As comemorações em Carrazeda tiveram organização da Câmara Municipal local que, no âmbito do "Festival Internacional de Marionetas", promoveu um espectáculo de boa qualidade com a exibição de um casal belga que manuseou diversos bonecos, música e outros artifícios para encanto das crianças das escolas do concelho na Praça do Município. A "festa" incluiu ainda um lanche para cada criança e culminou com a largada de balões. Presente ainda uma equipa de televisão para reportar o acontecimento.
É sempre uma benção para os olhos ver a pequenada animada e concentrada na vila. Várias reflexões podem ser feitas neste dia.
São cada vez menos os nascidos nesta terra, pois decresce assustadoramente a natalidade local. Com o início da idade do trabalho é, então, uma sangria completa. A nossa terra não capta jovens, nem propicia aos naturais possibilidades de futuro. Triste sina!
Os novos tempos estão pejados de incertezas e preocupações para as nossas crianças. São elas a violência que sobre elas se expressa nas mais diversas matizes: a física, a falta de carinho, o contexto familiar, o trabalho infantil, a pedofilia, a fome, a miséria...
Mas abordamos outros que estão mesmo ao nosso lado e pouca importância lhe damos.
Expostos a um massacre diário da TV, que lhes incute maus hábitos entre os quais e os mais visíveis, os alimentares: a maioria dos anúncios televisionados refere-se a chocolates, cereais com acúcar, bolos, bolachas e fast-food, tudo produtos pouco interessantes numa dieta saudável. Na promoção dos produtos são usadas estratégias que apelam aos brindes, desenhos animados, mensagens em que a mãe e a escola estão bem presentes. Esta "pressão" terrível começa a ter as suas consequências - crianças mais gordas e com um potencial para contrair diabetes e doenças cardiovasculares. A obesidade infantil é já um problema sério de saúde pública.
Para quem educa as "nossas crianças" é cada vez mais uma tarefa difícil e, por vezes, sobre-humana. Os nossos alunos habituados a tudo terem, pois lhe são satisfeitos todos os caprichos por mais bizarros que sejam, não acatam a disciplina, o rigor e o sacrifício que tem de estar presente no acto de aprendizagem.
Os professores, na sala de aula, deparam-se diariamente com a impossibilidade de exigirem disciplina e até respeito pelo seu acto, pois tudo lhes é permitido. A exigência de trabalho e estudo esbarra, não poucas vezes, na complacência e desinteresse dos encarregados de educação. A valorização individual pela aquisição de conhecimento e a necessidade de formação é confrontada pelo facilitismo, a "cunha", o desemprego, a subsidio-dependência...
Por outro lado, a aprendizagem fora do contexto escolar dinâmica e pejada de nova tecnologia exposta nas televisões, nos computadores, nas consolas de jogos, esbarra com estabelecimentos escolares com fracos recursos, que se limitam às paredes, quadro negro, cadeiras, mesas e pouco mais.
À escola de hoje atribuem-se todos os papéis e todas as responsabilidades. A Escola (como todos os nela envolvidos bem sabem) é cada vez mais o veículo por onde tudo passa, por onde tudo se transmite, por onde todos os problemas se equacionam e têm de resolver. Deste modo, a Escola é tanto mais tudo, sobretudo quanto menos a sociedade de um modo geral e os agentes políticos em particular não têm soluções para os mesmos problemas que é suposto a Escola resolver. Esses dedos acusadores apontam os educadores que se vêem limitados pela falta de meios, incentivos e até saberes. Perante a impossibilidade fica o desânimo e a frustração dos actores educativos e são as crianças que ficam também sem os seus problemas resolvidos.
Nesta encruzilhada, compete a todos uma nova reflexão face ao que queremos para as nossas crianças e que formação lhes queremos dar.
Post Scriptum: Vão animadas as histórias infantis, aqui, no blogue. Quicá seja a maneira de trazermos a discussão, sempre bem-vinda, ao "Pensar Ansiães". Lamento a falta de coragem, de alguns, em esconder-se atrás do anonimato. Mas, se a troca de ideias se faz no domínio das redacções infantis, venham elas!
2 comentários:
A ideia partiu do blogue, doutra forma tb não poderia ser. Ninguém, nem mesmo os pequeninos, tem tais ideias ...
Talvez as crianças tenham ideias mais adultas e valorosas
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