17 janeiro 2015

MUDANÇAS: João de Matos

Desde o início da vida humana na terra até aos nossos dias, muita água correu debaixo das pontes e muita água há-de continuar a correr. E, enquanto a água corre, muita coisa se vai alterando em nós e à nossa volta. Para facilitar e porque o homem já viveu milhares de anos, sempre direi que nunca, como nos últimos cem anos se viveu tão bem à superfície do nosso planeta. À medida que vamos recuando séculos na nossa história, facilmente constatamos que , ao recuar no tempo, o ser humano teve cada vez mais dificuldade em sobreviver. Viveu-se melhor no século XX que no XIX, no XIX que no XVIII, no XVIII que no XVII, etc..... No século XXI, começam a vislumbrar-se mudanças provocadas pela evolução da técnica, de tal monta que passámos a questionar-nos se os pensamentos até agora imperantes terão ou não validade no futuro. Sim. Por exemplo, até agora, a distribuição de rendimentos era feita pela remuneração do trabalho. A maior parte da humanidade , para ter dinheiro, tinha que trabalhar e recebia de acordo com o trabalho produzido. Sem trabalho, não havia dinheiro. Sem falar em que o esforço dispendido no trabalho é hoje muito menor que há uns tempos, começa a haver mais dificuldade em arranjar o precioso meio de obter rendimentos. A tecnologia tem-nos facilitado o trabalho mas também tem contribuído para que ele rareie. E se o que até aqui dignificava o homem( o trabalho) se tornar um bem escasso, que não chegue para todos? Depois de muita discussão, lutas e sofrimentos, com certeza que chegaremos à conclusão de ser necessário arranjar outro modo de distribuição dos rendimentos. Muito provavelmente chegará um momento em que teremos dinheiro sem termos tido necessidade de desenvolver qualquer esforço a que possamos chamar trabalho.
Como disse, muita água continua a correr debaixo das pontes. E correrá tanta que a nossa vida, hábitos, pensamentos e normas serão todos alterados.
Para quê e por quê sermos pessimistas? No curto prazo, teremos razões para sê-lo. No longo prazo, poderemos até ter motivos para ser muito optimistas.

João de Matos

2 comentários:

Anónimo disse...


: “Quem não trabuca não manduca”
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O tema é complexo e permito-me repescar as seguintes considerações:
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“Por exemplo, até gora a distribuição de rendimentos era feita pela remuneração do trabalho. A maior parte da humanidade, para ter dinheiro, tinha que trabalhar e recebia de acordo com o trabalho produzido. Sem trabalho, não havia (não há) dinheiro”.
“Muito provavelmente chegará um momento em que teremos dinheiro sem termos tido necessidade de desenvolver qualquer esforço a que possamos chamar trabalho”.
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O marxismo do movimento operário também não era nada bom na teoria da crise.
O que se explica, facilmente, se se puser o conceito e funções do capital financeiro em relação com o desenvolvimento do trabalho abstrato (que é a substância do capital), e se derivar a teoria da crise desta relação.
O valor económico do produto, que contém a mais-valia como fim em si mesmo do capital (segundo Marx), não é senão um “quantum” fetichizado de trabalho abstrato. Contudo, o desenvolvimento das forças produtivas, obtido pela pressão da concorrência, diminui constantemente a quantidade de trabalho por produto.
Ou seja, cada produto representa cada vez menos valor e, portanto, cada vez menos mais-valia (apesar das possíveis modificações internas na relação entre valor dos custos de produção e mais-valia).
Mas postular um crescimento constante, com o valor dos produtos constantemente reduzido até uma dose já apenas homeopática, então é de loucos.
Como consequência última (e absurda) todo o universo seria entulhado de mercadorias, só por amor da mais-valia (se bem que estas mercadorias se tornem "cada vez mais sem valor" do ponto de vista puramente económico).
Para lá de todos os ciclos conjunturais tem lugar um processo secular de desvalorização através do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas.
Daí que existe a dimensão mais profunda da crise para além das simples flutuações cíclicas.
Atrás da super acumulação cíclica espreita a super acumulação estrutural, através da qual são atingidos os limites internos objetivos do modo de produção.
A crescente importância estrutural da super estrutura do crédito financeiro é a forma de reação do sistema ao real processo de desvalorização, que avança pé ante pé.
O crédito em grande escala não significa, senão, a antecipação do valor ou da mais-valia ainda não produzida, que é lançada para um futuro cada vez mais longínquo.
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É a capitalização das expectativas.
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Este processo culmina com bolhas financeiras cada vez mais avançadas, essencialmente através do aumento especulativo do valor das ações (isto é, do preço dos simples títulos de propriedade) e do a ele associado "capital financeiro" (Marx).
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Escrevia-me um esclarecido Amigo:
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“Ora, uma vez que a sociedade está organizada em função desse valor (o trabalho), se se considerar que este valor desapareceu, torna-se necessária uma nova configuração social, a menos que se aceite o princípio cínico de que "quem não trabalha não come" e se aceite a alternativa da miséria em grande escala para fugir à questão da necessária modificação do modo de distribuição do rendimento” (Fernando Gouveia).
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A reflectir, pois.
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Unknown disse...

O meu caro amigo Carlos Fiúza foi sempre para mim um osso duro de roer. Pelo que escreve, claro está, e não pelo seu feitio , que é adorável. Ele tem uma formação cultural sólida, no que diz respeito à perspetiva histórica, ao conhecimento filosófico, linguístico e tudo o mais. Se eu tivesse metade da sua cultura, ficaria, de certo, com as ideias todas baralhadas e não diria coisa com coisa. Como me conheço, eu não me meto em metade das embrulhadas em que ele confiadamente se mete.
Uma das características de CF é que , para além de atualizado no seu saber, domina perfeitamente os clássicos, as ideias de todos os cérebros iluminados de todas as épocas históricas, e brande com os seus pensamentos com uma facilidade tal, que me deixa a mim terrivelmente embaraçado porque eu pretendo ter apenas umas noções fundamentais dos diversos pensares para depois misturar tudo e tentar, à luz da ciência moderna, chegar a conclusões, por vezes, ousadas, reconheço.
Neste caso, brandiu com as ideias marxistas, complicadas, inacessíveis mesmo à generalidade dos seres humanos. Eu, do marxismo, tenho apenas uns laivos de conceitos, que não levo à letra até porque os não domino.
A minha ideia é a de que um dia chegará a altura de pôr em causa tudo o que foi considerado inatacável até ao momento. E isso porque a tecnologia irá fazer com que as soluções vigentes se desatualizarão e exigirão novas soluções capazes de permitirem o aproveitamento, em prol de todos, dos avanços encontrados.
Penso mesmo que, com as soluções atuais, a sociedade, a economia em particular, não conseguirá funcionar, dando-se um bloqueio de todo o sistema.
As mudanças serão impostas, não apenas por razões de justiça, mas sobretudo por razões de necessidade de funcionamento oleado de todo o sistema económico e social.