01 setembro 2015

Tempestade de verão ou conto de fadas

Uma tempestade de verão é sempre localizada, imprevista, assustadora, rápida e, não poucas vezes, danosa. A borrasca lançada por Paulo Rangel ao elogiar na universidade de verão do PSD o pretenso "ataque sério e consistente" feito nos últimos tempos à corrupção e à promiscuidade, de modo a trazer para o espaço da discussão política a natureza das investigações a Sócrates e a Ricardo Salgado. Isto é, elas só existirão porque, explica na sua crónica semanal do Público, a magistratura vive “imersa” numa “cultura” e num “ambiente” que os “influencia”. O “ar respirável” que agora viveremos deve-se ao programa de ajustamento que criou o clima de “moralização”, à atitude de Passos Coelho de “reserva e neutralidade” e ao desanuviamento da ministra da justiça pontuando o seu ministério pelo acento “na autonomia da investigação e da independência judicial”.
As tempestades de verão assemelham-se às narrativas da literatura fantástica pelo ambiente, imprevisibilidade, terror e danos associados, porém estas estão centrada em elementos não existentes ou não reconhecidos na realidade. A moralização trazida pelo ajustamento embica na subalternização do poder político face ao poder económico, no aumento da concentração da riqueza, na fratura social e na degradação dos sectores básicos e fundamentais, entre eles a justiça. A reserva e a neutralidade do primeiro-ministro embica nos seus ataques ao Tribunal Constitucional. A autonomia da investigação esbarra na diminuição dos funcionários, em menos tribunais (um deles o de Carrazeda) e num sistema informático caótico.

Esta narrativa fantástica, de heróis reconhecidos, tem um propósito, está perfeitamente localizada e transporta a pretensa moralidade dos contos de fada, o ódio a Sócrates e ao banqueiro imoral, para supostamente no fim os heróis se casarem e subirem ao trono.

4 comentários:

Anónimo disse...

Divertiu-me o modo como observa a intervenção do Dr. Paulo Rangel. O problema é que o Sr. Deputado Europeu mais do que ficcionar sobre o confronto entre o poder judicial e o poder politico, pretende influir na mente deprimida do nosso povinho, que sempre admira os Messias que vão aparecendo.
Eu que conheci este espécime no Liceu, onde embora marrão, era um introvertido, verifico agora que, com a prática politica e consequentes relações, se agigantou e tornou um líder de opinião, usando a verba e a demagogia. Só é pena que alguns, poucos, para alem da sua pedagogia trauliteira só pressintam flatulência e hipocrisia.

HR

Fernando Gouveia disse...

A intervenção do Sr. Rangel a propósito da Justiça e da sua pretensa independência em relação ao poder político levar-nos-ia muito longe. As contradições que o JAM apontou são apenas algumas, mas há outras, muito mais importantes e que tocam na forma como se exerce o poder neste país e na promiscuidade entre interesses públicos e privados. Todos sabemos que no Parlamento português abundam os advogados por cujos gabinetes passam muitos negócios públicos e privados. Um deputado que ainda tem tempo para fazer advocacia, é quase um milagre de multiplicação do tempo. Pois bem, muitos deles exercem abertamente como advogados; claro que não serão vistos nos tribunais e a sua marca em processos judiciais não será certamente notável. Mas são o que se costuma chamar advogados de negócios, cuja principal capacidade é a agenda de contactos para fazer prosperar os interesses que defendem.
O Sr. Rangel poderia, por exemplo, explicar como é que tem tempo, sendo deputado europeu e funcionando, por isso, em Bruxelas ou no Luxemburgo ou em Estrasburgo, para ainda exercer a advocacia, atividade pela qual recebe ume remuneração mensal média equivalente à de deputado europeu, e além disso, como consegue desdobrar-se para ainda ser professor universitário (remunerado) e colaborar como comentador em meios de comunicação social (com remuneração que não é assim tão simbólica)
Pois é isso que consta na sua declaração de interesses no Parlamento Europeu, para além de outros cargos de que, aparentemente, não receberá remuneração, como a Assemblais Geral da RAR e a Associação Comercial do Porto.

Fernando Gouveia disse...

A intervenção do Sr. Rangel a propósito da Justiça e da sua pretensa independência em relação ao poder político levar-nos-ia muito longe. As contradições que o JAM apontou são apenas algumas, mas há outras, muito mais importantes e que tocam na forma como se exerce o poder neste país e na promiscuidade entre interesses públicos e privados. Todos sabemos que no Parlamento português abundam os advogados por cujos gabinetes passam muitos negócios públicos e privados. Um deputado que ainda tem tempo para fazer advocacia, é quase um milagre de multiplicação do tempo. Pois bem, muitos deles exercem abertamente como advogados; claro que não serão vistos nos tribunais e a sua marca em processos judiciais não será certamente notável. Mas são o que se costuma chamar advogados de negócios, cuja principal capacidade é a agenda de contactos para fazer prosperar os interesses que defendem.
O Sr. Rangel poderia, por exemplo, explicar como é que tem tempo, sendo deputado europeu e funcionando, por isso, em Bruxelas ou no Luxemburgo ou em Estrasburgo, para ainda exercer a advocacia, atividade pela qual recebe ume remuneração mensal média equivalente à de deputado europeu, e além disso, como consegue desdobrar-se para ainda ser professor universitário (remunerado) e colaborar como comentador em meios de comunicação social (com remuneração que não é assim tão simbólica)
Pois é isso que consta na sua declaração de interesses no Parlamento Europeu, para além de outros cargos de que, aparentemente, não receberá remuneração, como a Assemblais Geral da RAR e a Associação Comercial do Porto.

Anónimo disse...

A intervenção do Sr. Rangel a propósito da Justiça e da sua pretensa independência em relação ao poder político levar-nos-ia muito longe. As contradições que o JAM apontou são apenas algumas, mas há outras, muito mais importantes e que tocam na forma como se exerce o poder neste país e na promiscuidade entre interesses públicos e privados. Todos sabemos que no Parlamento português abundam os advogados por cujos gabinetes passam muitos negócios públicos e privados. Um deputado que ainda tem tempo para fazer advocacia, é quase um milagre de multiplicação do tempo. Pois bem, muitos deles exercem abertamente como advogados; claro que não serão vistos nos tribunais e a sua marca em processos judiciais não será certamente notável. Mas são o que se costuma chamar advogados de negócios, cuja principal capacidade é a agenda de contactos para fazer prosperar os interesses que defendem.
O Sr. Rangel poderia, por exemplo, explicar como é que tem tempo, sendo deputado europeu e funcionando, por isso, em Bruxelas ou no Luxemburgo ou em Estrasburgo, para ainda exercer a advocacia, atividade pela qual recebe ume remuneração mensal média equivalente à de deputado europeu, e além disso, como consegue desdobrar-se para ainda ser professor universitário (remunerado) e colaborar como comentador em meios de comunicação social (com remuneração que não é assim tão simbólica)
Pois é isso que consta na sua declaração de interesses no Parlamento Europeu, para além de outros cargos de que, aparentemente, não receberá remuneração, como a Assemblais Geral da RAR e a Associação Comercial do Porto.

Fernando Gouveia