01 junho 2005

Dia Mundial da Criança (3) revisto

As comemorações em Carrazeda tiveram organização da Câmara Municipal local que, no âmbito do "Festival Internacional de Marionetas", promoveu um espectáculo de boa qualidade com a exibição de um casal belga que manuseou diversos bonecos, música e outros artifícios para encanto das crianças das escolas do concelho na Praça do Município. A "festa" incluiu ainda um lanche para cada criança e culminou com a largada de balões. Presente ainda uma equipa de televisão para reportar o acontecimento.
É sempre uma benção para os olhos ver a pequenada animada e concentrada na vila. Várias reflexões podem ser feitas neste dia.
São cada vez menos os nascidos nesta terra, pois decresce assustadoramente a natalidade local. Com o início da idade do trabalho é, então, uma sangria completa. A nossa terra não capta jovens, nem propicia aos naturais possibilidades de futuro. Triste sina!
Os novos tempos estão pejados de incertezas e preocupações para as nossas crianças. São elas a violência que sobre elas se expressa nas mais diversas matizes: a física, a falta de carinho, o contexto familiar, o trabalho infantil, a pedofilia, a fome, a miséria...
Mas abordamos outros que estão mesmo ao nosso lado e pouca importância lhe damos.
Expostos a um massacre diário da TV, que lhes incute maus hábitos entre os quais e os mais visíveis, os alimentares: a maioria dos anúncios televisionados refere-se a chocolates, cereais com acúcar, bolos, bolachas e fast-food, tudo produtos pouco interessantes numa dieta saudável. Na promoção dos produtos são usadas estratégias que apelam aos brindes, desenhos animados, mensagens em que a mãe e a escola estão bem presentes. Esta "pressão" terrível começa a ter as suas consequências - crianças mais gordas e com um potencial para contrair diabetes e doenças cardiovasculares. A obesidade infantil é já um problema sério de saúde pública.
Para quem educa as "nossas crianças" é cada vez mais uma tarefa difícil e, por vezes, sobre-humana. Os nossos alunos habituados a tudo terem, pois lhe são satisfeitos todos os caprichos por mais bizarros que sejam, não acatam a disciplina, o rigor e o sacrifício que tem de estar presente no acto de aprendizagem.
Os professores, na sala de aula, deparam-se diariamente com a impossibilidade de exigirem disciplina e até respeito pelo seu acto, pois tudo lhes é permitido. A exigência de trabalho e estudo esbarra, não poucas vezes, na complacência e desinteresse dos encarregados de educação. A valorização individual pela aquisição de conhecimento e a necessidade de formação é confrontada pelo facilitismo, a "cunha", o desemprego, a subsidio-dependência...
Por outro lado, a aprendizagem fora do contexto escolar dinâmica e pejada de nova tecnologia exposta nas televisões, nos computadores, nas consolas de jogos, esbarra com estabelecimentos escolares com fracos recursos, que se limitam às paredes, quadro negro, cadeiras, mesas e pouco mais.
À escola de hoje atribuem-se todos os papéis e todas as responsabilidades. A Escola (como todos os nela envolvidos bem sabem) é cada vez mais o veículo por onde tudo passa, por onde tudo se transmite, por onde todos os problemas se equacionam e têm de resolver. Deste modo, a Escola é tanto mais tudo, sobretudo quanto menos a sociedade de um modo geral e os agentes políticos em particular não têm soluções para os mesmos problemas que é suposto a Escola resolver. Esses dedos acusadores apontam os educadores que se vêem limitados pela falta de meios, incentivos e até saberes. Perante a impossibilidade fica o desânimo e a frustração dos actores educativos e são as crianças que ficam também sem os seus problemas resolvidos.
Nesta encruzilhada, compete a todos uma nova reflexão face ao que queremos para as nossas crianças e que formação lhes queremos dar.


Post Scriptum: Vão animadas as histórias infantis, aqui, no blogue. Quicá seja a maneira de trazermos a discussão, sempre bem-vinda, ao "Pensar Ansiães". Lamento a falta de coragem, de alguns, em esconder-se atrás do anonimato. Mas, se a troca de ideias se faz no domínio das redacções infantis, venham elas!

2 comentários:

Anónimo disse...

A ideia partiu do blogue, doutra forma tb não poderia ser. Ninguém, nem mesmo os pequeninos, tem tais ideias ...

Anónimo disse...

Talvez as crianças tenham ideias mais adultas e valorosas