Que é dos sapos?
Dizem-me que tarda em chover e eu preocupo-me com os sapos.
Estes anfíbios costumavam aparecer com a chuva. Já alguém viu algum!? Se houvesse uma comparação possível entre um carrazedense como eu e um simples animal talvez a comparação pudesse ser com o sapo. Bicho inofensivo, como por exemplo o burro, que não precisa de ser carnívoro para se alimentar, o sapo é adulador mas também inofensivo. Quando enfuna é só para se ver enfunado, reflectido no charco. Não sei quais são os inimigos do sapo, mas dá a ideia que anda sempre assustado. Nem mesmo a pata do burro, que, quando desatento o pisa lhe dá a vontade de avançar mais rápido. O sapo não sobressai, vive na penumbra gramando a vida.
A falta de chuva preocupa outros, por outras razões. Por exemplo os nossos produtores de maçã, de certeza que recordam a última vez que choveu. De certeza que sonharam na altura com aquela ideia de haver maneira de se ter retido a água que correu em direcção ao rio. Para a rega das macieiras, só se justifica uma barragem de rega agrícola se não chove. Acreditemos então que a chuva chegará a tempo, para regar as macieiras e por tabela se criarão condições também para a protecção dos sapos. Contudo se a prioridade para mim e para os muitos ecologistas que os há, é a preservação da espécie – sapo, talvez se esteja a preparar para breve um ecossistema paradisíaco para eles. Refiro-me à edificação do Campo de Futebol do Carrazeda. Estou convencido de que naqueles intervalos em que o relvado estiver disponível, este será um paraíso para os nossos sapos de estimação.
Para finalizar procurei um poema adequado, mas não consegui encontrar nenhum que estabelecesse a relação entre macieiras e sapos.
Paciência.
Os Sapos
Manuel Bandeira, 1918
Enfunando os papos,
Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi: - "Meu pai foi à guerra!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado, Diz: - "Meu cancioneiro É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio.
Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas..."
Helder Carvalho
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