: laudatório de si mesmo, num culto de personalidade à escala global, se haveria Pedro Abrunhosa, sob as múltiplas cauções culturais que se dá.
Se, para o Teatro Nacional, fosse o público emigrante das chambres de bonne, acharia menos mal Tony Carreira — o do intestino... ‹‹Ai destino!››, por uma literatura de cordel, mergulhada em pós de nostalgia e arroz de novela cor-de-rosa.
Fossem _ _ esmolas do Reino de Deus, em último escopo, então, Roberto Leal & o padre Borga...
São múltiplas, as alternativas, face ao público-alvo e ao género literário pretendido. Mas avancem, com as necessárias adaptações, num inquérito por questionário aos professores da Escola Secundária, sobretudo, aos organizadores da recepção aos novos
" (...) cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem."
Post Scriptum: Em quem permaneceria _ dúvida de que as respostas da quase-totalidade dos professores aconteceriam iguais às dos/das ouvintes da Rádio Ansiães?
Vitorino Almeida Ventura
1 comentário:
Bravo, amigo Vitorino! Mas podia ter acrescentado mais alguns "cegos" para a paulada, sei lá, talvez Emanuel, Marco Paulo, Toy (com "y", para dar mais força) e outros mais mav(f)iosos "cantores"!...
Um abraço amigo
mota
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